A chuva do mês de janeiro é chamada de chuva de verão. Como se sol houvesse a esquentar as águas.
Quando eu era garoto as chuvas de verão marcavam quantos dias de inverno iriam ocorrer no ano. E quantas tanajuras iriam cair quando elas amainassem no fim da tarde. Hoje, quando se fala de chuvas de verão, nota-se nos olhares de muitos um temor em suspense. Chuvas de verão hoje não são proféticas. São assassinas.
Dizem que tudo isso é causa e efeito da raça humana. São os espectros de uma construção sem estrutura no ambiente terrestre. Sequelas que a raça tem de aceitar, pois agitou seu habitat para adoecer no fim.
Lembro de quando chovia num dia 15 de janeiro de há cinco décadas. Eu e meus irmãos e minha mãe em casa. Hora do almoço. Portas e janelas fechadas. De repente, os cachorros latem. Batem estrondosamente na porta.
- Fiquem calmos! Vou ver quem é! – disse o nosso pai.
Levanta-se e se dirige à porta. Ao abri-la depara-se com o seu próprio pai que nos tinha vindo fazer uma visita. Completamente ensopado. Enlameado. Escutei o suspiro de alívio dele ao ver o filho abrir a porta e recebê-lo.
- Ainda bem! A coisa tá feia lá fora!
- Ora, pai! É apenas chuva! – redargüiu meu pai.
- Por hoje é apenas chuva. Veremos daqui a alguns anos – tonitruou meu avô.
No momento não entendi como uma chuva de verão poderia se tornar outra coisa depois de passarem alguns anos. Hoje já se passaram muitos anos. Meu avô morreu. Meu pai morreu. E as chuvas de verão matam.
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© Copyright by Rafael Rocha Neto, Recife, 24 de fevereiro de 2011
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