O Dia da Mentira surgiu na França em razão da mudança na data da festa de Ano Novo, que antes era comemorada no dia 25 de março e, tendo a duração de uma semana, terminava no dia 1º de abril. Após a implantação do calendário gregoriano, o rei Carlos IX escolheu o dia 1º de janeiro para ser o início do ano. Porém, muitas pessoas não gostaram da mudança e continuaram fazendo suas festas na data antiga. Naquela época, as notícias demoravam muito para chegar às pessoas, fato que atrapalhou demais a mudança. Portanto, elas passaram a fazer brincadeiras e gozações com aquelas consideradas conservadoras, enviando-lhes presentes estranhos ou convites para festas que não ocorreriam.
Assim, a data passou a ser duvidosa, pois os resistentes nunca sabiam se tais convites eram verdadeiros ou não. Duzentos anos mais tarde essas brincadeiras se espalharam por todo o mundo, ficando a data mais conhecida como o Dia da Mentira. Na França seu nome é "poisson d'avril" e na Itália esse dia é conhecido como "pesce d'aprile", ambos significando peixe de abril. Pernambuco foi o primeiro Estado do Brasil a adotar a brincadeira, quando da circulação de um jornal chamado "A Mentira", em 1º de abril de 1848, tendo como notícia o falecimento de D. Pedro II. A notícia, como se sabe, foi desmentida no dia seguinte.
É assim que vemos o quanto a mentira é uma coisa bastante velha na política nacional. No fim de tudo, ela foi definitivamente incorporada ao nosso calendário, não devido à brincadeira feita pelo jornal "A Mentira" em 1848, mas em época muito mais recente. O Dia da Mentira sempre foi seguido no país como algo para se brincar uns com outros tal e qual se fazia em todas as partes do mundo, até que no dia 1º de abril de 1964 homens fardados unidos a determinados setores civis e a corporações capitalistas estrangeiras institucionalizaram a data.
E é este dia que pretendemos lembrar aqui. A data negra da história brasileira forjada nos quartéis e por civis locupletados com o capitalismo internacional e com o imperialismo ianque. Esta é uma data que jamais deve ser esquecida. É uma data verdadeira onde aconteceu algo horrendamente verdadeiro, criado por pessoas verdadeiras que levaram a nação brasileira durante mais de 20 anos a ver seus patriotas, jovens e velhos, homens e mulheres, serem perseguidos, assassinados, torturados e vigiados pelos usurpadores do poder democrático. A mentira era o que eles pregavam. Mentiam quando diziam defender os ideais democráticos. Falsearam até a data do golpe, repuxando-a para o 31 de Março no intuito de iludir a população.
O Primeiro de Abril de 1964 não pode ser lembrado como uma data para ser devidamente esquecida. Os problemas que estamos a sofrer na pele, hoje, tais como a violência, saúde sucateada, educação estrangulada e outros, têm ligação direta com o golpe militar que extinguiu a nossa engatinhante democracia da época, e com os 21 anos da ditadura dos homens fardados que prenderam, arrebentaram, mataram e torturaram. E enquanto torturavam e assassinavam os idealistas, apenas porque estes sonhavam com um país democrático, os títeres civis e os castrenses buscavam agradar às corporações estrangeiras, estas sim as grandes beneficiadas com o golpe.
A sociedade brasileira foi enganada durante anos pelos militares e civis golpistas. Eles falseavam tudo, fingiam e divulgavam que nada estava acontecendo de ruim no país e para isso tiveram a mídia como cúmplice. Tal mídia, quando não se calava por conta própria ou ficava ao lado dos títeres, era calada pela censura. Se hoje vivemos em um país mais democrático, o mérito todo é daqueles que lutaram pela legalidade, muitos sendo assassinados, torturados e perseguidos nos anos de chumbo iniciados em 1º de abril de 1964. Portanto, essa história nunca deve ser esquecida. Temos de repassá-la para nossos filhos e estes para nossos netos. Eles devem saber de tudo para que tal fato não mais se repita e para que possamos construir nossa história futura conhecendo bem o nosso passado.
Não custa nada, para finalizar, citar aqui a frase dita por Hannah Arendt: "Não há esperança de sobrevivência humana sem homens dispostos a dizer o que acontece..."
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