Como se vindos do nada meus pensamentos voaram sobre o Recife nas noites de solidão e de farra. Trouxeram lembranças de velhos amigos, cheiros de mangues, luzes amarrotadas das avenidas, olhares de mulheres e crianças tristes, e o grito de guerra do meu Sport. O Recife se fez gente. Trouxe até mim as mulheres, amigos de bebedeira, poesia e tudo que pudesse apaziguar a mente que não se cansa de pensar. Assim nasceu a palavra vinda de minha rocha.
terça-feira, 1 de junho de 2010
PRIMEIRO PARTO POÉTICO - 1979
MEIO A MEIO - Meu primeiro livro de poesias, nasceu após muita luta e quando ainda cursava Jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco. O livro é fruto de uma época de luta contra a ditadura e contra os preconceitos e discriminações. Foi lançado no mes de setembro de 2009, na Casa da Cultura do Recife e bem recebido pela crítica. Produção independente, como acontecia na época. O autor pagava do próprio bolso a confecção de suas obras. Abaixo insiro o poema que dá titulo ao livro e mais dois.
MEIO A MEIO
Aqui a poesia
Vem pela metade
Abre-se para o espaço
Reafirma-se mais.
Reafirma-se mais
Ouve a voz do tempo
Angústias e tormentos
Dos poetas que sofrem.
Os poetas sofrem
Porém são mais felizes
Arremessam-se viris
Em todas as fronteiras
Nas fronteiras todas
Baionetas caladas
Atravessam os poetas
Sem terem convites
Eles reafirmam-se mais
Abrem-se para o espaço
Juntam-se à outra metade:
A poesia, aqui.
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CONJUGAÇÃO DO PRESENTE
Retrato vitalício de angústias
Arrendamento de artérias sanguíneas
Os canibais povoam as ilhas isoladas
Dos neutros homens.
Prolongamento de túneis petrificados.
Rios de poeira comprimindo as pálpebras.
Noites de intensas lágrimas e sangue, imoladas
Nos neutros homens.
Comboios de desejos em condensações.
Trilhos de ferro negro onde geme-se dormindo.
Casas caiadas de branco e habitantes cinzentos abraçados
Aos neutros homens.
Vestimentas de aço e mãos que estrangulam flores.
Manadas de javalis selvagens, ferozes e famintos.
Estão sendo sugadas as artérias dos homens neutros
Em transes infinitos.
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ÀS ESTÁTUAS VIVAS
Os homens estão perdendo as auroras
Na noite negra que desaba sobre o mundo.
Junto a que ideal anda a palavra de ordem
Para essa dor que rola aos nossos pés?
Palácios são erguidos aos caudilhos da Terra
E o construtor de estátuas perde-se no crepúsculo.
As faces dos homens andam feito pedras.
Por que eles estão distantes?
Por que eles estão tão frios?
De hora à outra as auroras adormecem
E uma noite negra desaba sobre os homens.
Apenas uma ansiedade envolve sua história
Num surto de gritos, gemidos e belicismos.
Mas, mesmo com os olhos buscando o orvalho,
Os homens deixam-se a vagar no frio do inverno.
E palácios são erguidos...
Palácios são erguidos aos caudilhos da Terra!
E os lapidadores da pedra dormem sob a lama!
Por que eles não acordam?
Por que são tão frios como estátuas?
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Versos escritos entre os anos de 1975 e 1979
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