Para que alguém se sinta superior outros devem sentir-se inferiores. Neste mês em que o planeta inteiro faz jactância entre nações sobre a força de seus atletas em uma Olimpíada, esta frase é emblemática. Na realidade, essa é a filosofia onde se incrementa o chamado bullying esportivo em todos os atletas e nações que participam das diversas competições. Sim, porque a intenção maior de todos os participantes é a de se sobrepor uns aos outros através dos esportes.
Observemos e analisemos friamente. Desde que os Jogos Olímpicos foram criados, lá para o fim do século XIX, sempre aparecem apenas três ou dois países monopolizando as medalhas. A quantidade de medalhas que tais países conquistam mostra o poderio de cada um deles. E, sejamos realistas, dentro da geopolítica do mundo esse poderio nada têm a ver com o enaltecimento do espírito esportivo e da capacidade humana de ultrapassar os próprios limites. Tem a ver, sim, e muito: mostrar o poder de uma nação ao resto do mundo! Essa é a verdade.
Os atletas dessas poderosas nações estão na disputa como meros joguetes de uma ideologia política e são garotos-propaganda de grandes marcas. China e Estados Unidos lideram o pódio? Não é novidade alguma! Quais as duas nações mais poderosas do mundo de hoje? Grã-Bretanha em terceiro? Aconteceu algo errado? Não! Tudo caminha dentro do figurino, e para os próximos quatro anos as conquistas deste ano de 2012 vão mostrar quais nações ditarão as regras do jogo na geopolítica mundial.
E o Brasil deverá ficar satisfeito se conseguir, no máximo, dez ou doze medalhinhas. Sim! E como poderemos ser respeitados dentro da geopolítica do planeta com esse número mixuruca de medalhas? Até vaiados nos campos ingleses estamos sendo. Tornou-se moda por lá. Mas o que dizer de um país como o nosso onde a educação física não é mais obrigatória nas escolas? Um país que trata a educação apenas como algo para ser tolerado merece medalha?
E ainda aparecem aqueles a falar: “o que vale é competir”. Incorporou-se na genética brasileira o gosto de ver o lado bom em qualquer tragédia. Isso é complexo de vira-lata. Isso é acomodação. Lamentamos o que perdemos e queremos que o resto do planeta sinta pena de nós. Tanta gente não diz que deus é brasileiro? Só falta dizer que essas faltas de conquistas esportivas são desígnios divinos, ou seja, “foi porque deus quis”. Ainda vão mais longe tentando retirar o mérito de quem nos vence: “aconteceu um apagão". Sempre que qualquer esportista ou esportistas do Brasil perde é "apagão". Nunca a grande mídia diz que é porque os outros foram melhores. A mania nacional é que só perdemos porque deu "apagão", ou seja, nunca perdemos por mérito dos outros.
A falta de educação adequada, a falta de incentivo governamental, o comodismo e a famosa lei de Gerson tornaram-se fatores preponderantes dentro de nossa nação e do nosso traço de personalidade. No dia em que algo ou alguém resolva inverter esses quesitos, tornando a educação física disciplina obrigatória no currículo das escolas, deixando de acreditar que educar maciçamente o povo em todos os sentidos seja apenas algo a ser tolerado, mas sim que deve ser o maior dos princípios dentro de nossa nação, talvez possamos impor respeito às outras nações em quaisquer disputas olímpicas. Mas até que essa revolução de costumes aconteça e até que seja mudada a forma de governar, continuaremos a lamentar e a justificar como "apagão" as derrotas que acontecem no âmbito de nossa vida esportiva.