quarta-feira, 6 de maio de 2009

CIDADE LIBERTÁRIA



Não é por nada não, mas tem dias que a gente precisa falar de nossa casa, de nossa terra e de nossa gente. Por que não lembrar ao mundo que vivemos em um espaço mais amplo de terra sólida e molhada? Mas antes, achei de bom alvitre falar do Recife, a capital de Pernambuco, a metrópole do Nordeste.

Claro, que não vou tirar méritos de outros lugares de outras casas e de outras gentes. Antes de mais nada, considero Salvador, a capital da Bahia, o berço genético do Brasil, e antes, de o Recife dar início às suas contribuições culturais, já os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão e São Paulo estavam contribuindo com seus intelectos para a cultura nacional. O Recife, no entanto, representa o poder da criatividade e da aventura. Isso tanto no plano do desbravamento do espaço como no de produção intelectual. Essa produção intelectual chegou tardiamente, mas quando chegou foi potente, dinâmica, desde o surgimento do primeiro movimento criativo com a Escola de Direito.

A cidade de Olinda, cantada em prosa e verso por tanta gente, foi a primeira cidade pernambucana de grande relevo. Foi nesta cidade que Bento Teixeira lançou a sua Prosopopéia, no Século XVI, poema épico em homenagem ao capitão governador de Pernambuco, Jorge de Albuquerque Coelho. Nesse poema, a cidade do Recife recebe sua primeira apresentação: “Um porto tão quieto e tão seguro / Que para as curvas naus serve de muro”.

Foi na capital pernambucana que nasceu o primeiro movimento republicano do Brasil, em 1817. E, após o regresso de D. João VI para Portugal, os pernambucanos não aceitaram Dom Pedro como soberano e deram início a outro movimento separatista com o nome de Confederação do Equador, isso em 1824. O mais antigo jornal em circulação na América Latina também nasceu no Recife, o Diário de Pernambuco, em 1825, fundado pelo tipógrafo Antonino José de Miranda Falcão. No ano de 1827 foi criada a Escola de Direito, em Olinda, que logo depois se transporta para o Recife.

O que se nos apresenta, a partir de então, é que o Recife tornou-se o berço de uma atividade intelectual de primeiro relevo para a história moderna brasileira. Desta cidade nasceu o primeiro grande movimento abolicionista. Nela aconteceu a volta das idéias germanistas de Tobias Barreto, Clóvis Bevilaqua e Sílvio Romero, inclusive da poesia do baiano Castro Alves, líder intelectual do movimento “condoreiro”.

Fora isso (poderia enumerar muitos outros aspectos ligados a esta dissertação), o modernismo brasileiro na cultura deve muito ao Recife e a Pernambuco. Um dos modernistas mais emblemáticos foi o poeta recifense Manuel Bandeira (1896-1968). E como deixar de incluir, para conhecimento de todos os nossos membros não-recifenses, o nome de Gilberto Freyre, os avanços historiográficos de Câmara Cascudo, a poesia de Carlos Pena Filho, Mauro Motta, Ariano Suassuna, o poeta João Cabral de Melo Neto, o pedagogo Paulo Freire?

O que vemos é que a cidade do Recife é uma cidade libertária. Impregnada de idéias revolucionárias. Representa a alma altiva do pernambucano de todos os quadrantes do mundo, e está aberta em toda sua imensidão cultural e de beleza àqueles que desejarem senti-la, vivê-la, amá-la.

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