segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NO CAMINHO DOS GUARDIÕES DE PEDRA


Deixei os amigos no bar perto de meia-noite. Tinha de pegar logo o ônibus bacurau para não ficar “vadiando” dentro do espaço noturno e vazio da cidade. O centro do Recife estava praticamente sem movimento. Alguns notívagos iam e vinham apressados para alcançar os últimos ônibus em caminho de seus bairros. Mulheres da vida passavam, para lá e para cá, tentando, com seus atributos, fisgar algum macho recalcitrante de voltar para casa, mas quase nada acontecia. Perto de alcançar a Avenida Dantas Barreto, vi o meu ônibus zarpando. O palavrão saiu sonoro, curto e grosso. Porra!

E agora? Sem dinheiro para um táxi resta ficar na rua e esperar o nascer do dia. Retornei até o bar do Gordo na Rua da Roda com a esperança de ainda achar alguns dos amigos da farra. Ninguém! Os poucos boêmios ali existentes estavam quase todos bêbados, alguns a papear com as putas remanescentes na área. Quem sabe a regatear preços por umas horas de paixão?

Saindo da Rua da Roda peguei a Avenida Guararapes. Estava um tanto na escuridão. Mas, em frente ao que era antes o Bar Savoy, um homem de idade indefinida apanhava com cuidado livros e revistas pelo chão e os colocava em um saco de lona. Era um sebo pessoal e rudimentar. Estava a recolher os livros. Olhou para mim. “Movimento péssimo”, disse. “Ninguém gosta mais de ler”. Pus meus olhos em um livro de versos que estava em suas mãos. Capa envelhecida pelo tempo. “Gosta de poesia?”, perguntou, estendendo-me o livro.

“Tempo da Busca?”, perguntei. “Quem é o autor?” Mas o dono de tantos livros tinha sumido entre o espaço de duas colunas do calçadão da Guararapes e estava um pouco distante, escondido, a urinar. “O rapaz parece que perdeu o último ônibus, né? Fique com esse livro para passar a noite”. Disse isso e sem mais nada puxou a lona, onde guardara os livros restantes, dobrou com a maior rapidez, jogou nas costas e saiu andando apressadamente para os lados do bairro da Boa Vista. “Não durma pra não roubarem sua vida, moço” disse, quase gritando, sumindo na calada da noite.

Saí a caminhar com o pequeno livro preso embaixo do sovaco esquerdo para poder acender um cigarro. A cidade agora estava praticamente morta. Ainda com a cabeça “cheia” das cervejas que bebera nem prestei atenção nisso. Voltei a segurar o livro com a mão direita e tentei ler o nome do autor na capa. Não tinha. Só o titulo aparecia. “Bom, ao menos tenho algo para passar o tempo. Vamos ver se presta”, refleti.

Sentei-me em um banco da praça da Independência, logo em frente à igreja matriz de Santo Antônio e comecei a folhear o exemplar. A página que devia conter o nome do autor não existia, logo a seguir vinha a página com o titulo Tempo de Busca. “Bom, minha vida está realmente nesse estilo bisonho de buscar o tudo e ganhar o nada. Vamos ler”. Na fraca luz noturna a iluminar a praça forcei a visão (“eu quase te busquei entre os bambus / para o encontro campestre de janeiro / porém, arisca que és, logo supus / que há muito já compunhas fevereiro”).

O texto alcançou fundo meu espírito (“dispersei-me na curva como a luz / do sol que agora estanca-se no outeiro / e assim também, meu sonho se reduz / de encontro ao obstáculo primeiro”), mas o cansaço foi mais forte. A luz fraca da rua não ajudava em nada e assim meu corpo arriou para o lado e eu deitei-me no grande pilar que cercava o jardim da praça. Adormeci.

O frio da madrugada pegou meu corpo em desespero. Acordei apavorado. Olhei para todos os lados. “Porra! Perdi o ônibus!” lamentei em voz alta. Uma figura grande ao meu lado, bateu em meus ombros. Olhei o enorme homem de chapéu panamá ali sentado a pôr o dedo indicador na boca pedindo silêncio. Tentei falar, mas sua enorme mão tapou minha boca. O medo de estar sofrendo um assalto tomou conta de mim, mas olhando ao redor vi alguns homens sentados em volta de uma mesa, bebendo e escutando alguém mais jovem falar.

