

Carnaval no Brasil serve como uma válvula de escape para os problemas do cotidiano. Carnaval no Brasil é um tempo para o povo liberar a adrenalina e reinar soberano sobre seus governantes. Carnaval no Brasil é tempo de paixão. Amor e sexo misturam-se. São fugazes e passageiros, claro, mas é no Carnaval que seus prazeres são mais constantes e libertos dos preconceitos e discriminações.
Os catastrofistas lembram que falta pouco tempo e este será o último carnaval do planeta antes do fim do mundo, de acordo com a profecia maia. Então, meus camaradas, se o mundo que conhecemos vai acabar de fato, o que estamos a fazer aqui parados? Vamos nos esbaldar em nossas paixões! Vamos cair no samba! Vamos rebolar e saracotear ao ritmo do maracatu! Vamos frevar, ferver! Nada mais nos restará? Restará, sim. Restará a certeza de que não perdemos tempo e curtimos até o fim a vida.
O Carnaval de Pernambuco, particularmente o do Recife, tem história cultural vinda de tempos muito longínquos. A burguesia tentou sempre fazer com que o Carnaval recifense ficasse restrito às elites. Os seus clubes Cavalheiros da Época, Cavalheiros de Satanás, Nove e Meia do Arraial, Conspiradores Infernais, Fantoches do Recife abrilhantavam o reinado momesco pelas ruas da capital pernambucana com cortejos de carros alegóricos. Com o passar dos tempos a cultura carnavalesca do Recife ganhou novos rumos para felicidade geral da população pernambucana.
Os chamados clubes do povão nascidos no Recife, inspirados no decano Caiadores (1886), adotaram por nomenclatura termos evocativos do trabalho com o qual estavam acostumados a lidar: Vassourinhas (1889), Pás (1890), Lenhadores (1897), Vasculhadores, Espanadores, Abanadores, Empalhadores, Ciscadores, Carpinteiros, Marceneiros, Sapateiros, Funileiros, Pescadores, Charuteiros, Talhadores, Suineiros da Matinha, Engomadeiras, Quitandeiras de São José, Chaleiras de São José, Parteiras de São José, Costureiras de Saco, Caixeiras, Cigarreiras do Recife, Cigarreiras Revoltosas, Talhadores em Greve, Malhadores em Greve, Mocidade Operária, Lavadeiras e outros. Muitos já se extinguiram. Vassourinhas, Pás, Lenhadores, Lavadeiras de Areias continuam vivos.
De repente, eis Sua Majestade, o frevo. O ritmo veio da troca espontânea entre os despretensiosos e ágeis foliões e as orquestras de metal, geralmente formadas por bandas marciais. Aos poucos foram sendo criadas as marchas carnavalescas. Sempre na rua, sob o delirar dos corpos suados, seguindo-se os dobrados de inspiração militar, polcas, maxixes, quadrilhas e modinhas. Todos esses ritmos foram nascendo entre os anos de 1905 e 1915, ganhando novas formas e combinações e deles saiu o frevo pernambucano, embora a música ainda não fosse assim chamada. Num crescendo, o Carnaval do Recife alcançou os tempos de hoje. São tempos modernos, mas a Sua Majestade, o frevo, continua a reinar. O alucinante ritmo, nascido da alma do povo, já é totalmente consagrado como símbolo da identidade cultural pernambucana. Para sempre!
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