sábado, 5 de abril de 2008

ESPAÇO DA SABEDORIA HUMANA

JESUS: O INCÔMODO SILÊNCIO DA HISTÓRIA

Este texto é de Lee Salisbury - nascido em Stillwater, Minesotta, pastor pentecostal de 1972 a 1986. Ele fundou e dirige o Clube do Pensamento Crítico em Minesotta, escreve colunas para AxisOfLogic.com e participa de debates públicos.

Quem é que nunca ouviu falar de Jesus de Nazaré? É claro que todo mundo ouviu falar de Jesus! A Bíblia nos diz que sua fama se espalhou por toda a Palestina e Síria. Ele é o homem-deus/salvador do mundo que realizou milagres que só um deus poderia realizar. Transformou água em vinho, alimentou milhares de pessoas com apenas alguns pedaços de pão e peixe, andou sobre as águas, acalmou tempestades, curou cegos, surdos e enfermos, recuperou mãos atrofiadas, expulsou demônios e ressuscitou os mortos. Seus ensinamentos morais são considerados superiores a tudo o que já foi ensinado.

Ele foi rejeitado por seu próprio povo, os judeus, e brutalmente crucificado pelos romanos. Mas isto não deteve Jesus. A Bíblia nos diz que, ao ser crucificado, céus e terra confirmaram sua divindade, causando um eclipse do Sol de três horas em toda a Terra, um terremoto que fez com que a cortina do templo em Jerusalém se rasgasse ao meio e que túmulos se abrissem e homens santos ressuscitassem e aparecessem às pessoas em Jerusalém. Três dias depois, o Filho de Deus derrotou o Diabo, o Príncipe das Trevas, ressuscitou dos mortos, apareceu a seus discípulos e então subiu aos céus. Como é possível alguém não gostar desta história, nem desejar acreditar nela?

O problema que pesquisadores sinceros e com mentes objetivas têm com esta história espantosa é: por que os registros históricos de escritores gregos, romanos e judeus não-cristãos praticamente nada dizem sobre Jesus de Nazaré? Certamente que notícias sobre acontecimentos como esses, se fossem verdadeiras, teriam se espalhado por todo o mundo mediterrâneo. E, no entanto, os escritos que sobreviveram, de uns 35 a 40 observadores independentes durante os primeiros 100 anos que se seguiram à suposta crucificação e ressurreição de Jesus, praticamente nada confirmam. Esses autores eram respeitados, viajados, sabiam se expressar, observavam e analisavam os fatos; eram os filósofos, poetas, moralistas e historiadores daquela época. Entre as mais destacadas personalidades que não mencionam Jesus, temos:

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Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.): Um dos mais famosos autores romanos sobre ética, filosofia e moral e um cientista que registrou eclipses e terremotos. As cartas que teria trocado com Paulo se revelaram uma fraude, mais tarde.

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Plínio, o Velho (23 d.C. – 79 d.C.): Escreveu “Naturalis Historia”, 37 volumes sobre eventos como terremotos, eclipses e tratamentos médicos.

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Quintiliano (39 d.C. – 96 d.C.): Escreveu “Institutio Oratoria”, 12 volumes sobre moral e virtude.

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Marcial (40 d.C. – 102 d.C.): Escreveu poemas épicos sobre as loucuras humanas e as várias personalidades do império romano.

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Plutarco (45 d.C. – 120 d.C.): Escritor grego que viajou de Roma a Alexandria. Escreveu “Moralia”, sobre moral e ética.

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Epiteto (55 d.C. – 135 d.C.): Ex-escravo que se tornou renomado moralista e filósofo e escreveu sobre a “irmandade dos homens” e a importância de se ajudarem os pobres e oprimidos.

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Juvenal (60 d.C. – 140 d.C.): Um dos maiores poetas satíricos de Roma. Escreveu sobre injustiça e tragédia no governo romano.

Três romanos cujos escritos contêm referências mínimas a Cristo, Cresto ou cristãos:

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Tácito (55 d.C. – 120 d.C.): Famoso historiador romano. Seu “Anais”, referente ao período 14–68 d.C., livro 15, capítulo 44, escrito por volta de 115 d.C., contém a primeira referência a Cristo como um homem executado na Judéia por Pôncio Pilatos. Tácito declara que “Cristo, o fundador, sofreu a pena de morte no reino de Tibério, por ordem do procurador Pôncio Pilatos”. Os estudiosos apontam várias razões para se suspeitar de que este trecho não seja de Tácito nem de registros romanos, e sim uma inserção posterior na obra de Tácito.

