quinta-feira, 31 de maio de 2012

A SOLIDÃO COMO COMPANHIA


Texto do filósofo Henry David Thoreau

Considero saudável estar só na maior parte do tempo. Estar acompanhado, mesmo pelos melhores, cedo se torna enfadonho e dispersivo. Adoro estar só. Nunca encontrei um companheiro tão sociável como a solidão. Estamos geralmente mais sós quando viajamos com outros homens do que quando permanecemos nos nossos aposentos. Um homem quando pensa ou trabalha está sempre só, deixai-o pois estar onde ele deseja. A solidão não é medida pelas milhas de espaço que separam um homem e os seus congêneres. 

O estudante verdadeiramente diligente de um dos enxames da Universidade de Cambridge está tão solitário como um derviche no deserto. O agricultor pode trabalhar sozinho no campo ou nos bosques durante todo o dia, mondando ou podando, e não se sentir solitário porque está ocupado; mas quando chega a casa, à noite, não consegue sentar-se numa sala sozinho, à mercê dos seus pensamentos. Tem que ir onde possa “estar com as pessoas”, distrair-se e ser compensado pela solidão do seu dia; e, assim, interroga-se como pode o estudante estar só em casa durante toda a noite e grande parte do dia sem se aborrecer ou sentir-se deprimido. Mas ele não entende que o estudante, se bem que em casa, ainda está a trabalhar no seu campo, a podar os seus bosques, tal como o agricultor o faz nos seus e que, por seu turno, procura a mesma diversão e companhia que este, embora eventualmente de uma forma mais condensada.

Ouvi falar de um homem perdido na floresta e a morrer de fome e de exaustão ao pé de uma árvore e cuja solidão era aliviada pelas visões grotescas com que, devido à fraqueza física, a sua imaginação doente o rodeava, e que ele acreditava serem reais. Assim também, graças à saúde e à força física e mental, podemos sentir-nos continuamente animados por uma companhia semelhante, se bem que mais normal e natural, e chegarmos à conclusão de que nunca estamos sós.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A IDIOTIZAÇÃO VEM DAS RELIGIÕES

Trago à baila aqui neste espaço uma crítica a uma frase de triste construção postada no Facebook. Uma mulher chamou a filosofia de primitivismo. Estudar filosofia é primitivismo, segundo ela. Mas uma vez comprovei o quanto existe de ignorância no espaço internético. E, mais ainda, que o Facebook está a se transformar em um novo Orkut, englobando gente que se idiotiza a si mesma e que pretende idiotizar aos outros.

A pessoa que alcunhou a filosofia como primitivismo não gostou nada de saber da possível existência de uma igreja denominada Assembléia de Zeus (uma simples brincadeira dentro do Face), onde se diz interagir através da filosofia socrática. Tal pessoa não possui discernimento nenhum sobre o fato de que primitivismo real tem ligação direta com as religiões organizadas – católica, evangélica, espírita e outras – que pregam a ilusão da existência de um deus único e verdadeiro. Isso sim é que é primitivismo.

A filosofia não vende nenhum deus como as religiões acima relacionadas. A filosofia não cria nenhum deus, filho unigênito, virgem santa, espírito santo, nem se prende a bíblias ou congêneres. E muito menos busca enriquecer à custa do povo. A filosofia é a arte de pensar, coisa em falta no mundo de hoje. Façamos como Sócrates e perguntemos. Questionemos. Devemos questionar tudo. “O que é isso?” Sócrates jamais se contentou com as opiniões estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade e com as crenças mantidas inquestionáveis pelos seus conterrâneos. Na realidade, Sócrates desconfiava das aparências e procurava a verdade das coisas.

Sim, o mundo está a precisar de pensadores. O mundo precisa sair da mediocridade e das asneiras criadas por tantas religiões. O mundo precisa exercitar o livre pensar, principalmente, nós, brasileiros, que sofremos com a falta de uma educação humanista e filosófica. O Brasil jamais será um país civilizado se não exercitar a filosofia. Pensar nos leva a conquista da liberdade de todas as amarras e subserviências. Pensar ajuda a se libertar dos preconceitos e das discriminações.
   
Portanto, façamos como Sócrates. Auxiliemos as pessoas a libertarem suas mentes das meras aparências. Que elas direcionem seus cérebros na busca da verdade, mas também na busca do conhecimento interior: “Conhece-te a ti mesmo!”. Nessa linha de raciocínio, Sócrates mostrou como era importante a atitude crítica. Disse, e isso é muito necessário para nosso entendimento, que só estaremos aptos a conhecer a verdade, sendo críticos de nós mesmos, reconhecendo nossa ignorância: “Só sei que nada sei”. Desse ponto chega-se à conclusão que a filosofia está voltada para os momentos e situações críticas.

Assim, seguindo os princípios da filosofia socrática, voltemos nossos pensamentos para as questões humanas no plano da ação, dos comportamentos, das ideias, das crenças, dos valores. Preocupemo-nos com as questões morais e políticas. E mais: o ponto de partida da filosofia é a confiança no pensamento ou no homem como um ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão. Como se trata de conhecer a capacidade de conhecimento do homem, a preocupação se volta para estabelecer procedimentos que nos garantam que encontramos a verdade, isto é, o pensamento deve oferecer a si mesmo caminhos próprios, critérios próprios e meios próprios para saber o que é o verdadeiro e como alcançar a verdade em tudo o que investigamos.