terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ARREPENDER

Dor a perpassar em vida o sacrificio
De existir assim amor desencantado
Ódio indomado do eu inimigo
A comungar ira com seu sabor amargo

Na viagem feita em mim perpasso
Erros sombrios e vários desatinos
E maculo o solo sem o ter sagrado
E proclamo tal dor como um vício

Arrependido este poeta se contrita
Dentro dele deixa cair a lágrima
Do erro dessa história inconclusa

E tenta sob o sol abrir as asas
Mas a cera de Ícaro despetala
A dor maior de sua triste musa.

SAUNA NOTURNA

Camarada...
A noite de ontem estava quente
Como se um sol estivesse presente
A nos fazer perder a distração
Das loucuras taciturnas
De nossas inocências pueris.

Camarada
Vários copos de cerveja nos distraem
Mas o poemar relampeja mais
E na penúria da solidão
E dos últimos goles alcoólicos
Sabemo-nos em paz

Camarada
Poderemos criar uma ternura
Antes de nossa sepultura
Criar ervas daninhas
E o mundo vadio esquecer
Nosso estilo de vida atual.

Camarada
Não tenho ideais maliciosos
A vontade de viver é maior
Que os estilos de vida
Gosto de criar sonhos superiores
Às nossas almas distraídas.

Camarada
Vou sorver mais um gole de cerveja
E pensar nas coisas incorretas
Em um poema errante
Filho de um sonho distante
Antes de ter outras certezas.

Camarada
A noite de ontem estava quente
Éramos dois sóis presentes
A iluminar estrelas frias
Na voz das reminiscências
De nossas ciências

Camarada
Ainda que não o saibas
Sinto a tua ausência devagar
Antes do mais antigo sol nascer
Camarada
Tentaremos dormir.

O POETA OBSERVADOR DENTRO DA NOITE

Uma noite...
E em nossa solidão de homens
As cabeças rodando
Quantas coisas para se pensar?
Nenhum tédio, meu amigo!
Uma cerveja!
Outras cervejas!
Mais e mais e mais!
Nem precisamos de bares!
No sentimento de nossa solidão
Existem os postos de gasolina
Onde se vendem as bebidas de outra geração.

Ora, meu amigo!
O sangue a correr nas nossas veias
Está repleto do álcool da vida
Desse mais puro combustível
Tanto e mais amplificado
E em nossas cabeças
Quando tentamos preenchê-las
Com as poesias...
Com as mulheres dos momentos...
Discussões políticas
E apolíticas
... Restam ideias.
Novas e velhas ideias.
A construir e reconstruir
E
Quando cai e quebra-se uma garrafa
Cheia
Parte-se uma íntima solidão.

(DE CADA UM DE NÓS DOIS)

Noite...
Ah, noite!
Todas as noites, meu amigo, são iguais.
E diferentes também.
São gêmeas duplas ou trigêmeas
Ou quadrigêmeas
Ou quíntuplas.
E sempre devemos preenchê-las com a cerveja.
Com algum álcool simples ou difuso
E...
Não diga que não sabe!
Nós sabemos
O quanto nos faz falta
Uma boceta
Uma boca de mulher
Uns peitinhos pedindo beijos
E mordiscações.

Todas as noites, meu amigo, são eras do ontem
A pretender juntar os cacos de algum instante
Vazio, sem bebida e sem alimentos
De sonhos
E nós, vivos, sempre devemos ter a vontade
De escrever versos loucos
E habitar com os semáforos
Dentro de um táxi
No caminho de casa

E, meu amigo, você sabe:

(SEMPRE VOU SOZINHO!)

Nada custa, meu amigo de cada noite,
Sentir-se ligado às cervejas das madrugadas
E fazê-las como chuva e como água
Em nosso caminho filosófico
Ainda que tenhamos de despencar no abismo
De nossas loucuras
Ao saber: viver é um nada
O interessante é sentir
E observar a vida.
Preparando o morrer.

SEDUTÓRIA

Assim...
Ela disse assim
Desejo uma carícia devagar
Na pele macia pétala
Assim...
Sentir meus lábios
A deslizar na nuca
Sentir
As mãos nas costas nuas
Assim...
Ela alçou os braços
Como quem fosse voar
E as axilas lisas
E os seios erguidos
Pediam outros tipos
De voos além da noite

Assim...
Ela pediu calma e variedades
De carinhos desconhecidos
Meus lábios em suas coxas
Meus lábios em seus seios
Mamilos eriçados
Assim...
Assim...
Faz-me ficar louca!
Assim...
Assim...
A noite é pequena
Preciso de mais horas
Ela pediu horas ao tempo
E dissertou um poema
No beijo
Roubado na mesa do bar

Assim...
Ela disse não ser qualquer uma
Ela disse ser mais viva que morta
Ela disse para mim
Assim...
Como quem pede o impossível
Não irei para tão longe
Nem farei promessas difíceis de cumprir
Assim...
Acariciou meu rosto
Assim...
Disse a dificuldade de ser minha
Assim...
Encaminhou meu corpo à rua
Onde eu pudesse espairecer
E pensar melhor.

