quarta-feira, 27 de julho de 2011

CASUALIDADE

Ao falarmos de amor e de solidão
O tempo fica assim de tão pequeno
E a vida faz de conta ser canção
A voejar sob algum vento ameno.

Na verdade é melhor falar paixão
No corpo, nos lençóis e nas entranhas.
Bom sentir o germinar dessa ilusão
No casual das almas mais estranhas.

Continua a vida! Essa é a natureza
Mesma de saber o curtir a beleza
Sem comprometer verão e inverno.

Pois no outono do viver a primavera
É a loucura do sentir nova quimera
E criar um tempo chamado de eterno.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 27 de julho de 2011.

DIVAGAÇÃO

Nuvem sombria na busca de um norte
O poeta divaga sobre o mundo
Na busca de entender a sua sorte
Filosofa o saber no mais profundo
Espaço aberto onde a deusa morte
Baila o lirismo no negrume do altar
Onde a vida solitária faz a corte
De tal rainha no seu sacrificar.

Nada responde a dor de quem o vê
Nada lhe diz o motivo dele ser
O hoje! O amanhã! E aquele onde!

Sendo nuvem a voejar em momento!
Sendo apenas um rápido pensamento!
Verme universal que não responde!

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 26 de julho de 2011.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

UM DIA HAVERÁ

Um dia haverá! Não sei o onde e o quando.
Irão cantar meus versos nos bares e nas ruas
E ouvidos surdos escutarão o pranto
Das solidões e dores tão cruéis e nuas

Um dia haverá! Não sei o onde e o quando.
Meus versos serão cantados noite e dia
Nos botecos e nos piores antros
De onde os poetas buscavam calmaria

Haverá um dia! Não sei o onde e o quando.
Outro poeta lerá meus versos em seu viver
E a gritante emoção trar-lhe-á o pranto
Num soneto que ele pensou em escrever

Um dia haverá! Não sei o onde e o quando.
Não estarei mais aqui para saber.
Uma mulher dos meus versos faz um manto
E nele cria novo espaço para renascer.

Um dia haverá
Não sei o onde
Não sei o quando
Um dia haverá
Irão cantar...


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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 25 de julho de 2011.

domingo, 24 de julho de 2011

SOLIDÃO CRUEL

Pelo meu agora instante intranquilo
De onde os versos nem sabem aonde vão
Meu dormir parece mais o de um felino
Tentando espantar a solidão.

O quarto escuro se enche de miragens
A tentar falar comigo ideias vãs
Nesta idade para que novas paisagens
Se já não tenho mais almas irmãs?

Meu olhar vadeia o teto insondável
E põe a viajar por ele o coração
E o corpo seminu peleja insaciável
Contra a febre e contra a paixão.

Eis, aparecendo velhos pesadelos
Para encher de terror meus pensamentos
Abre-se o solo sobre meus joelhos
E meu grito rouco saltita seus tormentos.

Maldita! O que desejas de mim agora?
Já não basta ser fantasma pela noite?
Maldita solidão! E até mesmo na aurora?
Por que tenho de viver sob teu açoite?

As horas passam e o sono impedido
De ser sono abre alas à insônia crua.
E de repente o dia nasce entristecido
E a dor ataca o peito totalmente nua.

Ah, desde quando eu me sei a vida é essa:
Trevosa e cheia de pedras e de abismos
Até agora consentidos à minha pressa
De viver sempre a fugir de tantos sismos.

Assim, sigo a vida triste enquanto fico velho.
Coração solitário neste inquieto mundo.
Morro aos poucos à luz de meu espelho
E despeço-me assim, profundo, profundo...

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 12 de julho de 2011.

INCERTEZA

Se uma força faz o amor deixar de ser
O amor tão certo a dizer como governa
Minha alma e como pode ser eterna
A certeza deste amor nunca morrer.

Ela disse:
tal amor é ideia incerta
Não existe anseio assim de bem-querer
Mesmo pairando no teu sobreviver
Nunca deixarás uma porta aberta.

Não há amor assim! É ilusão pura!
Não há força assim! Não há ternura
Capaz de subjugar minhas tristezas.


E quando o beijo misturou as salivas
Sua ideia morreu nessas águas vivas
E nasceram nela novas incertezas.
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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 10 de julho de 2011.

DEZ POEMAS DE SOFRIMENTO OBTUSO

- I -
DOR ELEMENTAR

Dores chamam gritos roucos
Aos lábios de quem busca calar
Roucos gritos chamam cruéis dores
No poema final a torturar
Carne e ossos e pele e memória
Fica a densidade da história
Em qualquer lugar
Dores reclamam atrozes precipícios
À boca de quem busca falar
Sorrisos no meio de suplícios
Escrevendo os versos
Da dor elementar.

- II -
PUNHALADA

Dor e gritos
Entra n’alma o punhal
Nada com nada a dizer
Ou simplesmente escrever
Ou ser ave e voar
Entra n’alma o punhal
Ao se tentar reconhecer
A vida num só lugar
Isso é tão irreal!

