terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A FORTALEZA DA ILUSÃO

Na cidade a vida escorre como um rio. E um rio banha a cidade. O início do dia cidadão mostra a preguiça no correr das águas e nos olhos de sua humanidade. Com a passagem das horas todos os caminhos desembocam para o encontro de líquidos, junto com as luzes do entardecer e com o mistério da noite.
Viver a cidade é estar em sintonia com seus ritmos vitais. Olhar os homens em passagem para caminhos que não conheço. Olhar as belas, as feias e as remediadas mulheres que buscam com seus olhos convocar sonhos e ilusões. Desde o nascer do sol até seu poente, as horas vivem, nunca morrem em todos os caminhos de sua humanidade.
Mas a cidade tem seus ritmos abalados, tem suas belezas se apagando, tem seus tristes abandonados, tem suas crianças esquecidas, tem seus poetas sem nome tentando sobreviver com odes metafísicas e sem sentido.
No caminho de suas horas a cidade não dorme. O homem no caminho de suas horas vai perdendo lentamente a vida e se encaminhando para junto da indesejável. Na realidade, seus habitantes vivem em trâmites de solidão. Os mais amantes da cidade são os mais pobres e mais limitados financeiramente. Eles constroem os caminhos das horas cidadãs, com os desatinos comuns de qualquer raça.
Como um rio em busca da foz vive a cidade. Seu nome se abriga nas águas marinhas do Atlântico a tentar destruir pedras de proteção. E abriga a ilusão de que o amanhã poderá ser diferente. Como se o amanhã pudesse ser diferente quando as almas e os espíritos dos homens são os mesmos.
A realidade é mais forte que a ilusão.

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