segunda-feira, 24 de outubro de 2011

TEMPO MARCADO

Quando a gente se achar por essas ruas do mundo
O que irá rolar?
Serão águas deslizando de cascatas gigantescas
Ou um pequeno rio correndo para o mar?

Quando meus olhos olharem dentro de teus olhos
O que irão falar?
Dirão talvez que teus piscares e olhares
Querem me decifrar?

Quando meus dedos enlaçarem os teus dedos
Como irão se apertar?
Esquentarão palma a palma as duas mãos
Para não acenar

Aquele adeus que se apresenta sempre perto
Querendo ser distante.
Duas mãos enlaçadas fazem um sonho irreal
Tornar-se delirante.

E assim a vida marca outra vida por esse caminho
De corpo e de olhos e de mãos.
Marcando horas e minutos esperados nesse tempo
Mesmo que sejam vãos.

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@ Copyright by Rafael Rocha - Recife, 23 de outubro de 2011

sábado, 22 de outubro de 2011

DESATINO NOTURNO

Dance a vida nas ruas e nas mesas dos bares
Onde o meu novo poema possa renascer.
Dance vestida com as cores de todos os lugares
E traga novos e confusos lupanares
Mulheres para me enriquecer.

A música traga a paixão junto com a bebida
E que o sabor da cerveja no ritmo selvagem
Faça a mais feia mulher tornar-se embevecida
E linda e disposta a usufruir a vida
Insinuando mais coragem.

Assim a noite fica mais ampla e risonha
E mesmo bêbado de música e de algaravias
A paixão estimule a alma de quem sonha
E que no meu verso bêbado ela ponha
As luxúrias ainda que tardias.

E no sumir das trevas ao sol beligerante
Inimigo dos noturnos e quentes suores
Una em um leito os corpos recalcitrantes
No ir e vir que jamais serão bastantes
À reinação dos amores.

Na mesa do bar fique marcado o destino
Do homem e da mulher ainda a saber
No sol do outro dia quanto deu em desatino
O tudo que dançamos bêbados sob o hino
Da loucura de viver.

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@Coyright by Rafael Rocha - Recife, 21 de outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

PALAVRA

Dentro em mim a palavra canta livre e profana
O momento dos acasos. E nas coisas da memória
Vivem fracassos também feitos na história
Dos amores, risos e tristezas. Hoje tudo engana.

Nas incertezas mais cruéis desta lide insana
Ao ser poeta menor buscava minha glória.
Hoje no poente da vida a alma merencória
Descobre no mundo sua perdição tirana.

E lembranças guardadas já desaparecem
Levando os paradoxos cheios de ideias
Visando novos rumos aos que me esquecem

Nas névoas do futuro sem sonhos e epopeias
Nos fatos e nas fotos que ainda enriquecem
As livres palavras das minhas odisseias.

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@Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife 15 de outubro de 2011

DESCONHECIMENTO

Como vou conhecer melhor o abandono
Se a morte enche de terror as madrugadas?
Ainda que sejam coisas exageradas
Estão presentes. São inimigas de meu sono.

O garçom enche o copo e eu abro alas
Olhando ao derredor como se dono
Do prazer de viver espantasse o outono
Desta vida cortejada em falsas falas.

Ninguém olha e eu brindo em segredo
Ao delírio causador do grande medo
De partir para o inexorável nada.

E quando o bar fecha as portas eu lamento:
Pena não saibam os sóbrios o sentimento
Do bêbado a dormir sorrindo na calçada.

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@Copyright by Rafael Rocha - 15 de outubro de 2011

OUTUBRO 2011

Outubro! Tempo houve em que sonhos perturbavam
À vista de mim! À vista de todos! Tempo em que sonhava
E nem vi o tempo passando com tanta inexorabilidade
E os sonhos perturbadores tornando-se fantasmas.
Outubro! Tempo de minha espreita a sorrisos vários
De amigos, dos irmãos, pais, tios e tias e mais pessoas.
Meu tempo suprimia a saudade e vivia célere nas ruas.
Nem o vi transformando-se em um nevoeiro de passado.