- Vamos ter calma que ela pode aparecer.

De repente todos os olhos pousaram em mim

- Olhem, o rapaz do livro acordou. Seja bem-vindo, moço. Parece que você perdeu o transporte da noite, não foi?

Eram seis homens. Na mesa, cigarros, copos cheios e outros vazios, uma garrafa térmica com café, uma de conhaque Dreher com o líquido pela metade e outra sem rótulo cheia de um liquido verde(??). Todos viram onde eu estava pondo os olhos. O grandalhão de chapéu berrou numa voz tonitruante a quebrar o silêncio da madrugada:

- Quer tomar uma com a gente? Fica à vontade, rapaz!

O mais calmo, parecia mesmo aquele cujo olhar estava perdido no vazio. Foi dele a atitude de encher um pequeno copo com o líquido verde(?) e me oferecer, dizendo:

- Serve para brigar com o frio. Beba!

Derrubei de um só trago a bebida e senti o estômago pegar fogo. Os homens riram. Pus-me a tossir, o que motivou um tremendo tapa nas costas dada pelo grandalhão de chapéu. Quase que meu corpo se estatela no chão.

Passado o acesso de tosse voltei a olhar para os seis, mas eles estavam como se sussurrando uns a outros. Escutei o mais moço falar:

- Não são todos que podem vir. Você sabe disso, Mauro. Os espíritos das pedras de alguns estão em espaços outros, mais distantes. Seria bom que Clarice viesse, bem como os outros... O Solano, principalmente. O Antônio... Com esse temos coisa para discutir.

- Sei disso, Carlos – observou o homem chamado Mauro – Nós prendemos nossos átomos nas pedras desta cidade. Eles não.

O homem de chapéu panamá, porém, não estava satisfeito.

- Vocês falam do Maria. Eu queria mesmo era discutir um assunto com o Trindade...

- Essa história você já discutiu conosco outro dia, Ascenso.

- Podíamos fazer uma corrente mental e trazer o homem aqui. Não me conformo com aquele poema do trem. Apenas um de nós devia ter um poema falando de trem. Eu...

- Ora, Ascenso! Poetas são livres de pensamento e de temas. Não se pode prender um tema em um só poeta.

O grandalhão de chapéu panamá olhou para quem tinha falado e redargüiu:

- Meu caro Manuel, isso é porque você não coloca ponto, vírgula nem reticência no que escreve. Eu coloco aspas nisso. Mantenho o que disse. Devia ser escrito apenas um poema de trem. O meu andava pelos canaviais e o dele...

- O dele tratava da fome. Isso não quer dizer que ele estivesse copiando o seu.

- Não digo que copiava. Queria discutir o tema e as onomatopéias, quando a gente recita e cria o mesmo ritmo e som como de um trem. Vocês entendem, não?

- Eu? Eu gostaria de entender mais sobre isso... – exclamou Manuel a tentar conter o riso – Tentei de tudo lá em Pasárgada e nada aconteceu. Mas, voltando ao assunto dos espíritos de pedra...

- Manuel, nós já discutimos o seu caso na outra noite, lembra?

- Sei disso, mas não é por causa de a casa do meu avô estar situada logo ali perto que eu tenho de estar aqui. Passei a maior parte de minha vida no Rio de Janeiro. Entender essa história é bastante complicado.

- Foi o espírito da cidade, Manuel – disse o homem chamado Carlos - Você evocou demais o espírito da cidade. Assim, você tem a oportunidade de ficar por aqui. Igual ao resto de nós. Como o Joaquim, aqui presente, que também evocou demais o espírito da cidade.

O homem chamado Joaquim sorriu.

- É exatamente como o Carlos diz. Evoquei a cidade em quase todos os momentos de meus versos. Nem as igrejas escaparam.

De repente fiquei todo arrepiado. Estava a viver uma situação surreal. No inicio de uma fria madrugada ao lado de um grupo de poetas mortos. Devia estar sonhando. Dei um forte beliscão num dos braços. A dor me fez soltar um gemido. O braço do Ascenso passou por cima de meus ombros e lá ficou como se nada mais tivesse a fazer.

