sábado, 22 de maio de 2010

MARCAÇÃO DO TEMPO

















Houve um começo de tal impacto profundo
Colidindo entre os nomes e os corpos.
Por isso hoje navegamos todos para trás
Com nossos fantasmas de mundo morto
Na marcação constante de nossos tempos.

Sim. Já cataclismou-se o primeiro ato
Ainda que não tenhamos alcançado o último
Na rota incerta de nossas vidas aguardamos
O impacto final para qualquer dia desses.
Não sei se terei medo. Teremos medo? Terás?

Um muito e muito tinir de copos e brilhos
Nas mesas dos bares onde o tempo se marca
E ao longo das centenas de esquinas das ruas
Por onde passaram os sonhos dos poetas.
Tudo vai se dissipando melancolicamente.

Sim, se houve um primeiro o ato do meio desliza
Todos nós já de olhares fixos na última ação.
Brotam saudades. Tem-se certeza completa
De que nunca mais tocaremos nossos corpos.
É a marcação do tempo. A profecia do fim.

Tiveram muitas luzes nossas antigas noites...
Amigos meus, muitas luzes acendidas
Sonhos criados e incriados. Destinos feitos.
Sim, houve um começo e haverá um fim
E está ficando cada vez mais perto este fim.

Nossas estrelas já estão a ser agonizantes.
Os corpos que abraçamos e os lábios beijados.
E aqueles toques sutis a lembrar anseios idos.
As pedras, camaradas, estão a se quebrar.
E nós dando adeuses neste partir daqui.


© Copyright by Rafael Rocha Neto, Recife, 15 de abril de 2010.

domingo, 16 de maio de 2010

POETAR

Os amigos ditos tão presentes
Estão ausentes do meu lupanar
Onde criei versos condizentes
Ao meu anseio de pensar

As amigas ditas tão ausentes
Ficaram vivas neste lugar
Para elas fiz versos e repentes
Tentando obrigá-las a pensar

Tenho pessoas vivas no caminho
A demonstrar vivo carinho
Por tudo a pretender cantar.

E o verso abre alas a mil espaços
E voa em busca de teus braços
Simplesmente para poetar.

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© Copyright by Rafael Rocha Neto

ACEITAÇÃO COMPLETA

Mulher, quando teu beijo chegar em minha boca
Toma tento para não ficar louca de paixão.
Para que tua ternura por mim não morra
Nem se afogue no pranto de alguma desilusão.

Quanto teu beijo alcançar a minha boca
Seja doçura de abelha-mãe a se conectar
Seja uma delícia de mel a se esmiuçar
Seja anseio e verdadeira paixão louca

E jamais desfaça, mulher, tua paixão líquida
Assuma teu anseio de mim com uma sede
Saiba ser tempestade, mulher, e aceite
Ser chamada de amor, de doçura, de querida.

Quem sabe um dia de mãos dadas, alegrias
Sejam nossas companheiras de loucura.
E nossos beijos multipliquem as nostalgias
Matando do passado qualquer outra amargura.
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© Copyright by Rafael Rocha Neto.

VERSOS DESTILADOS

Deste meu lugar destilo os versos de minhas fibras
Aos braços das mulheres ansiosas por meu canto.

Não só tão ansiosas, mas ainda repletas de desejos
E loucuras de carne e beijos e repetidas carícias.

Tenho a mulher como um espaço poético maciço
Loura, negra, branca... Todas têm segredos fixos...

E do jeito que as quero nos meus sonhos da vida
Quero-as no real de mim presas em minha caminhada.

Corpo de mulher! Que desvario para minhas noites!
Cheiros, maciezas, umidades de pelos e de lábios.

Assim como as margens de um rio recebem ondas
Meu corpo recebe as mesmas carícias dos desejos.

Deste meu lugar escrevo os versos concretos de mim
Para os olhos das belas ninfas ansiosas pelo canto.

Não apenas ansiosas elas são. São todas ansiadas.
Seus beijos e seus anelos. Seus ventres e suas almas.

Corpo feminino a se mostrar aberto aos meus anseios.
Deglutirei o sabor dos seios e o sal de tuas vísceras.

Corpo feminino a espelhar risos e outros encantos
Mergulharei rijo para conhecer teu interior secreto.

Deste meu lugar o corpo anseia por gestos obscenos
Numa cama e entre as macias pernas da fêmea agitada.

Deste lugar um oceano recebe ventos de tormenta
E naufragam meus navios nas procelosas vagas.

