sexta-feira, 15 de abril de 2011

SOLIDÃO

Está deitada ao meu lado
Sorridente
Vestida de nada
Minha solidão.

Decifrá-la é a charada
Anda nua na estrada
No meio da multidão
Ela é demente.

Descubro o imanente
Ser solitário é doer
Mas é estar presente
No viver.

E a solidão vive
E abalroa minha história
E nem existe glória
De ausência.

Fecho a porta do quarto.
E ela grita: - Não tardo!
Irei no sonho comentar
O nosso fardo.

Loucura!
Não posso nem fugir!
Basta sentir
O só que não tem cura.

Minha solidão
Habita a solidão
Criada na razão
Desta canção.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 15 de abril de 2011.

REPAROS

Mergulhado no mais recôndito da memória
Sinto a minha largura toda neste mundo
E o espelho da parede conta uma história
Sem rumo e sem fundo.

E sem futuro
Pois nesse reparo de ver a humanidade
Do tanto que já tive de ver em cima do muro
Detesto alarde.

O mundo anda pelo avesso?
Ou será que são as cruzes
Criadas para dar-nos um peso
De fé no deus da morte e nos obuses?

Nessa finitude de estar e ser
Minha largura no mundo é a vida.
E nos olhos da amada posso ver
A ilusão perdida.

E sem outra lida
Sentar-me-ei numa mesa de bar.
Nada melhor que um chope gelado e uma batida
Antes de me deteriorar.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 15 de abril de 2011.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

IMPERIALISMO DESTRÓI SONHO REVOLUCIONÁRIO

Neste século 21 será que as pessoas ainda sonham? Os mais velhos ainda têm lembranças boas de quando eram jovens das décadas de 50, 60 e 70 do século passado e lutavam para transformar o mundo. A época era da Revolução de Fidel e de Che Guevara, época dos festivais de música, do tropicalismo, do cinema de Glauber Rocha. Época dos Beatles, do John Lennon e sua Imagine.

E hoje? Com o que os jovens de hoje sonham? A geração dessas décadas acima discriminadas tinha muita coisa pela qual lutar. Lutou! Conseguiu mudanças. Se ela perdeu ou venceu, não importa. Possuía ideais amplos e convergentes. Conseguiu em sua luta transformar os arcaicos costumes sociais. Liberar a mulher para exercer vida própria. Disse não a uma ditadura cruel e desumana. Alimentou a cultura mundial com novos ícones, novas leituras, novos rumos.

Não existia celular. Não existiam shopping centers. Não existiam seitas religiosas universais que fanatizassem a mente do homem e comercializassem o nome do divino para encher de dinheiro os bolsos dos pregadores. Mas o neoliberalismo e a globalização chegaram e imediatamente acabaram com os sonhos. Os jovens de hoje sonham, é claro. Mas sonham com riqueza, beleza, poder. Sonham consumir produtos caros. A palavra solidariedade desapareceu da linguagem da juventude atual.

Esses jovens de hoje são filhos de pais de uma época revolucionária, muitos deles filhos e netos de revolucionários. Mas seus sonhos foram roubados. Como eles irão sentir nostalgia no futuro? Seus pais sentem saudades das lutas ideológicas, dos filmes e das músicas legendárias. Os filhos irão sentir saudades daquele primeiro celular comprado numa lojinha de esquina! Os filhos, hoje, estão vivendo de uma forma tão liberal que os pais não mais conseguem acompanhá-los. Mas essa onda liberal não vem da luta, mas da mercantilização da vida.

O maior sonho de luta da geração dos anos 60 foi o socialismo. Nós, cinqüentões e sessentões de hoje sonhávamos uma sociedade livre da fome, da guerra, da exploração, da discriminação e da marginalização. Era nosso sonho de consumo. Queríamos transformar o mundo e não fazer como os fundamentalistas das religiões de hoje que só pretendem impor suas crenças a ferro e fogo. A geração dos anos 60 tinha como premissa criar uma sociedade nova. A derrubada e destruição dos governos capitalistas opressores. Jamais pensava na hegemonização religiosa ou na morte para se tornar mártir.

O capitalismo continua a ser um sistema perverso. Abusa do homem e da raça humana. Desencultura o homem ao globalizá-lo e escravizá-lo como um bicho qualquer, com o objetivo de trazer benesses a uns 100 ou pouco mais homens que se dizem donos (ou pensam que são) do planeta. Nossos sonhos transformaram-se em pó. O socialismo esperado transformou-se em ditadura de partido único e os crimes contra a raça se multiplicaram. Como bem disse o humanista Hesíodo, poeta do século IX a.C., em seu famoso texto “Os Trabalhos e os Dias”:
“Os contraventores saquearão as cidades uns dos outros e o poder fará a lei e o pudor desaparecer.”

Os sonhos continuam sendo roubados? Infelizmente não existem mais sonhos. Existem mercadorias nas prateleiras. Uma mercantilização da vida que leva a violência para as ruas e para a instituição familiar. Existe o imperialismo político das grandes nações. O mundo hoje é um grande Big Brother. O Grande Irmão de George Orwell abre os braços para acolher os antissonhos, e prega a guerra e a destruição célere do planeta Terra. E propaga aos quatro cantos do mundo o dogma capitalista de que “fora do mercado não há salvação”.