- Ah, ah, ah! – escutei a risada sonora e grave do poeta – Ele pensa que está sonhando. Rapaz, o que está acontecendo aqui é real, visse? Não é nenhuma sociedade de poetas mortos não. Aliás, meu amigo, só estamos mortos por acaso. Vivemos na pedra e no tempo que envolve a pedra.

– Não, não precisa falar nada. Mas pode participar. A gente se reúne aqui duas vezes por ano. Discutimos o tempo. Isso mesmo, como o Ascenso falou – redargüiu Mauro.

– O tempo? Como diz o título desse livro aqui? – perguntei.

Mauro chegou perto, pegou o livro de minhas mãos, leu o título e mostrou a Carlos. Este sorriu.

– Pode até ser, meu caro amigo. Mas estamos discutindo o tempo da cidade. O tempo real.

– Nada a ver com o tempo absoluto – disse Joaquim – Esse é uma questão matemática.

Reconheci todos eles. Mesmo que a luz da praça estivesse nebulosa pude vê-los. Carlos Pena, Mauro Mota, Ascenso Ferreira, Joaquim Cardoso, Manuel Bandeira e Capiba, que ainda nada tinha falado e que se achava mais distante, apenas acenando de vez em quando com a cabeça.

– Não consigo acreditar....

– Por que não, rapaz? Claro que já morremos há um bom tempo. Mas isso não impede que vivamos na pedra e de vez quando sejamos passantes notívagos por aqui. Afinal de contas, somos os guardiões poéticos do Recife, não somos?

– Exatamente, Ascenso. Mas esse negócio de ficar na pedra naquele lugar onde me puseram já começa a me incomodar.

– Lá vem mestre Capiba reclamar...

– Ele tem um pouco de razão. Isso ele tem! – falou Bandeira – Afinal ele era e ainda é um carnavalesco.

– Exatamente, Manuel! E todo ano no carnaval, quando o Galo da Madrugada aparece é aquela multidão... E não me respeitam! Já colocaram até banheiro público na minha frente. Outra vez fizeram um tapume e nada pude ver. Isso é um insulto. É intolerável!

– Imagina você! – quase grita Bandeira - Poucos ligam para esse negócio de estátua. Por falar nisso Mauro, aquele teu amigo que fica ali mais adiante na praça... o que tem um busto de metal...

–Ah, sim. O Antônio Camelo. Comandou o Diário de Pernambuco depois de mim.

– Tiveram a “bondade” de deixar o coitado míope – explicou Capiba – Roubaram até os óculos dele.

– Olhem... – disse Carlos – Não estou generalizando. Mas esse negócio de ser pedra aqui no Recife não é bom pra saúde. Na semana passada umas madames da noite até sentaram no meu colo e começaram a passar batom em mim. Se pudesse tinha feito outra coisa com elas.

– Ainda bem que só passaram batom... – redarguiu Bandeira – Cagaram bem juntinho de mim outro dia. Fiquei com um fedor dos diabos. E levaram três dias para limpar toda aquela porcaria.

Mauro devolveu o livro para mim. O exemplar tinha passado de mão em mão. Coloquei no bolso da calça jeans para não perder ou me escapar de novo.

– Queria lembrar também uma coisa – disse Ascenso com sua voz tonitruante – Alguns cheira-colas estão a me fazer de guardião das coisas deles lá no cais da Alfândega. Até no meu chapéu eles colocam os tubos.

– Você tem sorte. Ao menos pode cheirar outra coisa que não seja merda – riu Bandeira.

Olhei para eles e fiz um sinal. Todos puseram os olhos em mim. Ascenso falou, quase gritando:

– Fale logo que o tempo é curto!

– Mas e os outros poetas mortos do Recife? Por que não estão como guardiões de pedra por aqui?

Eles sorriram uns a outros. Mauro Mota pegou meu braço e fez com que eu ficasse no centro deles.

– Sei onde você quer chegar. Em nossa primeira reunião discutimos isso. É questão de lembrança mesmo. Às vezes, simplesmente, por falta de conhecimento de quem pensa que tem conhecimento.

