segunda-feira, 29 de novembro de 2010

AMOR AO PRÓXIMO

Uma missa. O padre fazia o sermão da noite de domingo. O tema era simples e falava da necessidade de se amar ao próximo. Amar sem olhar a quem. Num canto recuado da pequena igreja Quitéria escutava. Ao seu lado via-se entreaberta a porta que dava do templo para a sacristia e dessa para a casa paroquial.

Todos os fiéis escutavam em silêncio a peroração. Ela parecia agir nos seus inconscientes coletivos. No outro lado, um pequeno coro de jovens esperava o momento de entoar os cânticos sacros.

Depois do sermão, deu-se continuidade à missa. Nesse instante Quitéria, como sempre fazia, começou a coletar os dízimos dos fiéis. Terminando o trabalho retornou para seu lugar, ajoelhou-se, benzeu-se e após prolongado suspiro encaminhou o corpo para a sacristia. Lá fez a contagem do dinheiro e colocou o apurado sobre a mesa de trabalho do padre. Depois saiu do local.

O fim da missa marcou também o fim da reflexão inconsciente coletiva e sua ligação direta com o amemos ao próximo como a nós mesmos. “Seu” Serapião, o dono do supermercado, saiu da igreja empurrando os demais e ignorando o pedido de esmola de um mendigo. Silvinha e Edivane deram-se as mãos e sorriram uma para a outra. A primeira sussurra no ouvido da segunda que está muito disposta nessa noite domingueira e que ambas podem seguir a máxima de se amar uma a outra.

“Dona” Margarida procura com os olhos o marido de “dona” Carmen e quando os olhos dos dois se encontram ela sabe que ele a irá visitar ainda naquela noite e satisfazer o seu amor ao próximo. Pedro e Letícia passam os braços em torno de suas cinturas e saem em busca de algum lugar penumbroso próximo da igreja, onde se abraçam e começam a se acariciar sem nenhuma sutileza.

São exatamente 20 horas. As ruas do bairro de Areias começam a se esvaziar perto da igreja. Dois bares abertos atraem alguns grupos de jovens, entre moças e rapazes, ao som de um forró pé-de-serra. Outros casais, desligados dos acontecimentos do mundo encaminham os corpos para as poltronas de casa, ligam a TV e esquecem a vida.

Na casa paroquial, o padre Clemente, depois de guardar o apurado dos dízimos dominicais, toma banho, e totalmente nu dirige-se ao quarto, onde, na cama perfumada e nua ela se acha à sua espera.

O padre apaga a luz. Com o abraço do homem e o enovelar de corpo contra corpo, escutam-se apenas os gemidos de prazer de Quitéria dentro da noite.

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