sábado, 8 de março de 2008

OMBROS DO PAI

(Homenagem ao meu pai Ivanildo Lins Rocha falecido em 9 de março de 1991)

Muitas vezes meu pai ofereceu seu ombro
Para que eu pudesse dizer as minhas mágoas.
E dezenas de vezes (ah, essas lembranças!)
Deslizou seus dedos pelos meus cabelos
As mãos pela minha pele
Com o orgulho de um vigilante do meu tempo.
Pelas mãos de meu pai conheci caminhos
Ermos e perigosos e abismais
E escutei seus conselhos para caminhar
Naqueles onde meus pés pudessem sentir a planície.

Ele conhecia quase a fundo meus defeitos
Tanto os físicos como os do espírito
E muitas vezes pediu sem arrogância
Que eu construísse a vida afavelmente
Buscando entender a besta a viver nos outros
Mas nunca, nunca mesmo, baixasse a cabeça
Para os opressores e os arrogantes.
“Faça o que eu digo. Nunca o que faço”.

Muitas vezes meu pai fechou seus ouvidos para mim.
Fechou seus olhos e não quis enxergar minha vida.
E em quantos momentos (ah, essas lembranças!)
Aplainou carinhosamente os músculos do meu cérebro
Em silêncio, em seu constante silêncio,
Como um marceneiro a trabalhar na madeira bruta.
E era nesses instantes que eu o conhecia
Mais detidamente como o homem mais difícil
Que jamais tinha passado por minha vida.

Conheci os defeitos físicos e os do espírito do meu pai
Quando meus primeiros cabelos brancos nasceram
Ao ver que os olhos dele não tinham mais o brilho da vaidade.
E entendi que para se lapidar a vida
O homem tem de lapidar primeiro a si mesmo
E depois aceitar como uma dádiva o tempo em que viveu.
Dádiva entregue por algum espírito errante.

Hoje não mais tenho comigo os ombros do meu pai
Minhas mágoas preferem dormir na solidão eterna.


Um comentário:

An@ Acevedo disse...

Belissima e merecida homenagem. Parabens!!!!

Qto ao nosso encontro, vc vai precisar esperar mais um pouquinho pq ainda não está dando pra sair de casa por conta do Elvys. Mas prometo que faremos esse encontro e vou cobrar pelo exemplar visse?

Saudações rubronegras.