– Isso! O Mauro disse certo! Sou mais pela falta de conhecimento – falou Capiba.

– Outros que já foram? Nós falamos sobre eles, sim. O Eugênio Coimbra Júnior, por exemplo...

– E os outros também deviam se tornar guardiões da cidade? Não acha, Bandeira?

– De quais outros falas? Vamos ver se tu lembras. Diga nomes, caríssimo Mauro.

– Que tal Audálio Alves, Edmir Domingues, Jorge Wanderley?

– Não brinca com a memória do Mauro, Bandeira!

– Muito bom. Tem até um poema do Audálio muito bonito...

– Ah....

- Será que recordas os versos, Ascenso?

– Do Audálio? Claro! – quase gritou o poeta – Claro que lembro!

– Diz!

– Ao vestir-me de branco, ressuscito / a glória de meu pai - a de ser puro: / a sua barba aproximando os seres / como um lírio de paz ou de sossego.

– ........que beleza! Continua! – aplaudiu Mauro.

– Meu porte branco e o porte do passado / passeiam nesta tarde paralelos, / conquanto este sorriso não complete / aquele que de amor deixou meu pai.

– Eu gostaria de... – tentou interromper Capiba.

– Deixa o Ascenso acabar, depois você fala! – reclamou Joaquim.

– Meu pai guardou-se em mim. E permanece / na alvura natural de minhas vestes / exposto ao sol, ao sono e ao desespero. /// Em breve passaremos já cansados, / deste meu corpo ao corpo de meu filho / — ambos nele por fim ressuscitados.

– Maravilha! Muito bom! – exclamou Carlos Pena – Vale a pena te escutar, Ascenso.

– Posso falar agora? – pediu Capiba.

– Fica à vontade, homem! – tonitruou Ascenso.

– Já ouviram falar de Medeiros e Albuquerque? Acho que ele também merecia ser guardião da cidade como nós.

– Claro! E faria boa companhia a você, caro Lourenço. O Medeiros não é aquele da letra do hino da Proclamação da República?

– Ele mesmo! Mas tem poemas bonitos também.

– Fala Capiba. Recita.

– Não sou muito bom nisso.

– Se foi você que lembrou...

– Tá certo... Escutem: 'Velas fugindo pelo mar em fora… / Velas… pontos - depois … depois vazia / a curva azul do mar onde, sonora, / canta do vento a triste psalmodia… /// Partem pandas e brancas… Vem a aurora / e vem a noite após, muda e sombria… / E, se em porto distante a frota ancora, / é p’ra partir de novo em outro dia… /// Assim as ilusões. Chegam, garbosas, / palpitam sonhos, desabrocham rosas / na esteira azul das peregrinas frotas… / Chegam… Ancoram n‘alma um só momento; / logo, as velas abrindo, amplas ao vento, / fogem p’ra longe a solidões remotas".

– A madrugada está valendo cada minuto! Mas olha, estamos a esquecer o nosso amigo. Vejam como ele está de boca aberta.

– Estupendo! – exclamei – Estupendo! Isso não pode está acontecendo comigo! Não pode!

– Rapaz! Entre o irreal e a realidade existe uma ponte segura. Claro que pode! Pode! – falou Manuel Bandeira.

– Não desdiga o poeta de Pasárgada. Não desdiga! – disse Carlos Pena, rindo.

– Tantos outros poderiam ser guardiões desta cidade. Uma cidade que precisa de mais memória. E a memória dos seus poetas passa e nem chega ao conhecimento dos mais jovens.

– Exatamente! – exclamei – São poucos os que conhecem os poetas do Recife e de Pernambuco.

– Você conhece algum que a gente não conheça, rapaz?

– Acho difícil que vocês não conheçam...

– Diga o nome de um. Só um! – pediu Joaquim Cardoso.

– Que tal o Olegário Mariano?

– Esse todos nós conhecemos. Sabe algum poema dele?

– Claro que deve saber! Tem de saber! – gritou Ascenso – Se disse o nome do poeta deve saber algum poema dele. Fala!

