Como se vindos do nada meus pensamentos voaram sobre o Recife nas noites de solidão e de farra. Trouxeram lembranças de velhos amigos, cheiros de mangues, luzes amarrotadas das avenidas, olhares de mulheres e crianças tristes, e o grito de guerra do meu Sport. O Recife se fez gente. Trouxe até mim as mulheres, amigos de bebedeira, poesia e tudo que pudesse apaziguar a mente que não se cansa de pensar. Assim nasceu a palavra vinda de minha rocha.
terça-feira, 21 de julho de 2009
CRIANÇAS GLOBAIS
Nas esquinas e nos semáforos
Lá estão todos eles
Nos esgotos abertos das ruas
Estão vivendo todos eles
Correndo em bandos nas avenidas
Lá vão todos eles
Vendendo chicletes, chocolates,
A tentar limpar pára-brisas...
O mundo deles não é teu nem meu
Nós os vemos de dentro do carro
Ou no jornal nacional global
Ou escrevendo na internet
Ou aos domingos ou às quartas
Ou nos sábados e sextas-feiras
Em todas noites loucas dessas...
Eu os vejo fumando crack
Nos cantos escuros dos prédios
Ao sair hipnotizado do cinema
Ou de uma livraria com livros
Ligados às questões sociais
E quando em casa bebo uma cerveja
Escutando um rock ou Maria Betânia...
Eu os vejo todos em retratos
E lá vão eles em bandos na busca
De uma vida por um trocado
De um sonho por um espaço
De jornais para serem lençóis
E mais ninguém olha para eles
Parecem viver noutra dimensão...
Nem a mulher saindo da igreja
Rindo pelos pecados apagados
Livro negro no sovaco os olha
Tem medo de ter pena e sentir
Que seu deus é um merda
Seus evangelhos são vômitos
Para encher cofres de ouro...
Lá estão eles e todos vivem
Catando o lixo na busca faminta
De um pão duro ou um osso
De chupeta nos lábios e ainda
Conseguem sorrir e ter alegria
Para brincar nas calçadas sujas
E continuar sendo sempre
Meninos e meninas globais.
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© Copyright by Rafael Rocha Neto, Recife
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