A referência a Pilatos como “procurador” seria apropriada na época de Tácito; mas, na época de Pilatos, o título correto era “prefeito”. Se Tácito escreveu este trecho no início do segundo século, por que os
Pais da Igreja, como Orígenes, Tertuliano, Clemente e até Eusébio, que tanto procuraram por provas da historicidade de Jesus, não o citam? Tácito só passa a ser citado por escritores cristãos a partir do século 15.

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Plínio, o Novo (61 d.C. – 113 d.C.): Foi procônsul da Bitínia (atual Turquia). Numa carta ao imperador Trajano, em 112 d.C., pergunta o que fazer quanto aos cristãos que “se reúnem regularmente antes da aurora, em dias determinados, para cantar louvores a Cristo como se ele fosse um deus”. Uns oitenta anos depois da morte de Jesus, alguém estava adorando a um Cristo (messias, em hebraico)! Entretanto, nada se diz sobre se este Cristo era Jesus – o mestre milagreiro que foi crucificado e ressuscitou na Judéia – ou se um Cristo mitológico das religiões pagãs de mistério. O próprio Jesus teria dito que haveria muitos falsos Cristos; portanto, a afirmação de Plínio não contribui em muito para demonstrar que o Jesus de Nazaré existiu.

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Suetônio (69 d.C. – 141 d.C.): Em “A vida dos imperadores”, com a história de 11 imperadores, ele conta, em 120 d.C., sobre o imperador Cláudio (41 d.C. – 54 d.C.), que ele “expulsou de Roma os judeus que, sob a influência de Cresto, viviam causando tumultos”. Quem é Cresto? Não há menção a Jesus. Seria este Cresto um agitador judeu, um dos muitos falsos messias, ou um Cristo mítico? Este trecho não prova nada sobre a historicidade de um Jesus de Nazaré. O que é claro e indiscutível é que um período de 80 a 100 anos sem nenhum registro histórico confiável, depois de fatos de tal magnitude, é longo o bastante para levantar suspeitas. Além do mais, é insuficiente citar três relatos tão curtos e tão pouco informativos para provar que existiu um messias judeu milagreiro chamado Jesus que seria Deus em forma humana, foi crucificado e ressuscitou.

Há três autores judeus importantes do primeiro século:

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Fílon de Alexandria (25 a.C. – 50 d.C.): Teólogo-filósofo judeu que falava grego. Ele conhecia bem Jerusalém porque sua família morava lá. Escreveu muita coisa sobre história e religião judaica do ponto de vista grego e ensinou alguns conceitos que também aparecem no evangelho de João e nas epístolas de Paulo. Por exemplo: Deus e sua Palavra são um só; a Palavra é o filho primogênito de Deus; Deus criou o mundo através de sua Palavra; Deus unifica todas as coisas através de sua Palavra; a Palavra é fonte de vida eterna; a Palavra habita em nós e entre nós; todo julgamento cabe à Palavra; a Palavra é imutável. Fílon também ensinou sobre Deus ser um espírito, sobre a Trindade, sobre virgens que dão à luz, judeus que pecam e irão para o inferno, pagãos que aceitam a Deus e irão para o céu e um Deus que é amor e perdoa. Entretanto, Fílon, um judeu que viveu na vizinha Alexandria e que teria sido contemporâneo a Jesus, nunca menciona alguém com este nome, nem nenhum milagreiro que teria sido crucificado e depois ressuscitou em Jerusalém, sem falar em eclipses, terremotos e santos judeus saindo dos túmulos e andando pela cidade. Por quê? O completo silêncio de Fílon é ensurdecedor!