- III -
BOLERO

O som do bolero
Perdura dentro da noite
E a nota musical
Final
Fecha o último botequim
A poesia canta
O princípio do fim.

- IV -
SER

O ser em mim dança
O ser em mim escreve
O ser em mim canta
O ser em fim pinta
Um caleidoscópio
Horizontes rubros
E se tenta poeta
Como se tenta ser deus.

- V -
LÁGRIMA

A lágrima desceu
Na solidão da noite
De olhos enrugados
E a face esforçou a pele
Do entendimento
Para absorver a dor

- Incompreensão de mim -
Resta um espaço vazio:
Buraco negro
Da ruindade
Desta terra
Desta vida

- VI -
INCERTEZA

Não sei o que fiz de mim
Em tanto tempo de caminhos
Através de ilusões
E através de corpos
E através de escuridões
Não sei o que fiz de mim
Em tanto tempo de destinos
Através destas razões
Aos outros tão bastantes
De versos inconstantes.

- VII -
PRAZER

Amor...
Assim não verás de mim
O beijar mais quente
Amada...
Assim não terás de mim
O beijo potente
Terás sonhos
Coisas irreais
Amor...
Faz com que aumente
O ser de mim
Em desejos reais
Dentro de ti.

- VIII -
SOFRIMENTO

Esta noite está perversa
Com peculiaridades
De madrasta ruim.
Quero e nada posso ter
De mim foge o grito
De sofredor
Dores a sair de dentro
Por destruição de amor.
Esta noite é perversa
Com peculiaridades
De dia tempestuoso.
Quero e não tenho nada
Habita em mim a dor
Eu sofro.

- IX -
PARTIDA

Tranco os versos na arca
Mais cerebral de minha vida
Vou partir...
Não vejo mais teu sorriso
Mulher mais querida
Eu te entristeci
Tranco os poemas na mala
Mais cerebral de mim
As ruas são grandes salas
De velórios aos mortos
Que me habitam
Vou partir...
Não vejo mais tua alegria
Eu errei em tudo enfim
As estradas são túmulos
Dos mortos
Que me habitam.

- X -
APEDREJAMENTO

Passam pensativos e calados
Ao meu lado os seres amados
E ordenam o apedrejamento
Do poeta.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 9 de julho de 2011.

DE ANTES DAS PRISCAS ERAS

Do tempo de onde não havia estrelas
Nem sóis nem luas nem planetas
Tempo de onde gases de venenos
Agarravam bactérias ainda não florais
A ideia flutuava.

Do momento de onde não havia voz
Nem bocas nem tímpanos nem olhos
Momento de onde convergia silêncio
Viviam vírus dos futuros tão gerais.
A ideia começava.

Do instante de onde o tempo alçava voo
Nas alfombras sem luz e sem ecos
Instante de onde cruzaram-se poeiras térmicas
Em busca de alimentos estratosféricos
A ideia bailava.

Um dia...
Tudo envelheceu juntando faces enrugadas
Em fogo e relâmpagos e trovões e águas
Em neve e no caldeirão dos buracos negros
Explodiu a ideia.

Uma noite...
Colisão furtiva de milhões de térmicas
Deu-se à luz ao turbilhão dos sons de pedras
Águas e trovoadas e neve e frio e calor
Enrijeceu-se a ideia.

Sol. Estrelas. Cometas. Meteoros. Luas.
Logaritmos fugazes de linhas planejadas
A trouxeram.
E o verme começou a dançar nos vácuos
Uma ilha de fogo abriu alas às galáxias.

No tempo de onde vácuos ergueram-se
Como espaços maiores e infinitos
Tempo de onde gases vivificados
Ameigaram as bactérias de seres vivos
Nasceu o logos.

Do momento assim de onde veio um som
Uma música fina aos ouvidos surdos
Momento de onde convergiu o eco
Do vírus em trâmite de ligações termais
O logos começava.

Do instante de onde pariu-se o mundo
Nas violências e nos choques de ondas
Crescentes tempestades magnéticas
Na busca de habitats consistentes
O logos dançava.

Um dia...
Tudo anoiteceu em faces infantis e jovens
Em luz e em verde e em azul e em neon
Enormes bolas astrais iniciaram voos
O logo explodia.

Uma noite...
A colisão de água e fogo e terra e gás
Deu-se à luz poeira de estrelas
E algo assim de ar e calor e frio
Enrijeceu o logos.

Ardeu então nas profundezas coisas de asas
E pedras e céus desmoronados e quadrúpedes
E árvores e chuva e rios e mares e cavernas
E corpos errantes e a dor de nada se saber:
De onde o logos?

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 30 de junho de 2011.

DESEJOS

Desejos loucos e luxuriosos. Por que não?
Meu sangue escorre na carne limpo e forte
Meu cérebro ainda não pensa na morte.
Anseios de viver atacam o coração.

Não desejar? Loucura! Desejo e sou paixão!
Venha a mim o corpo nu. Deite-se em meu porte.
Esmiuçando toda a beleza e o que importe
Pra saciar minha fome e este líquido tesão.

Ah, quantas vezes, mulher, lembrei de ti!
E mais louco ainda hoje fico a recordar
Sempre que dizes que eu já te esqueci.

