segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A CRÔNICA ESCRITA NAS ARQUIBANCADAS


Artigo de Rafael Rocha publicado
no Diário de Pernambuco
no dia 13 de Maio de 2005,
nos 100 anos do Papai da Cidade

Tarde ensolarada de domingo. Em torno do estádio da Ilha do Retiro milhares de pessoas vestidas com as cores de seus times favoritos se preparam para o lazer do futebol. O sol esquenta os corpos, as gargantas secam e lá se vai dinheiro para refrigerantes, cervejas, caldo de cana, água mineral. Do lado das sociais do estádio e na maior parte das arquibancadas tremulam estandartes vermelhos e negros nas mãos de uma multidão que grita e dilacera em sonhos seus corações.
Quando adentra o gramado a equipe do Sport Club do Recife parece que o mundo vem abaixo. Espocar de fogos de artifícios. Charangas em alta poluição sonora. Gritos. Assovios. Homens e mulheres a desmaiar de emoção. O carisma das cores negras e vermelhas é emocionante. De repente, de algum ponto do estádio sai o grito: “Como é, como foi e como vai ser!” E a multidão grita em resposta: “Cazá, cazá, cazá / A turma é mesmo boa / É mesmo da fuzarca / Sport, Sport, Sport”.
Os rivais do outro lado do estádio – sejam quais forem eles – tentam, em vão, silenciar o poderoso grito que provoca uma avalanche em todos os espaços do Estádio Adelmar da Costa Carvalho, e voa nos ares pela Estrada dos Remédios até o bairro dos Afogados, penetra nas janelas das casas e dos apartamentos da Madalena, da Torre, do Derby, e vai tocar e fazer ondas espumantes nas águas do rio Capibaribe. “Pelo Sport tudo / Cazá, cazá, cazá / A turma é mesmo boa / É mesmo da fuzarca...”
E pela tarde inteira lá vai a multidão faminta de sonhos de vitória a gritar os nomes de seus ídolos, a chorar enraivecida com o gol marcado pelo adversário, a praguejar contra os juízes do jogo, a desmaiar nas arquibancadas, gerais e sociais. Um delírio total!
E, de repente, quando as redes adversárias balançam uma, duas, três vezes, a galera toda saracoteia e os alicerces do estádio tremem nas suas bases. “É gooooollll! Goooll do Sport! Gooooolllll! A partir daí tudo se torna uma só alma e um só espírito. Nas vitórias e nas derrotas o torcedor do Sport é emoção total. Entrega total. Porque o clube é o símbolo que retrata o futebol em Pernambuco. E se o jogo terminar com a vitória das cores negras e vermelhas vai correr muito mais cerveja, cachaça, refrigerantes, caldo de cana e água mineral em todos os espaços que cercam o grandioso parque poliesportivo da Ilha do Retiro. E poder-se-á escutar o grito de guerra nas buzinas dos carros, nos batuques de mesa de bar, nas gargantas humanas, no assobiar da plebe agora uma só. Acabaram-se as diferenças sociais.
“Com o Sport eternamente estarei / Pois rubro-negras foram as cores que abracei / E o abraço de tão forte não tem separação / Pra mim o meu Sport é religião / A vida a gente vive pra vencer / Sport, Sport, uma razão para viver...(...)”
Ou então:
“Chegando lá na Ilha do Retiro / Ó abre alas, o Sport vai jogar / Rubro-negro é cor de guerra / É o super-Sport que estremece a terra (...) Vivendo com o Sport essa emoção / A galera se engrandece muito mais / Quem não falar do Sport é mudo / Cazá, cazá, cazá pelo Sport tudo”.