A vida criou reinações nos quintais e nas ruas da cidade.
Rolou e pintou e bordou minha história para todo lado.
Não deu tempo para o corpo satisfazer a vontade feliz
De estar moço e são e vivo e vivendo longe da desembocadura.
A vida fez-se um rio depois dos quarenta anos e mostrou
Um caminho alongado cheio de pedras, cantares e enigmas.
E de repente agora estou vendo a aproximação do oceano
E a foz para onde as águas caminham precipitadas.

Outubro de 2011! Não mais sonhos perturbam o pensar
À vista de mim! Muitos deixaram de pensar e partiram
Dentro da inexorabilidade do tempo de cada um deles.
Tornaram-se mais do que fantasmas. Deixaram de ser.
Outubro de 2011! São tristes os sorrisos dos que aqui estão.
Os rios que sobraram e que ainda não viram sua foz.
E eu mesmo não mais posso suprimir as saudades do antes.
Hoje elas habitam em mim como fantasmas do passado.

Um dia (quiçá num outubro) estarei consumido e morto.
E ninguém imaginará como eu gritei versos à eternidade.
Nada imaginará como eu pude ser este teorema absurdo
Posto num espaço chamado Pernambuco capital Recife.
Mas seria interessante doar um fruto de outubro novo
A quem soube saber quem eu era e quem eu não era.
Ainda que saiba o quanto o poeta enganou ao homem
E o quanto o homem enganou a realidade do poeta.

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@Copyright by Rafael Rocha - 15 de outubro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

COISAS DE PENSAR

Se pensar preenche lacunas
Um homem se olha de viés
E destroça a casa dos sonhos
E pisa uma rosa aos seus pés.

Só pensar faz o passado vivo
Com a ideia de ser outra vez
No impossível laivo do futuro
Que o presente ilude mês a mês.

E dia e hora e minutos, gesto
Do que é já foi e sendo não será
Um somatório agregado ao sempre
Apenasmente não reviverá.

E pensar traz o iludível da memória
E a busca interrompida no jardim
De uma flor extinta e repelida
Pelo status do ouro mais afim.

Para todo final é sempre o mesmo
Recomeço de histórias passageiras
Que o pensar traz subitamente
Como a possibilitar suas quimeras.

E cria a indecisão da vida:
Entre dois amores há esperança?
Ninguém nota: dentro do corpo adulto
Baila sempre uma alma de criança.

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@ Copyright Rafael Rocha Neto – 1984

RITMO DA ETERNIDADE

O sol da carne é transparente
Circundando uma teoria interrompida
No quadro-negro da vida.

A lua da carne é poeira inexistente
Circundando uma hipótese tramada
No papel das leis genéticas.

As estrelas da carne são ruas vazias
Circundando uma lição desaprendida
Nas evoluções das leis universais

Sol, lua e estrelas...
Nas leis de suas gravidades
Circundam meteoros e cometas
E os átomos dos que se foram
Abençoados pelos criadores de deuses
Homens e raças
Sangue e seiva
Espelhos elevados à eternidade.

Por omnia saecula:
Eis a verdade!

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@ Copyright Rafael Rocha Neto – 1984

PARTIDA

Ao tempo do ato corpóreo do amor
Andarei como um mendigo
Solicitando a todo vão momento
A dádiva que teu corpo liquefez

Em água e ar e ventos frios
Obrigando-me a criar velhos paradoxos
Direi o sonho em velada forma maliciosa
Ao passeio triste do teu último sorriso.

Velho molusco adormecerei nas areias
Das praias mais ermas do planeta
À luz da lua mais amarela que triste
Ao entardecer mais noite que luz.

E serei irônico como um fâmulo
Ou palhaço sem circo:
Olhando a solidão do meu amor
Dentro de meus gestos de mendigo.

E como velho credor do iniludível
Sobre o fio esticado da esperança:
Equilibrado sobre o ato desse amor
Abrirei meus braços. Partirei!

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@ Copyright Rafael Rocha Neto – 1986

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MILÊNIO

Séculos defronte
À fome em dor
Homens gritam
Sem esperança

Crianças a mil
Desentendidas
Sonham espaços
De luz e amor

Nas ruas vivem
Desapegos
Cruzes negras

Nas meias-noites
Almas vazias
Clamam por luz.

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@Copyright by Rafael Rocha Neto

A UMA ADOLESCENTE (1985)

Sua alma na espera dos acontecimentos
Foge da humildade derramada de mulher
E agarra urgentemente o desejo carne
Que além de desejo é algo impalpável.