– Vamos lá! Fala para a gente! Diz! Canta! – pediram Bandeira e Capiba ao mesmo tempo.

Tomei coragem e trouxe à mente o único soneto que sabia do Olegário:

– "Renunciar. Todo o bem que a vida trouxe, / toda a expressão do humano sofrimento. / A gente esquece assim como se fosse / um vôo de andorinha em céu nevoento. /// Anoiteceu de súbito. Acabou-se / tudo... A miragem do deslumbramento... / Se a vida que rolou no esquecimento / era doce, a saudade inda é mais doce. /// Sofre de ânimo forte, alma intranqüila! / Resume na lembrança de um momento / teu amor. Olha a noite: ele cintila. /// Que o grande amor, quando a renúncia o invade / fica mais puro porque é pensamento, / fica muito maior porque é saudade".

– Muito bom, rapaz! Muito bom! Gostei de ver! – disse Ascenso, entusiasmado a me abraçar e apertar – Vamos tomar umas lapadas pra espantar o frio.

– Que bebida é essa que parece de cor verde? – perguntei.

– Cor verde? Alguém aqui viu uma bebida de cor verde? – perguntou, rindo, Mauro Mota.

– Deve ser essa de cor azulada e meio roxa. É essa? – inquiriu Cardoso.

– É essa, mas estou vendo na cor verde – falei.

– Isso é absinto, rapaz. Beba com cuidado. Ou prefere este conhaque?

– Gente, o dia está quase nascendo – lembrou Carlos Pena – Vamos resolver logo isso de uma vez por todas. Quando será a próxima vez?

Reuniram-se todos em círculo e me deixaram de lado. Após alguns minutos voltaram a me olhar.

– Ainda não, Ascenso. Agora não. Ele ainda é de carne e osso. Não é hora.

– Existem outros, caro rapaz. Muitos outros. São os anônimos das calçadas, os poetas dos bares. São os independentes. São aqueles que tentam gritar a favor da multidão, mas que o sistema faz calar. Sinto que você é um deles – falou Ascenso Ferreira, colocando uma das suas grandes mãos sobre meu ombro.

– Todos deveriam ter suas estátuas de pedra – falei – Todos deveriam também ser guardiões.

– Claro, meu amigo – disse Mauro ao meu lado – Mas não é fácil ser estátua e ver o que se passa na cidade.

– A sujeira! A violência! A falta de educação! A manipulação! A ilusão ofertada ao povo pelos governantes... – continuou Cardoso

– Você não iria gostar de participar disso e não ter condições de fazer nada.

– Ser uma testemunha de pedra é uma merda! – falou Ascenso Ferreira.

Sentei sobre o pilar da praça e senti-me invadido por uma modorra. Os poetas estavam a olhar fixamente para mim. Aos poucos fui mergulhando num sono profundo.

O quente sol da manhã me trouxe de volta à realidade. Carros, ônibus, barulho. Homens, mulheres, mendigos, camelôs começavam a tomar conta das ruas. Levantei-me de um pulo. Olhei para os lados e para a estátua do poeta Carlos Pena Filho. Dura e pétrea.

– Que sonho! – pensei – Coisa louca!

Na Avenida Dantas Barreto peguei um ônibus e comecei o retorno para casa. O dia era um sábado. Ao pôr as mãos no bolso esquerdo da calça jeans senti o pequeno livro. Sentei-me num dos bancos do ônibus, peguei o exemplar e o abri.

Tempo da Busca, dizia a página inicial. Passei para a seguinte e lá estava a dedicatória assinada por Carlos Pena (o autor), e mais por Ascenso Ferreira, Manuel Bandeira, Joaquim Cardoso, Lourenço Barbosa e Mauro Mota:

“Caro amigo Rafael. Um dia a história poderá ser repetida, mas com você e outros do seu tempo ao nosso lado na pedra, como novos guardiões desta bela cidade. Continue seu tempo de busca. Ele deverá ser longo. Aceite nossos abraços.”.

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Obs - Neste conto estão inseridos o SONETO DE LINHAGEM (Audálio Alves), RENÚNCIA (Olegário Mariano) e ILUSÕES (Medeiros e Albuquerque).

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