Um torcedor mais que religioso negro e vermelho – eis o verdadeiro torcedor do Sport – disse certa vez: “Nossos rivais que se preocupem com as coisas deles. Não se metam com as nossas. Essas são para resolvermos em nosso âmbito particular. Para se meter dentro desses âmbitos têm de conhecer nossa história de desbravador de caminhos. Somos únicos nesse aspecto. Têm de acatar nosso pioneirismo. Fomos nós, do Sport, a inculcar na alma dos pernambucanos o amor pelo futebol. Sim, pioneiros em Pernambuco somos nós que fazemos, vivemos e amamos o Sport Club do Recife. Em todos os sentidos. O mundo esportivo da terra pernambucana e os amantes do futebol só têm a agradecer a Guilherme de Aquino Fonseca pela implantação do esporte bretão em Pernambuco. Pela nossa fé o Sport eternizou o futebol pernambucano. E no futebol pernambucano o Sport se eterniza como vencedor. De pai para filho. Que beleza de árvore genealógica!”
E, eu digo agora: falar de Guilherme de Aquino Fonseca é falar de um idealista. É falar de um cérebro repleto de idéias, que vivia o presente pensando no futuro. Falar de Guilherme de Aquino Fonseca é o mesmo que dissertar sobre o grandioso sonho nascido de dentro de sua alma desde quando do seu retorno da Inglaterra. O sonho/idéia se chamava Sport Club do Recife, criação esta que ele pretendia, como muitos dos seus conterrâneos da época, ver se tornar o mais poderoso e amado time de futebol do Estado de Pernambuco. Guilherme de Aquino Fonseca não errou ao pensar dessa forma. Muito menos erraram Elysio Alberto Silveira Sobrinho, Boaventura Alves Pinho, Paulino Miranda, Alberto Bandeira de Melo, Frederico Rufino d’Oliveira, Joaquim da Silva Pereira, Augusto Pereira d’Oliveira, Oscar Gonçalves Torres, Guilherme Rodrigues da Silva, Alberto Teixeira Saraiva, Análio de Mello Resende, Carlos de Mello Resende, Sílvio Nery da Fonseca, Oswaldo Nery da Fonseca, Augusto Brandão da Rocha, João da Silva Regadas, Oscar Arthur dos Santos, Carlos D. Von Sohsten, Arthur Nogueira Lima, Albino Pereira Magalhães, Delphim d’Azevedo Palmeira, Eduardo da Silva Coelho, Vicente da Silva, Carlos Menezes, Raymundo C. da Silva Cassundé, Francisco Caracciolo Mages Coelho, Joaquim Loureiro, Augusto G. Fernandes Júnior, Francisco José de Mello, Oscar Amorim, Alberto Amorim e Mário Sette.
Todos estes assinaram a ata de fundação do Sport Club do Recife no dia 13 de maio de 1905, concretizando uma parte do ideal de Guilherme de Aquino Fonseca. De lá para cá, a outra parte do ideal foi rapidamente se tornando realidade: o Sport Club do Recife se fez grande, pois grandiosas eram as idéias dos seus construtores, cujas ações em prol do futebol vermelho e negro se perpetuam na alma dos seus amantes e seguidores há mais de um século, e vão, hereditariamente, germinando paixão no espírito do povo, homens, mulheres e crianças É Deus no céu e o Sport na terra pernambucana e recifense. E haja coração!

Um comentário:

Anna Melo disse...

A paixão que nós PERNAMBUCANOS temos pelo SPORT é indiscritível. O pernambucano tem orgulho do futebol com raça,dos nossos jogadores, do nosso time favorito. O SPORT é o nosso orgulho. Faz parte do nosso seu dia-a-dia.

Essa paixão pelo VERMELHO e PRETO junto com uma torcida organizada chamada TORCIDA JOVEM, fez com que nós desenvolvêssemos a maior TORCIDA do NORDESTE Podemos dizer que os sites do nosso SPORT no Brasil estão entre os mais visitados, por causa dessa paixão e conexão que os torcedores têm com o SPORT . Assim sendo,essa crônica é belissíma trazendo a nós torcedores o orgulho de termos na nossa TORCIDA esse ORGULHO chamado RAFAEL ROCHA...AMEI A SUA CRÔNICA...bjão ;)