domingo, 24 de julho de 2011

DEZ POEMAS DE SOFRIMENTO OBTUSO

- I -
DOR ELEMENTAR

Dores chamam gritos roucos
Aos lábios de quem busca calar
Roucos gritos chamam cruéis dores
No poema final a torturar
Carne e ossos e pele e memória
Fica a densidade da história
Em qualquer lugar
Dores reclamam atrozes precipícios
À boca de quem busca falar
Sorrisos no meio de suplícios
Escrevendo os versos
Da dor elementar.

- II -
PUNHALADA

Dor e gritos
Entra n’alma o punhal
Nada com nada a dizer
Ou simplesmente escrever
Ou ser ave e voar
Entra n’alma o punhal
Ao se tentar reconhecer
A vida num só lugar
Isso é tão irreal!

- III -
BOLERO

O som do bolero
Perdura dentro da noite
E a nota musical
Final
Fecha o último botequim
A poesia canta
O princípio do fim.

- IV -
SER

O ser em mim dança
O ser em mim escreve
O ser em mim canta
O ser em fim pinta
Um caleidoscópio
Horizontes rubros
E se tenta poeta
Como se tenta ser deus.

- V -
LÁGRIMA

A lágrima desceu
Na solidão da noite
De olhos enrugados
E a face esforçou a pele
Do entendimento
Para absorver a dor

- Incompreensão de mim -
Resta um espaço vazio:
Buraco negro
Da ruindade
Desta terra
Desta vida

- VI -
INCERTEZA

Não sei o que fiz de mim
Em tanto tempo de caminhos
Através de ilusões
E através de corpos
E através de escuridões
Não sei o que fiz de mim
Em tanto tempo de destinos
Através destas razões
Aos outros tão bastantes
De versos inconstantes.

- VII -
PRAZER

Amor...
Assim não verás de mim
O beijar mais quente
Amada...
Assim não terás de mim
O beijo potente
Terás sonhos
Coisas irreais
Amor...
Faz com que aumente
O ser de mim
Em desejos reais
Dentro de ti.

- VIII -
SOFRIMENTO

Esta noite está perversa
Com peculiaridades
De madrasta ruim.
Quero e nada posso ter
De mim foge o grito
De sofredor
Dores a sair de dentro
Por destruição de amor.
Esta noite é perversa
Com peculiaridades
De dia tempestuoso.
Quero e não tenho nada
Habita em mim a dor
Eu sofro.

- IX -
PARTIDA

Tranco os versos na arca
Mais cerebral de minha vida
Vou partir...
Não vejo mais teu sorriso
Mulher mais querida
Eu te entristeci
Tranco os poemas na mala
Mais cerebral de mim
As ruas são grandes salas
De velórios aos mortos
Que me habitam
Vou partir...
Não vejo mais tua alegria
Eu errei em tudo enfim
As estradas são túmulos
Dos mortos
Que me habitam.

- X -
APEDREJAMENTO

Passam pensativos e calados
Ao meu lado os seres amados
E ordenam o apedrejamento
Do poeta.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 9 de julho de 2011.

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