Assim...
Saí do bar e fui até o meio da rua
Sentir o vento frio da noite
Sentir o vento amainar
A fogueira de meus desejos
E sempre a via nas outras
Seios em riste
Axilas lisas
Boca estupenda de beijar
Assim...
Ficava a receber o vento da lua
Tentando descobrir o segredo
De como conquistar uma estrela distante
Assim...
Ela veio encontrar meu corpo
Parado em pensamentos errantes
Assim...
Ela disse o quanto era preciso
Eu e ela
Ela e eu
Amar e seduzir

Assim...

MARCAS DA ESCRAVIDÃO NEGRA



As marcas da escravidão negreira continuam presentes no Brasil. Apesar de existir uma lei denominada Áurea, assinada no dia 13 de maio de 1888 por uma princesa brasileira, abolindo oficialmente a escravidão. Na realidade a abolição ficou entre aspas. Cento e vinte e quatro anos se passaram e os negros ainda lutam por igualdade. A princesa regente Isabel assinou a lei, mas não reparou os 350 anos de escravidão. Hoje a discriminação contra os negros ainda vigora no Brasil, bem como a exploração e a opressão da classe trabalhadora, cuja maioria é negra.
Tais marcas dessa época colonial e escravista estão presentes no Índice do Desenvolvimento Humano (IDH), que mede os níveis de educação, saúde e renda familiar da população. O índice comprova o atraso histórico dos trabalhadores negros em relação aos brancos em nosso país. No último Censo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), realizado em 2009, os brancos ficaram na 67ª, enquanto os negros na 99ª. Existe uma diferença enorme no acesso aos direitos básicos entre brancos e negros.
Agora, em novembro, no dia 20, comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra. Aqui lembramos que a repressão violenta dos senhores de escravos foi substituída hoje pelo arrocho salarial, perda de direitos sociais e ação bruta das milícias, que exterminam os jovens negros nas periferias. Negros de Pernambuco, da Bahia, do Rio de Janeiro e de muitos outros estados do Brasil sofrem perseguição extremada.
Uma pena que alguns historiadores e cientistas sociais defendam e digam ter sido uma vitória o fim da escravidão no distante ano de 1888. Esqueceram que isso não é a consagração da verdadeira liberdade. Não se pode ser livre sem emancipação econômica plena. Não se pode ser livre sem inserção social e política. Não se pode ser livre sem acesso aos bens culturais e econômicos. Não se pode ser livre se não se usufrui dessa liberdade em todas as instâncias.
O racismo tem de ser superado através da luta. Que se mantenha vivo na consciência brasileira o espírito de Zumbi, rei dos Palmares. É preciso superar o racismo no mercado de trabalho, garantir igualdade salarial entre negros e brancos, permitir que os negros tenham acesso a empregos de qualidade, à mobilidade e ascensão no mercado de trabalho. É preciso garantir a presença de negros nos espaços acadêmicos e de produção de ciência. É preciso enfrentar de peito aberto o racismo. Se tivermos de ser radicais, sejamos. Precisamos de políticas que proporcionem para toda a população oportunidades iguais, com reparações e ações afirmativas na educação e na saúde.
A lei Áurea não passou de um falso consenso das elites. Consenso que servia para “libertar”, mas não em reparar todos os erros contra os construtores da nação brasileira. Um engodo elitista que o ensino oficial empurra na mente da população. O dia 20 de novembro é que deve ser a verdadeira data de afirmação para o povo negro. É a data da lembrança do seu líder maior. Aquele que lutou pela liberdade total: Zumbi.  As elites o mataram e esqueceram que ele iria se tornar a razão de luta de todos os negros. Cortaram-lhe a cabeça, salgaram-na e a expuseram em praça pública, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.
De nada adiantou isso, ainda que o governador de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, tenha dito em carta ao rei dom Pedro II de Portugal, no dia 14 de março de 1696: "Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os Palmares".
Retificando: Zumbi dos Palmares é imortal! Zumbi é eterno! Zumbi é o Rei da Consciência Negra do Brasil!