quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A VOZ DO HOMEM NO CAMINHO

Meu caminho foi desenhado como um rio de pedras
Onde águas deslizam por sobre areias subterrâneas.
Venho caminhando nas margens escondidas dessas águas
A buscar aquilo que o mundo deve a todos os poetas.
Se o ritmo trouxe minha memória até aqui tão perto
Pretendo receber o que me é devido
Antes de o rio subterrâneo despencar no mar de algum deserto.

Aos meus lábios trago vozes extraordinariamente metafóricas.
Ainda que meus ouvidos não sejam grande coisa no mundo
Venho caminhando nessas metáforas desde saber-me gente
A tentar desenhar o que tantos humanos jamais viram.
Se as tintas de minhas pinturas são tão rupestres aos olhares
Ainda assim quero receber o que me devem
Antes que as metáforas causem danos ao verso solto nos ares.

Não sei quem ou o quê me trouxe até este espaço vazio e oco
Nem sequer resolveram perguntar se eu tinha tento em vir.
Vim de um homem e de uma mulher que se amaram um dia
E também buscaram fazer no mundo uma reinação de sonhos.
Se a verdade desse amor me deu carne e osso e olhos e vida
Agora é que desejo receber essa dívida
Antes de a perdição criar uma estrada sem cor e sem saída.

Quero um passaporte novo para a ida sem precisar da volta.
Abram a fronteira para meu poema passar sem percalço algum.
Eu quis tanta coisa para mim e ganhei tão poucas glórias.
E dessas coisas poucas eu sou mais o máximo que o mínimo.
Se nesse assombro ao ler-me tantos olhos em mim pousam
Por tal fato desejo receber com juros o que me devem
Antes de os assombros tornarem-se coisas que não ousam.

Dêem-me licença para voar dentro de minha força!
Dêem-me licença para ser mais livre que tantos!
Não deixarei que forças fantasiosas molestem meu tempo.
Jamais serei fustigado por mentes imbecis e escravocratas.
Se se escandalizarem com esse poder de minha liberdade
Matem-me! Mas ainda morto irei atravessar toda a vida
Dono de meu destino. Dono de minha mais inteira verdade.

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