Ah, quantas vezes, mulher, crias um por fim
Com teu cheiro, teu suor.. Só pra lembrar
O quanto andas vivaz e eterna em mim.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 29 de junho de 2011.

SENSAÇÕES DE INVERNO

As sensações de se inventar a vida
Para o agora do tempo finito
Na boca da noite ou no pensar
Como posso ficar desatento
Aos desejos da epiderme?

Bom deverá ser inventar
As músicas das ausências
E sentir a antiguidade maior
Da presença
Do corpo antigo a nos encantar.

Ah! Amada minha!
Quanto prazer pensar em ti!
No tempo de quando eras verão
De quando cantavas o amor
Fora e dentro de minha pele.

Hoje
Curto o silêncio
Hoje
Curto amargura
Hoje
Lembro o eco dos abraços
Hoje
Recordo o sabor dos beijos.

Essa harmonia desarmonizada
Onde mergulhas em inverno
Dói tanto em mim.
Nem sabes como permaneço
Atento ao teu prazer.

Deixar morrer o obscuro
Tal o galo solitário a cantar
Na última manhã
Estaremos a acenar
Cruéis adeuses.

Ah! Amada minha!
Se pensar em mim dói
No tempo em que serei inverno
Irás lembrar o verso de amor
Dentro de tua carne.

Amanhã
Terás o silêncio
Amanhã
Terás a amargura
Amanhã
Pedirás os beijos
Amanhã
Recordarás...

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 29 de junho de 2011.

SANGRAMENTO DA SOLIDÃO

É a verdade da solidão a doer no peito
Escrevendo o verso sangrento
De fora para dentro.
É a verdade do desamor mais inquieto
Querendo ser verdade áspera
De dentro para fora de mim.

Escrevo a dor da solidão em sangue.
Ainda esperando não ser preciso.
Mas a dor vem. Vem e vai. E vem
De fora para dentro
Como sendo dona de meus caminhos.

Paro para olhar o cotidiano da sala.
E a vejo no olhar parado da mulher
Sem cor e sem paixão a ver TV.
Paro para olhar o diário da manhã
E vejo a mulher sendo escrava do tempo.

Ah, nada mais tenho a perder...
A solidão tem tintas vermelhas de sangue.
Ela é uma dor a bater no ir e vir.
Ainda se eu gritar áspero e traiçoeiro
O olhar do mundo ao redor pedirá silêncio:
Fale baixo para ninguém reclamar!

Que ninguém! Que merda! Que nada!
É a realidade da solidão a habitar em mim!
E mesmo a esperar não ser preciso
Escrever e declamá-la
Ela tornou-se dona de meus caminhos
De fora para dentro.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 13 de junho de 2011.

PERGUNTAS


Onde estarão os velhos segredos
E aqueles medos
Carregados dentro das noites?
Será que estão mortos?
Será que estão perdidos
Ao próximo fim?

Onde estará você? Onde estarei?
Onde ficarão as horas
Criadas em nossos caminhos?
Será que estão mortas?
Será que estão perdidas
Por não terem tido início?

Onde está a poesia emotiva
Ainda não recitada por mim?
Onde está o verso de todo dia?
Quem o esqueceu por aí?
Será que resolveram ser segredos
Dentro das noites de meus medos?

Vai! Pergunta a mulher adormecida
Ao lado do meu corpo:
Por que não és mais a mesma paixão?
Por que agora és tão invernal?
Pergunta! Talvez a poesia volte
E eu a possa declamar para a multidão.

Nem sei se estou vivo por aqui.
Nem sei se tenho sangue no caminho
Dos versos que pretendo escrever.
Talvez esteja esperando a resposta
Sabendo que não virá
De forma alguma.

Por isso tanto os olhos pousam
nas novíssimas mariposas.
Por tal esquecimento de mim
A carne grita e proclama:
A certeza de estar vivo
Ainda perdura por aqui!

Pergunta vai. Pergunta vem.
Mas ninguém pergunta a mim
Sobre as certezas dos medos.
Sabem o quanto estes segredos
Preferem estar mortos
E esquecidos dentro das noites...

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 13 de junho de 2011.

REJEIÇÃO

A noite bate em minha porta.
Encho de vinho o copo.
Tenho essa solidão melíflua
A bater nos meus minutos.

Sinto-me rejeitado.
Resta meu eu interior
A viver abertamente
E a sonhar por mim.

Esta madrugada é de chuva.
Dentro de mim a tempestade
Traz relâmpagos coloridos
E densidades de torturas.

Na casa toda vive o silêncio
E nem sinto ao trajeto dessa dor.
Irmanada no homem rejeitado
Por ser apenas ele mesmo.

Temo a chegada da manhã.
Todas as caras farão caretas.
Como se eu fosse um bufão
Ou simplesmente um pária.

Resta sair com minha vida
E sentar à mesa de um bar.
Se o amigo não aparecer
Conversarei comigo.

Até chegar a nova noite
Serei o único a aceitar
Quem sou e quem vivo
Livre e aberto no mundo.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 21 de abril de 2011.