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Flávio Josefo (37 d.C. – 103 d.C.): Era um fariseu que nasceu em Jerusalém, vivia em Roma e escreveu “História dos judeus” (79 d.C.) e “Antiguidades dos judeus” (93 d.C.). Apologistas cristãos (defensores da fé) consideram o testemunho de Josefo sobre Jesus a única evidência garantida da historicidade de Jesus. O testemunho citado se encontra em “Antiguidades dos judeus”. Ao contrário dos apologistas, entretanto, muitos estudiosos, inclusive os autores da Encyclopedia Britannica, consideram o trecho “uma inserção posterior feita por copistas cristãos”. Ele diz que:

“Naquele tempo, nasceu Jesus, homem sábio, se é que se pode chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os que quisessem inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como por alguns gregos. Era o Cristo. Sendo acusado por nossos chefes, do nosso país, ante Pilatos, este o fez sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem mesmo após sua morte. Vivo e ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua morte, como o haviam predito os santos profetas, quando realiza outras mil coisas milagrosas. A sociedade cristã que ainda hoje subsiste, tomou dele o nome que usa.”

Por que este trecho é considerado uma inserção posterior?

Josefo era um fariseu. Só um cristão diria que Jesus era o Cristo. Josefo teria tido que renunciar às suas crenças para dizer isto, mas morreu ainda um fariseu. Josefo costumava escrever capítulos e mais capítulos sobre gente insignificante e eventos obscuros. Como é possível que ele tenha despachado Jesus, uma pessoa tão importante, com apenas algumas frases?

Os parágrafos antes e depois deste trecho descrevem como os romanos reprimiram violentamente as sucessivas rebeliões judaicas. O parágrafo anterior começa com “por aquela época, mais uma triste calamidade desorientou os judeus”. Será que “triste calamidade” se refere à vinda do “realizador de mil coisas milagrosas” ou aos romanos matando judeus? Esta suposta referência a Jesus não tem nada a ver com o parágrafo anterior. Parece mais uma inclusão posterior, fora de contexto.

Finalmente, e o que é ainda mais convincente, se Josefo realmente tivesse feito esta referência a Jesus, os Pais da Igreja pelos 200 anos seguintes certamente o teriam usado para se defender das acusações de que Jesus seria apenas mais um mito. Contudo,
Justino, Irineu, Orígenes, Tertuliano e Clemente de Alexandria nunca citam este trecho. Sabemos que Orígenes leu Josefo porque ele deixou textos criticando Josefo por este atribuir a destruição de Jerusalém à morte de Tiago. Aliás, Orígenes declara expressamente que Josefo, que falava de João Batista, nunca reconheceu Jesus como o Messias (“Contra Celsum”, I, 47).

Não somente a referência de Josefo a Jesus parece fraudulenta como outras menções a fatos históricos em seus livros contradizem e omitem histórias do Novo Testamento:

– A Bíblia diz que João Batista foi morto por volta de 30 d.C., no início da vida pública de Jesus. Josefo, contudo, diz que Herodes matou João durante sua guerra contra o rei Aertus da Arábia, em 34–37 d.C.

– Josefo não menciona a celebração de Pentecostes em Jerusalém, quando, supostamente, judeus devotos de todas as nações se reuniram e receberam o Espírito Santo, sendo capazes de entender os apóstolos cada qual em sua própria língua; Pedro, um pescador judeu, se torna o líder da nova igreja; um colega fariseu de Josefo, Saulo de Tarso, se torna o apóstolo Paulo; a nova igreja passa por um crescimento explosivo na Palestina, Alexandria, Grécia e Roma, onde morava Josefo. O suposto martírio de Pedro e Paulo em Roma, por volta de 60 d.C., não é mencionado por Josefo. Os apologistas cristãos, que depositam tanta confiança na veracidade do testemunho de Josefo sobre Jesus, parecem não se importar com suas omissões posteriores.

– A Encyclopedia Britannica afirma que os cristãos distorceram os fatos ao enxertar o trecho sobre Jesus. Isto é verdade? Eusébio (265–339 d.C.), reconhecido como o “Pai da história da Igreja” e nomeado supervisor da doutrina pelo imperador Constantino, escreve em seu “Preparação do evangelho”, ainda hoje publicado por editoras cristãs como a Baker House, que “às vezes é necessário mentir para beneficiar àqueles que requerem tal tratamento”. Eusébio, um dos cristãos que mais influenciou a história da Igreja, aprovou a fraude como meio de promover o cristianismo! A probabilidade de o cristianismo de Constantino ser uma fraude está diretamente relacionada à desesperada necessidade de encontrar evidências a favor da historicidade de Jesus. Sem o suposto testemunho de Josefo, não resta nenhuma evidência confiável de origem não-cristã.

