quinta-feira, 13 de março de 2008

MORTE, ALMA, ESPÍRITO E VIDA ETERNA

Com bêbados, loucos, religiosos, políticos, cientistas sociais
e decorebas não se pode dialogar sobre o assunto abaixo transcrito.
Eles se julgam os únicos donos da verdade.
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De todas as lacunas que o homem preencheu para fugir do terror da morte, os deuses ou o deus que conhecemos e que o ser humano inventou, a esperança da vida eterna é uma delas. Essa esperança veio encaixotada na invenção dos deuses e de deus pelo homem. E é nessa necessidade e nesse sonho que o homem vive. Esperando ser eterno. Viver uma vida melhor. Reencontrar seus parentes mortos do outro lado, naquele espaço desconhecido de sua razão. Todas as religiões prometem uma vida eterna para o ser humano que seguir as regras de suas divindades. Isso vem de tempos remotíssimos. Com a evolução e com o canibalismo das divindades antigas por outras mais recentes, o medo de morrer tornou-se ainda mais feroz. O homem, na esperança de uma outra vida, sonha e cria posteridades para alma e espírito em um espaço benfazejo e puro.

Eis aí que o Nirvana budista, o paraíso das 72 belas virgens dos muçulmanos, o maravilhoso céu dos católicos, o reencontro com o Cristo dos protestantes, a reencarnação dos espíritas formam um lugar comum e reinos encantados para acabar com a miséria humana e manter a vida no além-túmulo. É impressionante como o homem possui o dom de inventar contos de fadas para salvar-se ele mesmo das dores que causa a si próprio. É impressionante como o homem de hoje, um ser que se diz vivendo na idade da Razão, imbuído de conhecimentos mais profundos do que seus antecessores, continua a acreditar que após a morte uma vida de glória estará a esperá-lo em outro espaço universal ao lado do seu deus.

O ser humano e a vida humana são algumas das verdades mais completas. A morte é o elo que liga os átomos corpóreos aos átomos universais. Sim, e é bom que a raça humana procure se acostumar com essa verdade. Nada mais existe depois da morte a não ser a transformação do corpo em poeira e da energia pensante do cérebro em um vácuo infinito. Sei que será péssimo para o homem descobrir e enfrentar essa realidade. O homem ama e adora viver. Ele deseja se manter na eternidade de outra vida, ainda que essa eternidade seja a de queimar no inferno ou apodrecer no purgatório dos católicos. Tantos mitos sobre alma e espírito foram criados pelo homem que para assinalar aqui todos eles, precisaríamos de quilômetros e mais quilômetros de espaço. O homem deseja tanto continuar sua vida além da morte, que criou e inventou diversos termos de eternidades.

Por que o homem acredita que após a morte existe outra vida nem que seja para pagar pelos pecados da vida anterior? Nem que seja para habitar no inferno junto do mito que também é Satanás? Por que tantas pessoas acreditam nisso? Quando alguém morre, as lágrimas deslizam dos olhos humanos. Se for alguém de nossa intimidade, a dor é ainda mais forte e lancinante. Todo mundo diz que esse lamento, essa dor, esse chorar diz respeito à saudade que estamos a sentir da pessoa que parte deste mundo. Tenho uma teoria pessoal: o homem sabe tão bem, dentro dos seus chips programados desde a aurora dos tempos, que nada mais existe além dessa vida, que esse lamentar é a antecipação do seu próprio lamento. Ele não chora o amigo, o irmão, o pai, a esposa, o filho que se vai. Ele chora por si mesmo. Ele chora por saber que a morte também irá alcançá-lo um dia e retirá-lo deste planeta para sempre. E dentro dos seus chips atômicos e cerebrais, ele também sabe que nada existe além.

Por pior que seja a vida que vive neste planeta, o homem deseja que ela perdure. A morte é sua inimiga mais cruel. Assim, ele busca apoio no beneplácito dos deuses criados por ele, cria uma certeza de que deve e tem de existir algo fora desta vida. Ele observa a complexidade do universo, a beleza do planeta, os mares, os rios, os animais da terra, as belas flores, olha para o céu e vê o tremeluzir das estrelas e se pergunta: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Ele tem as respostas. Porém, não grita que é uma mísera parte do universo atômico. Não afirma ao outro e a seu próprio ego que veio de uma evolução gradativa e natural, ainda muito difícil de entender, nascida do hidrogênio puro e de uma grande quantidade de energia. Tem medo de acreditar que vai retornar ao mesmo pó atômico de onde nasceu e nele ficará para toda a eternidade até que o universo se destrua.

O homem faz o contrário: “Eu sou filho de um Deus bom e magnânimo. Um Deus que me receberá após a morte e perdoará os meus pecados desde que eu o aceite como meu Pai e Senhor”. “Eu vim de Adão e de Eva, aqueles que Deus colocou na Terra, mas que desobedeceram ao Pai e criaram essa tragédia suprema da morte”. “Eu vou para junto do meu Pai Eterno um dia, mas antes terei que expiar pelos meus pecados para merecer o céu ou o paraíso ou o Nirvana”. Ou então, “eu pago pelos pecados cometidos em vidas passadas, e retornarei à vida em outro corpo para cumprir o que está determinado e evoluir até me tornar puro e casto aos olhos de Deus e viver para sempre junto Dele”.

Tantas ilusões foram criadas pelo homem para ser eterno! Em sua majestade ele esquece de viver o presente de sua vida para adorar deuses, santos, imagens de barro e de pedra, livros ditos sagrados e imaginar um futuro radioso em outro mundo. O que essa ilusão traz de bom para a raça humana? Nada! Tal como os deuses criados pelo homem, a manutenção da ignorância traz a morte mais depressa. Ele esquece de manter a vida como ela é para entregá-la de graça à mentira dos deuses e aos cofres das igrejas. Na realidade, o homem devia ter uma visão mais realista de si mesmo. Acreditar que é uma vida planetária e que a morte faz parte da igualdade dele com o cosmo. A única vida eterna em que o ser humano deve acreditar é de que vive em um imenso e eterno espaço sideral. De que é composto de partículas atômicas em meio a milhões de outras partículas atômicas. E que, ao morrer, os átomos de sua carne se transformam em poeira, se fundem em pó, e voltam a fazer parte da realidade cósmica. Fora isso, nada mais existe.

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