E pergunta se eu sou um poeta tímido
Ou noturno ou de alguma base futurâmica.
E faz isso com um sorriso malicioso
Ainda a não crer na verdade de um futuro.

Sim. Eu sou um poeta e ando disfarçado
Dentro de uma timidez elástica e pura.
Sim. Eu sou um poeta porque estou sozinho
E sereno e derramado na escuridão noturna.

Eu sei que sua alma é uma estrofe sibilante
A voar ao encontro de uma árvore fictícia
E a fazer do corpo um pedido imenso de carícias.
E a fazer do sonho o pão nosso de cada minuto.

Um dia...
Quando as suas mãos enrugadas
Tocarem a fímbria jovem de outro corpo
Ela quererá ser poeta e ver-se-á sem nada
Tamanho foi urgente seu desejo de carne
Como foi seu mundo.

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@Copyright by Rafael Rocha Neto

CARTA (1979)

Olha, amada:
Na verdade só queria mesmo fazer
Milhões de perguntas
Nunca parecidas, estranhas sim
Sentindo o delírio
Da descoberta dos motivos.
Mas esta carta (será mesmo?)
Vai voando aos teus portões
Buscando a descoberta
Dos melindres, dos erros
Das coisas diferentes
Que o poeta possa ter feito.
Agora
Limito-me a dizer:
Eu vou indo como sempre
Sério e desconfiado e simples
Tentando saber o que
Faz a demora da resposta.
Tantos dias: Dez? Onze?
Conta perdida
Na minha máquina de cálculo.
Só peço um pequeno toque
Algumas linhas curtas
Uma resposta
Pois se me demoro
Não é por prazer
Quiçá uma imperfeição
Tudo como aquilo
Que torna o tempo longo
E a vida curta
Paralítica
Dentro dos corações.
A carta (será mesmo?)
Só quer perguntar:
O que aconteceu?
Estranho, como creio
(espero ser engano)
Houve uma partida
E não sei em que ninho
Tua ave foi pousar
E mais que tudo
Eu escrevi rápido
Falei coisas minhas
E vivi depressa.
Pena que a resposta
Não tenha vindo
Descobrir a última invenção
Do meu sorriso.

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@Copyright by Rafael Rocha Neto

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

JAZIGO

Aqui ele jaz! O corpo morreu! Nada mais deve
Na partida recordar o quanto somos mortais.
Aqui ele jaz! O momento passou! Tudo é breve.
De instante a instante o homem é um ser fugaz.

No poema mais simplório que na tumba escreve:
Aqui jaz um alguém. Ele foi e nunca será mais.
Chore por ele, amigo, pra deixar a saudade leve.
Esse corpo, enfim, conseguiu encontrar a paz.

Não diga adeus. Isso vai trazer mais amargura
Ele partiu e nada irá fazer escutar a tua voz.
Seja ela um som cordiano repleto de ternura.

E não lamente o jazer do corpo nessa terra fria.
E não prometa a ninguém: Ele voltará depois!
Promessas vãs assim só aumentam a agonia.

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@Copyright by Rafael Rocha Neto - Recife, 7 de outubro de 2011

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A INVENÇÃO DO HOMEM

O homem inventou deus no meio da rua
E pinçou leis, códigos e mandamentos
Para dominar a terra, os planetas e a lua
E tudo aquilo que produz os movimentos.

E a invenção cresceu em alto e em largura
E o homem viu-se louco em mil momentos
Criou vários assessores para tal loucura
Visando viver no fio dos encantamentos.

E vieram os papas, padres, bispos e pastores
E acabaram com a ideia assim tão bem escrita
Resolvendo ficar ricos com as preces e favores.

E o homem agora é o instrumento da desdita:
O deus criado amaldiçoa os seus louvores
Enriquecendo igrejas com sua ilusão maldita.

TESTES

O amor faz amor e rima com dor
E flor e amargor e ardor e é cantor
E tem um sabor de se eu me for
Serei um penhor ao teu dissabor.

Dor é amargor e também é sabor
De amor já perdido todo o ardor
A fazer o pintor trocar sua cor
No clamor que por ele gritou.

