sábado, 15 de maio de 2010

A HERANÇA MALDITA DO MÊS DE ABRIL

(...) Há soldados armados / Amados ou não / Quase todos perdidos / De armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam / Antiga lição: / De morrer pela pátria / E viver sem razão”.
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Abril 2010.
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Este abril de hoje não é o mesmo abril de há 46 anos, camaradas. Mas ainda assim é um abril que traz em seu bojo uma herança maldita. Esse abril ainda vai demorar a ser esquecido. Sim, pois existe uma antiga lição a ser levada ao conhecimento dos mais jovens habitantes da pátria brasileira. Para que eles a estudem e façam o dever de casa. Parafraseando Geraldo Vandré, as lições vieram dos quartéis. Vieram das armas que se diziam defensoras de nossa realidade de homens e pensadores e trabalhadores livres.

Sim, camaradas, a herança maldita deixada pelos homens fardados a todos nós, brasileiros, está presente em cada espaço comum da nossa grande nação. A concentração do poder constituído nas mãos de uns poucos homens fardados, a partir do trágico dia 1º de abril de 1964, deixou-nos uma herança com a qual ainda compactuamos. Herança com a qual os grupos direitistas remanescentes pretendem permanecer ligados. Não nos iludamos. Esta é a verdade.

Há 46 anos, a chamada elite das Forças Armadas arrogou a si mesma capacidade técnica e administrativa para fazer do Brasil “um país que vai pra frente”. Apoiada pela grande mídia corrupta e por grandes empresários e industriais arrancou dinheiro da população para levar prosperidade a uns poucos, deteriorando o perfil de renda dos verdadeiros construtores do país. Essa elite das Forças Armadas montou uma poderosa máquina de repressão e criou centros paralelos de poder, onde assassinatos, torturas e o arbítrio eram os lemas principais.

Jamais devemos esquecer essa lição, camaradas! Os mestres das trevas continuam atuando nos bastidores e até mesmo às claras. Continuam tendo a intenção de revigorar a arcaica filosofia que criou uma estrutura social onde os trabalhadores e os homens livres financiavam com seu suor, com seu sangue e com seu dinheiro os protegidos das Três Armas, armas essas que, ao invés de defender a integridade da pátria resolveram financiar os grandes empresários, os industriais e os lobbies dos políticos apoiados pelo poder do Departamento de Estado dos EUA e pelo seu famigerado braço ativo, a CIA, em detrimento do desenvolver econômico e social da nação.

Camaradas, o que os chefes das Forças Armadas daquele distante abril fizeram com a pátria brasileira não tem nome no dicionário. Entre 1964 e 1985, as ações daqueles homens fardados atrasaram o Brasil e seu processo histórico. Retiraram o Brasil do rumo ao fortalecimento econômico e da integração social. Além disso, os homens empossados durante esses anos para governar o país, promoveram um festival de crimes contra os direitos humanos. Crimes irresponsáveis e hediondos, os quais ainda não foram julgados e seus autores devidamente condenados. Promoveram concentração de renda nas mãos de uns poucos, aumentando a pobreza e levando a criminalidade a crescer nos grandes centros urbanos. Se, hoje, temos centenas e milhares de bolsões de pobreza ao redor de nossas metrópoles; se temos, hoje, quadrilhas organizadas a dominar as favelas e as periferias; e, se, hoje, a violência está cada vez mais presente em nosso cotidiano, sabemos quem são os culpados, camaradas. Foram eles, os homens fardados e seus asseclas, a Grande Mídia, os grandes industriais e empresários os principais artífices de tudo isso.

Se hoje o Brasil retoma, aos poucos, o caminho da democracia e da realização econômica e social, devemos isso a alguns civis e a homens de amplos ideais que não se locupletaram com o banquete distribuído fartamente durante aqueles 21 anos de exceção. Ainda assim, os descontentes com a mudança de rumos continuam a brigar nos bastidores para que a idade das trevas retorne, para que a mão de ferro dos opressores da liberdade volte a atingir os homens livres deste grande país. Camaradas, continuam a existir pessoas e grupos organizados em busca da desordem institucional e a desejar uma ordem governamental baseada na desigualdade dos direitos sociais. Nós, livres pensadores e humanistas, repudiamos quaisquer tipos de ameaças à ordem política que estamos a viver atualmente. Durante 21 anos o país sofreu um grande e tenebroso retrocesso político, social e cultural e sabemos que serão necessários muitos outros anos para esquecer essa idade das trevas.

Hoje, estamos em outro abril, camaradas! A luta continua. Mas agora temos “a certeza na frente e a história na mão”, como bem disse o poeta e cantador. Que as novas gerações entendam o temor dos seus mais velhos e façam corretamente o dever de casa, sem descambar para restrições às idéias e às ações libertárias dos homens.

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