Quando ficas calma, corpo de mulher, és terra macia.
Onde o náufrago desliza na busca da sobrevivência.

Antes pensar em sobreviver morrendo dentro em ti.
Antes pensar em morrer sobrevivendo em teu plano.

Ainda que o poeta deva acreditar no plano próprio.
Homem que sabe ver a tua miragem no oceano.

E por mais poeta a definir ventos tempestuosos
Seja o homem o espelho e a transmutação do canto.

Canto venéreo. Canto sexual. Canto livre e sem árbitro.
Sejas tu, mulher, o destino. Sejas, tu, o último parto

Onde eu possa mergulhar em cheiros e umidades novas
E repartir contigo estes versos lúcidos e suados.

sábado, 15 de maio de 2010

FÉ RELIGIOSA NÃO É CONHECIMENTO

O crescer dos pensamentos científico e filosófico está colocando para escanteio, aos poucos, os partidários da ignorância dogmática, camaradas. A sociedade pós-moderna está sendo transformada de forma gradativa, é claro, mas a compreensão de mundo desta sociedade está mudando. Apesar da guerra do poder religioso contra o poder cientifico, essa mudança é notória. As conquistas da ciência, a formação do pensamento crítico e a renovação das gerações começam a aniquilar todos os paradigmas baseados em princípios dogmáticos. Viver apenas pela fé, hoje, é simplesmente falta de formação crítica ou desinteresse em conhecer.

Em tempos muito pouco distantes o poder religioso não media esforços para afastar as pessoas do refletir filosófico. Ainda hoje, esse poder luta acirradamente para manter as pessoas na ignorância. Ainda hoje, muitas religiões consideram como de fundamental importância que a sociedade não tenha consciência própria. O poder religioso sabe que a universalização do conhecimento de forma crítica, irá dificultar a propagação da religiosidade entre os povos. Fé e conhecimento não podem ocupar o mesmo espaço. O saber qualitativamente produzido só pode acontecer na razão inversamente proporcional às crenças nas fantasias religiosas e sobrenaturais.

Camaradas, atualmente o mundo vive e se interpenetra em grandiosos avanços tecnológicos e novas descobertas científicas. A informatização faz com que os países fiquem a cada dia mais próximos uns de outros, fato que facilita as pesquisas e a troca de comunicação entre as pessoas. Tudo acontece rapidamente. Uma nova Revolução está batendo em nossas portas com a grande globalização do mundo com relação à informação.

O grande filósofo Friedrich Nietzsche estava certo quando dizia que “a fé não remove montanhas, mas coloca montanhas onde elas não existem”. Portanto, no limiar deste milênio, os mistérios estão sendo revelados cientificamente ao homem. Claro que as perguntas - Quem sou? De onde vim? Para onde vou depois de morrer? - irão ser respondidas através do conhecimento cientifico, mas já é lícito responder a elas de forma simples. O homem é um produto do meio ambiente. Não foi criado nem planejado por nenhum deus. Nasceu do acaso e evoluiu. Não vai para lugar algum (inferno ou paraíso) depois de morto. Simplesmente voltará a ser o que sempre foi. Reunir-se-á aos átomos circunscritos ao planeta Terra.

Camaradas, na enciclopédia da fé não existem respostas convincentes para as indagações humanas. Tudo porque fé religiosa não é conhecimento científico. E muito menos fé religiosa pode se irmanar com a filosofia, como estão a tentar fazer os medrosos deste mundo, os quais, por desejarem a vida eterna, buscam escrever uma chamada filosofia da fé. Thomas de Aquino já tentou fazer isso e terminou deturpando a filosofia aristotélica. Mentiu para idealizar a vida eterna. Sim, porque ditos filósofos da religião sempre deturparam a verdade.

Queremos deixar bem claro, camaradas, que o poder religioso nunca simpatizou com a filosofia. A filosofia é uma pedra no caminho da crença do mundo mágico criacionista. Isso nos leva a lembrar do filósofo Platão e sua academia e até da audácia de Giordano Bruno. Na época negra de quando o poder religioso mandava e desmandava, todo material produzido por uma reflexão crítica era apreendido e queimado. Por que isso, camaradas? Simples: tal material podia despertar as pessoas e retirá-las da inocência. Então, eis algumas inquirições: por que a tal verdade pregada pelos religiosos não pode ser questionada? Eles têm medo que a verdade deles possa ser uma mentira? E se essa verdade for realmente verdadeira, sendo o posicionamento crítico uma busca do conhecimento real, essa tal verdade não sairia mais fortalecida se estivesse aberta à discussão?

