Jardim São Paulo não é um bairro melhor ou pior do que os outros bairros do Recife. É o lugar onde moro. Por tal motivo é o melhor lugar do mundo para mim. Geograficamente, Jardim São Paulo está preso no meio de quatro bairros: Barro, Areias, Estância e Cidade Universitária. Na realidade estes são alguns dos seus limites de entrada e saída. É um bairro relativamente novo.
Na minha adolescência, o sonho de muita gente mais ou menos bem situada financeiramente era o de morar em Jardim São Paulo. Muitos concretizaram o sonho. Outros não. Não é um bairro chique, mas o preço de aluguel de uma casa ou apartamento no local está pelas horas da morte.
Quando se entra em Jardim São Paulo nota-se logo uma diferença em relação a outros logradouros. Parece um bairro fechado. Uma pequenina cidade dentro do Recife. As pessoas se conhecem, se falam, buscam saber das coisas, fazem fofoca e conhecem como ninguém a vida pregressa umas das outras. Tem igreja católica, templos protestantes, farmácias demais, padarias, mercado com nome e o mercado sem nome. Não se iludam porque este é o nome do mercado.
E coisa boa deste mundo: muitos botecos, onde os homens – em maioria – vão papear sobre futebol, mulher, safadeza em geral e política. Tem o meu Paço dos Mentirosos onde quem manda é Hércules, o famoso Boca Maldita. Do outro lado, existe o boteco da Cristina e o do Silva, cercado de outros dois, bem apertadinhos uns aos outros. Cheios de gente figurativa demais. Digo assim, porque os apelidos dos que aparecem por ali são bastante exóticos. Tem um cara chamado Pereba, que só bebe cerveja quente e fica sempre enfiando um dedo no nariz como a procurar um tesouro escondido. E mais: Xerife, Fariseu, Cão, Balbuíno, Espanador da Lua, Pagamento em Dia e o Peidorrento, Conheço todos esses caras.
As mulheres são muitas, demais até. Mas elas gostam mais da praça central, ou praça redonda, perto da igreja católica. Ao redor dessa praça uma infinidade de bares e farmácias. Não entendo o motivo pelo qual as farmácias de Jardim São Paulo gostam tanto de ficar coladas aos bares, se remédio para bêbado é apenas cachaça. Até barbearia conjugada com padaria e com um bar existe. E tem também o sócia do finado Miguel Arraes, que é barbeiro. Só perde no tamanho, mas a cara dele é igualzinha a do nosso finado ex-governador.
Durante a maior parte dos dias da semana os bares da praça de Jardim São Paulo se revezam em folgas. Se um fecha na segunda-feira, o outro fecha na terça. Tudo para que os seus aficionados não deixem de tomar suas biritas cotidianas.
E as meninas do bairro parece que também aprenderam esse rodízio. Namoram com um carinha no domingo, folgam na segunda, ficam com outro carinha na terça, e no sábado trocam de rapaz com as amigas. Ou será o contrário? Não sei. Essa não é minha área.
Como todos os bairros do Recife, Jardim São Paulo sofre com a violência. Mas já notei que é uma violência diferente. Parece uma violência familiar e caseira. Todos os marginais são conhecidos da polícia do bairro e também dos moradores. Tem gente que fala bem de um que foi enviado ao Presídio Aníbal Bruno por ter morto um velho de 75 anos, dizendo: “O pobre foi injustiçado”. “Conheço ele desde menino”. “É um rapaz simpático, a vida dele é que foi ruim”. Gente boa essa, né?
Não tenho nada a reclamar do bairro onde moro, nem de seus habitantes. Eles são paisagens variadas e dimensões diversas da humanidade que me cerca. Mas ainda assim, Jardim São Paulo se diferencia do restante dos bairros do Recife por ser o lugar onde moro, e todo lugar onde moro tem um quê de muito especial: é o meu point.
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