sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

ICONOCLASTIA

UM -

O acaso da vida vem no som obscuro do nada
A tremeluzir nas abóbadas das mais frias noites
Meus dedos digitam letras em contrações tímidas
Lutando contra as irrealidades escritas por homens.

Eu! Um poeta desconhecido a caminhar sozinho.
De alma errante nos pesadelos do meu caos.
Eu não quero silêncio. Sou o poeta dos gritos.
Transmito a morte de deus e o prazer do homem.

Não terei rimas às adorações dos grandes ídolos.
As horas estão paradas. Ídolos são meras ilusões.
Escrevo a lutar contra as mentiras descabidas
De santos, de cristo, de buda e de virgens católicas.

Dizem que a dor persegue meu sangue monstruoso
Mas eu falo as palavras sinceras do profundo nada.
Meu corpo pede uma mulher. Minha boca um ósculo.
Minhas mãos pedem outras mãos. O cérebro pede vida.

O som do obscuro labor de um deus perverso
Voeja nas mentiras escritas por homens insensíveis.
Toco fogo nas bíblias e nos catecismos das igrejas.
E admiro as labaredas erguidas no altar do tempo.

Eis o poema vindo de tantos anos antes de mim.
Eis a forma perfeita do voo do pássaro livre.
No vento a poesia dardeja as letras da liberdade
Sem altares ou sacrifícios. Apenas carne humana.


DOIS -

Ergo-me em sangue
Sou iconoclasta.
Ergo-me em pele.
Sou legião de letras.

Bailarino imenso/insano
Danço, danço, danço
As músicas do caos
Vivem nas ruas ermas.

Estou de pênis ereto
Ah, mulher vadia!
Não sou pecado cruel
Sou homem são.

Sou músculo e no ar
Gargarejo o palavrão
Da foda múltipla
Sem recalques.

O poema é um grito
Ao tudo e ao nada
Habitante do acaso
Do mundo azul.


TRÊS -

As vestes dos padres necessitam de traças
Livros de deus e satã precisam do lixo.
Cruzes das paredes têm de ser retiradas
Para a liberdade do homem amanhecer.

Sermões de pastores precisam de cale-se.
As mentiras bolorentas têm de cessar.
Púlpitos têm de abrigar vozes de poetas
Para a liberdade do homem amanhecer.

Neste meu surto de versos iconoclásticos
O cosmo infinito tem espaço em si.
O corpo nu da mulher e o orgasmo suado
Campeiam nos sons toscos de minha lira.

E nas ruas homens vazios teimam em crer
Na tendência do morrer levar à outra vida.
Ingênuos não veem a vida como unidade
E os vermes habitantes da casa da morte.

Ah! Danço, danço, danço, danço e danço...
Sigo as coxas das mulheres mais putas.
Ah! O gemido do orgasmo prepondera
Nos líquidos vaginais em mel e sêmen.

Sou homem, minha gente! Estou vivo!
Sou poeta e dono de meu ser inteiro.

“Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.”


QUATRO -

Deus é um anestésico. Deus é um ópio ruim.
Não existem coisas do além para adorar.
Satã é a mentira do antônimo do deus
O único fogo real é o fogo do prazer da vida.

Estou saindo de um longo exílio letrístico.
E deixo de mostrar piedade aos religiosos.
Pretendo transformá-los em estátuas de sal
Após a explosão da bomba nos livros “santos”.

Ana, Paula, Márcia, Maria e todos os nomes
Vinde até minha cama curtir o deus peniano
Em idas e vindas e penetrações variadas
Eu deixo olharem as ações pelo espelho.

Este sou eu. Sou ateu! Múltiplo pedra e areia.
Não tenho fé em coisas do outro mundo.
Deixei de acreditar em histórias de trancoso.
Hoje lanço farpas contra igrejas e templos.

Sim, escreverei os poemas da vida eterna.
Vida marcada no sangue deixado no mundo
Desde a eternidade de meu pai e minha mãe
Desde o nascimento de meus filhos.

Sim, escreverei os poemas imortais no livro
Eles serão chamados de blasfemos delinquentes
Rirei de tudo isso e farei só uma pergunta:
Onde o deus que não interage com os homens?


CINCO -

Ele não é nada amada, amante.
Ele não existe amada, amante.
Pecado é uma ilusão para vender
Imagens de cruzes e de bíblias.

Amada, amante, nua e benéfica
Sobe sobre mim teu corpo. Cavalga-me!
Amada, amante, nua e suada
Leva à tua boca o leite de meu ventre.

Chupa-me! Fode-me! Dança em mim.
Chupo-te e fodo-te louco por tua vida!
A flor do ventre se entreabre inteira
E a agarro para minha paixão de pedra.

Teu corpo é o corisco dessa paixão.
Tua boca sussurra todas indecências.
Tua bunda é a deliciosa cordilheira
A ser escalada por meu labor de macho.

O teu cheiro vivaz saltita como a noite.
Amante! Teu sabor é sal e glória.
Amante! Tua saliva é o xarope
Contra as dores das prisões e do caos.

Amada, amante, nua e poderosa
Deita-te e espera meu entrar em ti.
Serei o real deus vivo nas tuas entranhas
E far-te-ei um filho e o poema de um filho.