Camaradas, descobrimos coisas estranhas e esquisitas no centro do poder religioso de hoje. Seus poderosos colocam a fé como argumento principal, o que significa dizer aos homens e mulheres deste mundo: não discutam, respeitem a religião dos outros. Mas, camaradas, nós conceituamos isso como submissão. É o mesmo que querer submeter pessoas a atitudes passivas e a fazê-las aceitar somente o que está sendo verbalizado, falado e apresentado. Respeitar é sinônimo de calar, camaradas? Não será por acaso medo de escutar o que o outro tem a falar? Se a fé tem algum fundamento, porque é que tentam protegê-la tanto da razão? Se ela não é um castelo de areia, por que o poder religioso não a expõe às procelas e às críticas da reflexão científica?

Simples, camaradas. Fé religiosa não é conhecimento. Todo e qualquer poder religioso só divulga fantasias, seja em livros, revistas, emissoras de televisão, filmes etc. Inculcar o medo é a fórmula maior para a existência de seus deuses, santos, santas e mártires. Medo de morrer e perder uma pretensa vida eterna. Medo de viver a vida com intensidade pensando que está a pecar. Medo de enfrentar uma realidade que não é a realidade escrita nos livros religiosos. Medo, principalmente, do inexistente deus perante o qual se ajoelha e que, por não existir, simplesmente não pode interagir junto aos seus fiéis.

O VESTIDO VIAJANTE (Cordel)

Um caso muito engraçado
Vou contar pra toda gente
A história de um vestido
Regalo bem diferente
Que saiu cá de Olinda
Todo chique e muito azul
Para o sertão da Bahia
À luz do Cruzeiro do Sul.

A história é verdadeira
E um tanto desmiolada
Ele desceu as ladeiras
Da cidade enfeitiçada.
O vestido precioso
Tal novo conto de fada
Foi recebido e guardado
Numa casa de Itaberaba.

Eu lembro da remetente
Pedindo a mim o endereço:
“É pra mandar o presente
Para quem eu tenho apreço.
Peço a tua ajuda, moço
Pra enviar esse regalo
Mas não faça alvoroço
Fica na tua, calado”.


O endereço lhe foi dado
Bem escrito do A ao Z
E o presente foi postado
Talvez num entardecer.
Mas antes a remetente
Desconfiada falou:
“Espero que esteja certo
O endereço que mandou”.


Disse eu: “Está mais certo
Que o sol que me alumia
Eu sou um cara correto
Que não se vê todo dia.
Já mandei o meu presente
Mas não assim exibido
E já chegou a notícia
Ele foi bem recebido”.


Ressabiada ela exclama:
“Não comece criticando
Meu presente é a chama
De quem está esperando
Do outro lado do mundo
Uma promessa já feita
Tem um feitiço profundo
Para me deixar aceita.”


De repente, certo dia...
Começou outra novela
O Correio devolvia
O tal presente pra ela
O vestido viajante
Começou a ser turista
E quase sem dar na vista
Voltou pra Olinda velha.

A remetente furiosa
Em cima de mim caiu:
“Ou é você ou é ela
A me fazer de chibiu.
Fiz a coisa toda airosa
E meu regalo tão lindo
Enviado todo prosa
De indo termina vindo”.


Respondi enraivecido
Com tanta desconfiança:
“Não venha a sua burrança
Mexer com minha libido.
Ou foi erro do Correio
Ou o carteiro esqueceu
Depois de um dia fudido
A rua que você escreveu.”


E lá no sertão da Bahia
A jovem aniversariante
Estava preocupada
Com o presente viajante
E como não era culpada
Daquilo que acontecia
Comentava ao poeta
Toda noite e todo dia:

“Dessas coisas não entendo
Meu endereço está certo
Não sou cigana nem vento
Para ter um rumo incerto
Se a culpa foi do carteiro
Tudo pode acontecer.
Pois o mundo brasileiro
Tem coisa pra inglês ver”.


Aconteceu de repente
Confirmado o endereço
Resolveu-se a remetente
No meio do Carnaval
Mandar de novo o presente
E disse pra mim no e-mail:
“Por apreço e em permeio
Chega por bem ou por mal”.


A mocinha tava ansiosa
E falou só para mim:
“Espero que essa coisa
Chegue logo por aqui.
Do jeito que a vida anda
Não posso negacear
Quero abrir sem tardança
E ver o que vou ganhar”.


