As marcas da escravidão negreira continuam presentes no
Brasil. Apesar de existir uma lei denominada Áurea, assinada no dia 13 de maio
de 1888 por uma princesa brasileira, abolindo oficialmente a escravidão. Na
realidade a abolição ficou entre aspas. Cento e vinte e quatro anos se passaram
e os negros ainda lutam por igualdade. A princesa regente Isabel assinou a lei,
mas não reparou os 350 anos de escravidão. Hoje a discriminação contra os
negros ainda vigora no Brasil, bem como a exploração e a opressão da classe
trabalhadora, cuja maioria é negra.
Tais marcas dessa época colonial e escravista estão
presentes no Índice do Desenvolvimento Humano (IDH), que mede os níveis de
educação, saúde e renda familiar da população. O índice comprova o atraso
histórico dos trabalhadores negros em relação aos brancos em nosso país. No
último Censo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento),
realizado em 2009, os brancos ficaram na 67ª, enquanto os negros na 99ª. Existe
uma diferença enorme no acesso aos direitos básicos entre brancos e negros.
Agora, em novembro, no dia 20, comemora-se o Dia Nacional
da Consciência Negra. Aqui lembramos que a repressão violenta dos senhores de
escravos foi substituída hoje pelo arrocho salarial, perda de direitos sociais
e ação bruta das milícias, que exterminam os jovens negros nas periferias.
Negros de Pernambuco, da Bahia, do Rio de Janeiro e de muitos outros estados do
Brasil sofrem perseguição extremada.
Uma pena que alguns historiadores e cientistas sociais defendam e
digam ter sido uma vitória o fim da escravidão no distante ano de 1888. Esqueceram
que isso não é a consagração da verdadeira liberdade. Não se pode ser livre sem
emancipação econômica plena. Não se pode ser livre sem inserção social e
política. Não se pode ser livre sem acesso aos bens culturais e econômicos. Não
se pode ser livre se não se usufrui dessa liberdade em todas as instâncias.
O racismo tem de ser superado através da luta. Que se
mantenha vivo na consciência brasileira o espírito de Zumbi, rei dos Palmares.
É preciso superar o racismo no mercado de trabalho, garantir igualdade salarial
entre negros e brancos, permitir que os negros tenham acesso a empregos de
qualidade, à mobilidade e ascensão no mercado de trabalho. É preciso garantir a
presença de negros nos espaços acadêmicos e de produção de ciência. É preciso
enfrentar de peito aberto o racismo. Se tivermos de ser radicais, sejamos.
Precisamos de políticas que proporcionem para toda a população oportunidades
iguais, com reparações e ações afirmativas na educação e na saúde.
A lei Áurea não passou de um falso consenso das elites.
Consenso que servia para “libertar”, mas não em reparar todos os erros contra
os construtores da nação brasileira. Um engodo elitista que o ensino oficial
empurra na mente da população. O dia 20 de novembro é que deve ser a verdadeira
data de afirmação para o povo negro. É a data da lembrança do seu líder maior.
Aquele que lutou pela liberdade total: Zumbi.
As elites o mataram e esqueceram que ele iria se tornar a razão de luta de
todos os negros. Cortaram-lhe a cabeça, salgaram-na e a expuseram em praça
pública, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade
de Zumbi.
De nada adiantou isso, ainda que o governador de Pernambuco,
Caetano de Melo e Castro, tenha dito em carta ao rei dom Pedro II de Portugal,
no dia 14 de março de 1696: "Determinei que pusessem sua cabeça
em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e
justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam
Zumbi um imortal, para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os
Palmares".
Retificando:
Zumbi dos Palmares é imortal! Zumbi é eterno! Zumbi é o Rei da Consciência
Negra do Brasil!