E a fazer o poeta poetar sua dor
Por um caminho onde continuou
O verso maldito que por cá passou

No corpo macio que ele abraçou
E onde se fez e por onde dançou
A última ninfa com que sonhou.

RECLAMAÇÃO

Já de um tempo que a história me arrasta
Na busca da verdade e no anseio e nem sei
Se existe humanidade nessa terra vasta
Atacada pelo homem desobediente à lei.

Minha vida reclama dessa árida madrasta
Benzendo a raça humana como líder da grei
E sentir essa maldição da poderosa casta
Superior a tudo aquilo que eu imaginei.

Merda de sonho! Onde o ponho nem sei mais
Esse assaz humano pensar ladrão e assassino
A fazer de seus dotes esperança tão fugaz.

Merda de escrever este soneto em desatino
Sentindo um choro longo atrapalhar a paz
Do caminho a restar no badalar de um sino.

DOS HOMENS SIMPLÓRIOS

Palavras há perdidas e loucas para ganharem vida
Homens há onde tais vozes vivem e se permitem
Encontrar um porto ou alguma guarida
Onde possam dizer o quanto vivem
Declamando as sílabas das inverdades.

Palavras ainda voam e os homens fazem-se cegos
Ajoelham-se em altares como ensandecidos
Elevam orações às miragens dos seus egos
Não se imaginam homens perdidos
Adorando tantos símbolos e deidades.

Rastejam os corpos buscando algo igual à luz
Esquecem seus contraditórios sentimentos
Nos olhares hipnotizados algo mais traduz
Em seus mais simplórios pensamentos
A ignorância e o mito de um homem na cruz.

Palavras há voando em cores de todos os matizes
E mulheres e homens mergulham nos precipícios
Das mentiras ditas e escritas e feitas cicatrizes
Nos seus equinócios e nos seus solstícios
Onde o medo inflama a busca pelos paraísos.

Rastejam as dores humanas em todas as direções
E a ópera popular supera a realidade dos fatos
Nem vêem morta a bela Inês do poeta Camões.
Nem vêem a ilusão e o acaso vindo desses atos.
E deixam-se assaltar pelos bandidos das religiões.

A VOZ DO HOMEM NO CAMINHO

Meu caminho foi desenhado como um rio de pedras
Onde águas deslizam por sobre areias subterrâneas.
Venho caminhando nas margens escondidas dessas águas
A buscar aquilo que o mundo deve a todos os poetas.
Se o ritmo trouxe minha memória até aqui tão perto
Pretendo receber o que me é devido
Antes de o rio subterrâneo despencar no mar de algum deserto.

Aos meus lábios trago vozes extraordinariamente metafóricas.
Ainda que meus ouvidos não sejam grande coisa no mundo
Venho caminhando nessas metáforas desde saber-me gente
A tentar desenhar o que tantos humanos jamais viram.
Se as tintas de minhas pinturas são tão rupestres aos olhares
Ainda assim quero receber o que me devem
Antes que as metáforas causem danos ao verso solto nos ares.

Não sei quem ou o quê me trouxe até este espaço vazio e oco
Nem sequer resolveram perguntar se eu tinha tento em vir.
Vim de um homem e de uma mulher que se amaram um dia
E também buscaram fazer no mundo uma reinação de sonhos.
Se a verdade desse amor me deu carne e osso e olhos e vida
Agora é que desejo receber essa dívida
Antes de a perdição criar uma estrada sem cor e sem saída.

Quero um passaporte novo para a ida sem precisar da volta.
Abram a fronteira para meu poema passar sem percalço algum.
Eu quis tanta coisa para mim e ganhei tão poucas glórias.
E dessas coisas poucas eu sou mais o máximo que o mínimo.
Se nesse assombro ao ler-me tantos olhos em mim pousam
Por tal fato desejo receber com juros o que me devem
Antes de os assombros tornarem-se coisas que não ousam.

Dêem-me licença para voar dentro de minha força!
Dêem-me licença para ser mais livre que tantos!
Não deixarei que forças fantasiosas molestem meu tempo.
Jamais serei fustigado por mentes imbecis e escravocratas.
Se se escandalizarem com esse poder de minha liberdade
Matem-me! Mas ainda morto irei atravessar toda a vida
Dono de meu destino. Dono de minha mais inteira verdade.