SEIS –

Deram 666 como nome eterno do inominável.
Minha gargalhada voa sobre casas e oceanos.
Os fundadores de seitas são mentes criativas
Artistas em gozos molhados nas coxas das amantes.

Deram 666 como o termo de um filho de chifres.
E eu zombo da merda desses bruxos idiotas.
Mas nos refluxos de gente nas casas da cidade
Os crentes se amedrontam e se retorcem de medo.

Grandes e ricos templos abrigam a mentira infame
De um deus vencedor do inominável ser das trevas
E o dinheiro escorre nos sacrários e nos vestíbulos
Para o bem dos exploradores da ingênua fé alheia.

Passam mulheres e homens a viver loucuras subumanas
Ainda trazendo em si o 666 em fragrância e estilo.
Têm uma febre de crença no vencedor apocalíptico.
Têm um medo inexplicável do filho invisível da treva.

O inominável vive na irmandade do deus recriado
Nas priscas eras da Terra pelos ricos sacerdotes
Adoradores da cruz e dos pregos no monte Gólgota
Torturadores da carne e das mentes da humanidade.


SETE -

Meu grito é doença venérea:
Pouco me importa deus e diabo!
São duas merdas traiçoeiras!

Meu grito é de renegado:
Fé é coisa para medrosos!
Não tenho vocação para o medo!

Meu grito é de eternidade:
Está escrito! Está escrito no poema:
A raça humana vive em eterna mentira!

E existem os mestres de teologia!
E existem os donos da moral!
Merda! Será que eles sabem o fazer?

E são capitalistas loucos
Os representantes de deus e de satã.

E são publicitários do pecado
Arma atômica do todo-poderoso.

Meu grito é iconoclasta:
Ópio e sono dentro das almas
Trazem o deus perverso em livro santo.

Em letras de abençoamento
Nas cédulas do nosso dinheiro.

Em shows hollywoodianos
Nas missas e nas prédicas.


OITO –

Peguei o corpo de uma linda mulher na cama
E na madrugada tingi sua pele toda com lágrimas
Era uma puta doce e triste das ruas da cidade
Ela dizia graças a deus e deus me livre do mal.
E em sua bendita bunda deixava minha parição
De orgasmos nascerem furiosos em descarregos
E gemia em putice: Oh, deus! Oh, deus! Oh, deus!
Isso é bom! Oh, deus! E o deus gozava por ela.

Peguei o corpo de uma linda mulher na cama
E na madrugada tingi seu corpo com espermas.
Era uma mulher comum e mãe de meus filhos
Ela não dava graças a deus pelos orgasmos da vida.
E nem dava a bunda. Dizia: isso é coisa do diabo.
E nos seus descarregos de gozo calava-se.
E se gemia no interior não dizia Oh, deus! Oh, deus!
Ela jamais diria deus toda nua e no gozo da carne.

Todas as duas são mulheres surdas à verdade.
Todas as duas são mulheres abertas à mentira.
Padres e pastores têm nelas campos abertos
A serem arados com as oratórias das divindades.


NOVE -

Um pássaro canoro voa ao meu redor
Não mostro gaiolas para o seu canto
Digo: Fica no ar e solta teus trinados
Chama se alguém trouxer grilhões
para o teu canto incomensurável.

Voa, pássaro, mostre-se como o poeta:
Respire o ar invisível do planeta
Faça coro com as montanhas e os rios
E com o vento entre os galhos das árvores
Antes de morrer. Permaneça livre.

Homens de olhos abertos para a terra
Andai de cabeça erguida. Nada de escravidão.
Mulheres belas, feias e todas: o saber
É o viver do perene espaço de tempo
Entre paixões, músicas, danças e orgasmos.

Abram livros escritos por poetas malditos.
Leiam os versos libertos das fantasias
E possam dizer a vida como esse pássaro:
Cantar a liberdade longe de salvadores
Criados pelos sermões das montanhas.

A vida possui o prazer alado. A vida é vento.
Nada de ser escravo de uma fantasia humana.
A vida também é rio em busca de oceano
E homem e mulher tem de saber seguir a trilha
E não pôr-se presos em grilhões a bem da mentira.

Pássaro canoro! Voa! Voeja sobre o ar terrestre!
Serei companheiro e vigilante do teu canto.
Livre és mais forte que todos os livros santos.
Pássaro! Mostrai às mulheres e aos homens
A grandeza de tua liberdade no espaço.


DEZ -

Mulheres para mim são as minhas catedrais
A elas ofereço meus sutis poemas de amor.
Corpos a dar prazer intenso molhado e vivaz
Onde despontam seios em gestos de louvor.

Nada de cruz a trazer a mim ventos sepulcrais
Quero uma boca rubra em lúbrico salivar
E quando tiver de escrever a palavra jamais
Possa partir sem prometer um dia o voltar.

O prazer será a chama e a mais fiel doutrina
A fazer a vida fulgir no mais vibrátil olhar
Antes de o fim marcar a sua ingrata sina.

Serei mundo e serás minha sempre no passar
Do instante feminil dessa bela alma ferina
Dizer-se atéia e bem-vinda ao tempo me adorar.

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