Trago à baila aqui neste espaço uma crítica a uma frase de triste construção postada no Facebook. Uma mulher chamou a filosofia de primitivismo. Estudar filosofia é primitivismo, segundo ela. Mas uma vez comprovei o quanto existe de ignorância no espaço internético. E, mais ainda, que o Facebook está a se transformar em um novo Orkut, englobando gente que se idiotiza a si mesma e que pretende idiotizar aos outros.
A pessoa que alcunhou a filosofia como primitivismo não gostou nada de saber da possível existência de uma igreja denominada Assembléia de Zeus (uma simples brincadeira dentro do Face), onde se diz interagir através da filosofia socrática. Tal pessoa não possui discernimento nenhum sobre o fato de que primitivismo real tem ligação direta com as religiões organizadas – católica, evangélica, espírita e outras – que pregam a ilusão da existência de um deus único e verdadeiro. Isso sim é que é primitivismo.
A filosofia não vende nenhum deus como as religiões acima relacionadas. A filosofia não cria nenhum deus, filho unigênito, virgem santa, espírito santo, nem se prende a bíblias ou congêneres. E muito menos busca enriquecer à custa do povo. A filosofia é a arte de pensar, coisa em falta no mundo de hoje. Façamos como Sócrates e perguntemos. Questionemos. Devemos questionar tudo. “O que é isso?” Sócrates jamais se contentou com as opiniões estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade e com as crenças mantidas inquestionáveis pelos seus conterrâneos. Na realidade, Sócrates desconfiava das aparências e procurava a verdade das coisas.
Sim, o mundo está a precisar de pensadores. O mundo precisa sair da mediocridade e das asneiras criadas por tantas religiões. O mundo precisa exercitar o livre pensar, principalmente, nós, brasileiros, que sofremos com a falta de uma educação humanista e filosófica. O Brasil jamais será um país civilizado se não exercitar a filosofia. Pensar nos leva a conquista da liberdade de todas as amarras e subserviências. Pensar ajuda a se libertar dos preconceitos e das discriminações.
Portanto, façamos como Sócrates. Auxiliemos as pessoas a libertarem suas mentes das meras aparências. Que elas direcionem seus cérebros na busca da verdade, mas também na busca do conhecimento interior: “Conhece-te a ti mesmo!”. Nessa linha de raciocínio, Sócrates mostrou como era importante a atitude crítica. Disse, e isso é muito necessário para nosso entendimento, que só estaremos aptos a conhecer a verdade, sendo críticos de nós mesmos, reconhecendo nossa ignorância: “Só sei que nada sei”. Desse ponto chega-se à conclusão que a filosofia está voltada para os momentos e situações críticas.
Assim, seguindo os princípios da filosofia socrática, voltemos nossos pensamentos para as questões humanas no plano da ação, dos comportamentos, das ideias, das crenças, dos valores. Preocupemo-nos com as questões morais e políticas. E mais: o ponto de partida da filosofia é a confiança no pensamento ou no homem como um ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão. Como se trata de conhecer a capacidade de conhecimento do homem, a preocupação se volta para estabelecer procedimentos que nos garantam que encontramos a verdade, isto é, o pensamento deve oferecer a si mesmo caminhos próprios, critérios próprios e meios próprios para saber o que é o verdadeiro e como alcançar a verdade em tudo o que investigamos.
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