sexta-feira, 14 de março de 2008

O DIVINO UNIVERSAL

Com bêbados, loucos, religiosos, políticos, cientistas sociais
e decorebas não se pode dialogar sobre o assunto abaixo transcrito.
Eles se julgam os únicos donos da verdade.
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Foi numa conversa informal (há algum tempo) com um padre católico e um pastor presbiteriano – não citarei aqui os nomes deles, respeitando o pedido de sigilo de ambas as fontes -, que descobri o drama dos que tentam acreditar na “verdade” divina. O sacerdote e o pastor inúmeras vezes se referiram à palavra dogma. Disseram que suas igrejas tinham a base solidificada pelos dogmas. Se o que estava escrito, foi por obra e graça de um ser divino, não será um ser humano que irá desdizer esses dogmas, apenas por possuir dúvidas e não ter uma fé enraizada dentro de si. O padre católico salientou que o mito da Virgem Maria é um dogma e a fé dos cristãos nesse mito irá ajudar sempre na sua propagação. O pastor presbiteriano foi mais além e disse que fugir de um dogma é negar a existência de tudo. Se esse tudo foi escrito sob inspiração divina, como dizem os antigos, não podem existir argumentos contrários. Deus não erra, salientou. E a Bíblia é a palavra sagrada de Deus.

Porém, ambos observaram que, fugindo dos dogmas, podiam conversar como simples seres humanos pecadores e debater as incoerências existentes nos escritos religiosos. Mas antes iriam pedir perdão a Deus por esse tipo de comportamento, e que não mais estavam agindo como representantes Dele, e sim como homens comuns. Por serem os representantes da palavra de Deus na terra não podiam agir de outra maneira, explicaram. Assim, retornamos aos tempos mais primitivos da religião e discutimos assuntos que muito tinham a ver com a criação de Deus pelos homens. E a conclusão a que nós três chegamos foi unânime: não há uma certeza histórica sobre a existência de Deus e de Jesus Cristo.

No entanto, os dois - padre e pastor - mostraram preocupação. Temem que esse fato seja e possa um dia se tornar a verdade absoluta. Denotaram o temor de que o homem realmente tenha criado os deuses e que o Deus existente hoje seja apenas um milagroso remédio para aplacar suas dores de cabeça e o medo do imponderável. Ambos argumentaram que a fé em Deus é necessária para que o homem possa viver no planeta. A certeza de um lugar no paraíso celestial, do perdão de Deus para seus atos pecaminosos ajuda a melhorar o padrão de vida e a educar os seres humanos dentro de uma moral correta. Quando perguntei a eles que moral seria essa, fugiram pela tangente. A moral, disse eu, é algo que cada homem apreende vivendo em sociedade. E diverge de lugar a lugar, de país a país. Não é preciso acreditar em um deus para possuir uma moral. Mas acreditar numa mentira religiosa prova a falta de moral, ou até mesmo que o homem vive dentro de uma visão imoral de mundo. Além disso, debatemos a visão de estar no mundo sem um objetivo concreto. Eles disseram que se nascemos, vivemos e morremos sem um objetivo, para que servirá viver? Assim, preferiam ficar com as suas crenças e manter viva a chama da fé antiga, mesmo que Deus tenha sido criado pelos homens e tenha sua manutenção de divindade nas mãos das altas cortes sacerdotais de suas religiões.

Não cheguei a detalhar para ambos o meu argumento acerca da mentira criada por essas altas cortes sacerdotais com o objetivo de manipular o mundo de acordo com seus interesses. Discutir com pessoas cujos comportamentos são repletos de dogmatismos e que não podem fugir desse rumo, não vale a pena. No meu caso, dirão alguns, também existe um comportamento dogmático. Rechaço esse desvio de caminho. Sou um livre pensador e estou aberto às idéias e jamais preso a coisas preconcebidas e inseridas na mente humana como as únicas certezas da vida. Exatamente porque a vida não possui muitas certezas. Se conseguirem provar para mim que Cristo realmente existiu não como deus e filho de deus, mas como um ser histórico, eu talvez (digo talvez), possa oferecer minha mão à palmatória. “Você é igual a Tomé”, dirão católicos e protestantes. E eu digo: Tomé também foi um mito inserido nos evangelhos para rebater as idéias dos incrédulos. E, além do mais, eu detesto a idéia única, o pensamento único, o comportamento prefixado e politicamente correto. Prefiro inúmeras verdades a uma só mentira.

Um ser divino (caso exista um) não erra. Jamais vai errar. Mas um ser divino criado pelo homem com a imagem e semelhança do homem erra, e seus erros se propagam em turbilhões. Principalmente, porque não são os pobres e os humildes a se beneficiar com a fé que põem nessa divindade. Os pobres, os mais humildes buscam algo melhor. Colocam suas vidas nas mãos do divino e com a fé seguem suas regras sem perguntar de onde se originaram, apenas porque não têm outro rumo a seguir para ver seus filhos crescendo e vivendo em ambientes livres do arbítrio, da fome, da ignorância e da maldade inerentes ao homem. Grande ilusão!

Mas existe um divino bastante real. Nele os seres humanos ainda não começaram a acreditar. A vida eterna existe e não será com a morte que irá se acabar. O Universo está em constante renascimento e em eterna mutação e é nele que vivemos e dele viemos. Todo o Universo é feito de átomos, prótons, elétrons, seja lá que nome a ciência forneça, tal como nós seres humanos, animais e plantas somos feitos. Quando morremos, a energia que move nossos pensamentos se incorpora à energia universal e os átomos do nosso corpo se fundem aos átomos da terra. Somos eternos sim. Morremos e ficamos na terra com nossos átomos, que se espalham em todo o planeta como poeira. E a energia que movia nossas ações, nossa voz, nossos pensamentos também se incorpora à energia universal. O Universo é o divino que existe, e é eterno. Está sempre em contínua criação. E por criação devemos entender vida e morte em estreita comunhão. O que foi conceituado como alma e como espírito tem ligação íntima com o infinito do homem, ser que foi criado em uma área específica do Universo junto a tantos animais e tantos vegetais.

Algum dia o nosso sol irá se apagar e a vida na Terra, como a conhecemos, ganhará novo rumo. Pode ser que antes disso o planeta não agüente a ação predatória do homem e se destrua em uma explosão. Mas nem assim a eternidade irá se acabar. Os átomos remanescentes do Planeta irão, a partir daí, participar de uma área muito mais ampla: todo o espaço sideral. A aglomeração ocorrerá no centro mais desconhecido do Universo e nele os átomos irão viver indefinidamente, seguindo as leis químicas e físicas, e sejam lá quais forem elas e outras. A energia que move os corpos e que se apaga após a morte será reavivada em outros espaços do cosmo, em corpos de outros seres diferenciados da raça humana, mas nem assim menos universais. Estrelas também nascem e morrem, buracos negros deglutem sistemas estelares inteiros como a ciência de hoje está provando, planetas explodem e cometas viajam pela amplidão do cosmos até que possam encontrar um sol ou qualquer espaço novo dentro do infinito para um outro renascer.

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