quinta-feira, 24 de junho de 2010

O MORTO

Tarde!

Mas cansado não estava. Abriu a porta da rua. Entrou. A sala às escuras. Tateou a parede. Luz.

Sentiu sede, mas antes tirou a camisa. Sentia calor. Vinha da sede o calor? Ou o calor dava sede? Riu de suas perguntas. Assim se faz o inicio do louco. Encheu um copo com água. O líquido desliza pela garganta. Melhora a secura. Umidifica.

Mas o sabor não sai. Tira toda a roupa. De cuecas ruma para o quarto. A mulher dorme quase nua. Mas sente o abafado do aposento. Odor de suor da fêmea. Mas isso não o excita, pois o sabor não sai.

Volta a sala e sente agora outro odor. Aquele deixado do outro lado da cidade. O do corpo de Marcela. Fecha os olhos. E assim sai voando, sentindo, cheirando... E o sabor volta, não sai. Fica.

Acende um cigarro e se esparrama na poltrona da sala. Olha o relógio. Quatro da matina.

Tarde!

Mas cansado não estava. Seus olhos fitam o teto. Sente de novo o cheiro deixado do outro lado da cidade. Marcela. Marcela. Marcela. E nela se envolve junto com a fumaça no cigarro e com o sabor da carne macia e com o odor da pele e dos cabelos.

Agora está excitado. Mas o calor da sala começa a abafar e a fazer o suor escorrer. Apaga o cigarro. Ruma para o quarto. A mulher dorme agora coberta pelo lençol branco. Deita-se ao lado.

O ventilador de parede faz um zum e zum extraordinário nos seus ouvidos. Tira a cueca. Está morto. Ri com o fato. Pega o morto. Solta o morto. Que coisa! Isso também faz o início do louco.

A mulher rola na cama. Um dos braços dela cai sobre sua barriga. A mão toca o morto. Ele fica teso. Está morto mesmo. Porra! Espera. Volta a escutar o zum zum do fazedor de vento. O morto é agarrado. Apertado. Porra! O morto acorda e ele volta do outro espaço.

Apenas um sonho!


© Copyright by Rafael Rocha Neto, Recife, 23 de junho de 2010.

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