Ninguém sabia que era
Um belo e azul vestido
Posto na fila de espera
De onde já tinha partido
Mas agora a presepada
Saiu de mal a pior
Em lugar de Itaberaba
Caiu em Feira o penhor.

Existe aqui na internet
Um tal de rastreamento
Para ver se o correio
Tá fazendo o movimento
E fez isso a remetente
Como o figurino manda
Ao rastrear o presente
A sua raiva desanda.

E até eu fiquei pasmo
Com essa coisa tão besta
Que acordei do marasmo
Quando cá fazia a sesta
Lá estava a louca insana
Da remetente a gritar:
“Por que em Feira de Santana
Foi meu regalo parar?”


Senti uma louca vontade
De começar a gargalhar.
Pois não é que era verdade
O seu novo reclamar?
O reenviado presente
Viajou pra outra cidade
E zombando da remetente
Ficou por lá a vadiar.

E nessas vindas e idas
De Olinda a Itaberaba
Venho gozar essas vidas
Novela que não acaba:
A baiana na espera!
A olindense arretada!
E em Feira de Santana
O presente não faz nada!

Dezenas de dias depois
E de mil telefonemas
O correio explica aos dois
O motivo do problema
O presente foi enviado
Em postagem especial
Um PAC meio safado:
Postagem Ao Carnaval!

Numa bela sexta-feira
O danado de repente
Chega direto de Feira
Mata a ânsia dessa gente
Tudo de cabeça quente
Pai, mãe, irmã e irmão:
“Abre logo esse demente!
Vamos ver a danação!”


Grande silêncio mouco
Encheu o meio da sala
E a menina aos poucos
Desempacota a mala
De lá sai outro pacote
E se ouvem gritos roucos:
“Tem um cheiro esquisito
Saindo desse malote!”


As mãos dela tremem tanto
Que a mãe vai ajudar
E ela cheia de espanto
Puxa aqui e acolá
Abrindo toda a sacola
Inicia o repuxar
E o azul de um tecido
Começa a se espraiar

De repente uma ventania
Sai daquele pacotaço.
E um cheiro de bruxaria
Enche todo aquele espaço.
E num só estardalhaço
Começa a espirradeira
“Evoé, quanto perfume!
É coisa de feiticeira!”


E o pai aparvalhado
Tira a palavra da boca:
“Menina que coisa é essa?
Essa tua amiga é louca!
É macumba de atrasado
Ou é despacho de Exu?
Esse vestido enfeitado
E todo na cor azul?”


E mais do que espantado
Continua a reclamar:
“Como é que agora vou
Beber no bar do Itamar?
O cheiro desse danado
Até na cueca entrou
E meu pau já tá melado
Com perfume de fulô”.


Nem a mãe é mais clemente
E não pode variar:
“Mocinha, esse presente
Acabou com o jantar.
A moqueca perfumou-se
E até o meu vatapá
O camarão ficou doce
Por causa desse cheirar.”


E o pior da história
Veio da irmã mais velha:
“Esse perfume é a glória
Me fez lembrar a Estela
E aqueles dias passados
A beijar as coxas dela
E no fazer cacheados
Catando perebas nela”.


Ainda mais arretado
O mano mais velho ficou:
“Isso é coisa de viado
A mexer com meu pendor.
Pois estou sentindo algo
Vindo do vestido azul
Como se sendo traçado
Lá no olho do meu cu”.


A menina aperriada
O vestido azul pegou
Sem pensar em mais nada
Ela o experimentou.
Caiu como uma luva
Assim sem tirar nem pôr
E como a terra à chuva
Ao feitiço se entregou.

Ela disse para mim:
“É um vestido de seda
Tem um cheiro de jasmim
A pegar logo que medra
Se tem mesmo um feitiço
Eu nem vou imaginar
Vestirei sem dar aviso
Ele não vai machucar”.

“Um presente assim bonito
Não se pode desprezar
Não tem nada de maldito
Nem coisa de Yemanjá.
É um regalo cheiroso
Difícil de imaginar
Tem algo assim de gostoso
Pro corpo saborear.”


Aqui acaba a história
Do vestido viajante
Saído da velha Olinda
À Itaberaba distante
Com seu azul de cetim
E perfume de jasmim
A mostrar como é linda
Uma amizade assim.

A HERANÇA MALDITA DO MÊS DE ABRIL

(...) Há soldados armados / Amados ou não / Quase todos perdidos / De armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam / Antiga lição: / De morrer pela pátria / E viver sem razão”.
.......................
Abril 2010.
.......................
Este abril de hoje não é o mesmo abril de há 46 anos, camaradas. Mas ainda assim é um abril que traz em seu bojo uma herança maldita. Esse abril ainda vai demorar a ser esquecido. Sim, pois existe uma antiga lição a ser levada ao conhecimento dos mais jovens habitantes da pátria brasileira. Para que eles a estudem e façam o dever de casa. Parafraseando Geraldo Vandré, as lições vieram dos quartéis. Vieram das armas que se diziam defensoras de nossa realidade de homens e pensadores e trabalhadores livres.

Sim, camaradas, a herança maldita deixada pelos homens fardados a todos nós, brasileiros, está presente em cada espaço comum da nossa grande nação. A concentração do poder constituído nas mãos de uns poucos homens fardados, a partir do trágico dia 1º de abril de 1964, deixou-nos uma herança com a qual ainda compactuamos. Herança com a qual os grupos direitistas remanescentes pretendem permanecer ligados. Não nos iludamos. Esta é a verdade.

Há 46 anos, a chamada elite das Forças Armadas arrogou a si mesma capacidade técnica e administrativa para fazer do Brasil “um país que vai pra frente”. Apoiada pela grande mídia corrupta e por grandes empresários e industriais arrancou dinheiro da população para levar prosperidade a uns poucos, deteriorando o perfil de renda dos verdadeiros construtores do país. Essa elite das Forças Armadas montou uma poderosa máquina de repressão e criou centros paralelos de poder, onde assassinatos, torturas e o arbítrio eram os lemas principais.

Jamais devemos esquecer essa lição, camaradas! Os mestres das trevas continuam atuando nos bastidores e até mesmo às claras. Continuam tendo a intenção de revigorar a arcaica filosofia que criou uma estrutura social onde os trabalhadores e os homens livres financiavam com seu suor, com seu sangue e com seu dinheiro os protegidos das Três Armas, armas essas que, ao invés de defender a integridade da pátria resolveram financiar os grandes empresários, os industriais e os lobbies dos políticos apoiados pelo poder do Departamento de Estado dos EUA e pelo seu famigerado braço ativo, a CIA, em detrimento do desenvolver econômico e social da nação.

Camaradas, o que os chefes das Forças Armadas daquele distante abril fizeram com a pátria brasileira não tem nome no dicionário. Entre 1964 e 1985, as ações daqueles homens fardados atrasaram o Brasil e seu processo histórico. Retiraram o Brasil do rumo ao fortalecimento econômico e da integração social. Além disso, os homens empossados durante esses anos para governar o país, promoveram um festival de crimes contra os direitos humanos. Crimes irresponsáveis e hediondos, os quais ainda não foram julgados e seus autores devidamente condenados. Promoveram concentração de renda nas mãos de uns poucos, aumentando a pobreza e levando a criminalidade a crescer nos grandes centros urbanos. Se, hoje, temos centenas e milhares de bolsões de pobreza ao redor de nossas metrópoles; se temos, hoje, quadrilhas organizadas a dominar as favelas e as periferias; e, se, hoje, a violência está cada vez mais presente em nosso cotidiano, sabemos quem são os culpados, camaradas. Foram eles, os homens fardados e seus asseclas, a Grande Mídia, os grandes industriais e empresários os principais artífices de tudo isso.

Se hoje o Brasil retoma, aos poucos, o caminho da democracia e da realização econômica e social, devemos isso a alguns civis e a homens de amplos ideais que não se locupletaram com o banquete distribuído fartamente durante aqueles 21 anos de exceção. Ainda assim, os descontentes com a mudança de rumos continuam a brigar nos bastidores para que a idade das trevas retorne, para que a mão de ferro dos opressores da liberdade volte a atingir os homens livres deste grande país. Camaradas, continuam a existir pessoas e grupos organizados em busca da desordem institucional e a desejar uma ordem governamental baseada na desigualdade dos direitos sociais. Nós, livres pensadores e humanistas, repudiamos quaisquer tipos de ameaças à ordem política que estamos a viver atualmente. Durante 21 anos o país sofreu um grande e tenebroso retrocesso político, social e cultural e sabemos que serão necessários muitos outros anos para esquecer essa idade das trevas.

Hoje, estamos em outro abril, camaradas! A luta continua. Mas agora temos “a certeza na frente e a história na mão”, como bem disse o poeta e cantador. Que as novas gerações entendam o temor dos seus mais velhos e façam corretamente o dever de casa, sem descambar para restrições às idéias e às ações libertárias dos homens.