* Justus de Tiberíades é o terceiro escritor judeu do primeiro século. Seus escritos foram perdidos, mas Photius, patriarca de Constantinopla (878–886 d.C.), escreveu “Bibleotheca”, onde comenta a obra de Justus. Photius diz que “do advento de Cristo, das coisas que lhe aconteceram ou dos milagres que ele realizou, não há absolutamente nenhuma menção (em Justus)”. Justus vivia em Tiberíades, na Galiléia (João 6:23). Seus escritos são anteriores às “Antiguidades” de Josefo, de 93 d.C.; portanto, é provável que ele tenha vivido durante ou imediatamente após a suposta época de Jesus, mas é notável que nada tenha mencionado sobre ele.

A literatura rabínica seria logicamente o outro lugar para se pesquisar a historicidade de Jesus de Nazaré. O Novo Testamento alega que Jesus é o cumprimento da profecia judaica sobre o messias, crucificado no dia da Páscoa. Naquele dia, supostamente, houve um terremoto em Jerusalém, a cortina de seu templo se rasgou de alto a baixo, houve um eclipse do Sol, santos judeus ressuscitaram e andaram pela cidade. Três dias depois, Jesus ressuscitou e depois subiu aos céus diante de todos. Algum tempo depois, no dia de Pentecostes, os judeus de várias nações se reuniram e viram o Espírito Santo descer na forma de línguas de fogo; a igreja cristã se expandiu de forma explosiva entre judeus e pagãos, com sinais e milagres acontecendo por toda a parte. Em 70 d.C., Jerusalém foi cercada pelos romanos, que destruíram Israel como nação e dispersaram os judeus.


Ainda que os rabinos não aceitassem Jesus como o Messias, o impacto dos acontecimentos à volta de Jesus logicamente teria sido registrado nos comentários ao Talmude (os midrash). A história e a tradição oral dos judeus registradas nos midrash foram atualizadas e receberam sua forma final pelo rabino Jehudah ha-Qadosh por volta de 220 d.C. Em seu livro “O Jesus que os judeus nunca conheceram”, Frank Zindler diz que não há uma única fonte rabínica da época que fale da vida de um falso messias do primeiro século, dos acontecimentos envolvendo a crucificação e ressurreição de Jesus ou de qualquer pessoa que lembre o Jesus do cristianismo.

Não há locais históricos na Terra Santa que confirmem a historicidade de Jesus de Nazaré. Monges, padres e guias turísticos que levam peregrinos cristãos (aceitam-se doações) aos locais dos acontecimentos descritos na Bíblia dificilmente podem ser considerados pessoas isentas. Ainda citando Zindler, “não há confirmação não-tendenciosa desses locais”. Nazaré não é mencionada nem uma vez no Antigo Testamento. O Talmude cita 63 cidades da Galiléia, mas não Nazaré. Josefo menciona 45 cidades ou vilarejos da Galiléia, mas nem uma vez cita Nazaré. Josefo menciona Japha, que é um subúrbio da Nazaré de hoje. Lucas 4:28–30 diz que Nazaré tinha uma sinagoga e que a borda da colina sobre a qual ela tinha sido construída era alta o suficiente para que Jesus morresse se o tivessem realmente jogado lá de cima. Contudo, a Nazaré de nossos dias ocupa o fundo de um vale e a parte de baixo de uma colina. Não há “topo de colina”. Além disso, não há nenhum vestígio de sinagogas do primeiro século. Orígenes (182–254 d.C.), que viveu em Cesaréia, a umas 30 milhas da atual Nazaré, também não fala em Nazaré. A primeira referência à cidade surge em Eusébio, no século 4. O melhor que podemos imaginar é que Nazaré só surgiu depois do século 2. Esta falta de evidência histórica parece ser a explicação para o fato de não haver nenhuma menção a Nazaré em nenhum registro, de nenhuma origem não-cristã. Ou seja, Nazaré não existia no primeiro século.

Não há tempo nem espaço para se falar de outras cidades significativas citadas no Novo Testamento, mas as evidências históricas e arqueológicas quanto a Cafarnaum (mencionada 16 vezes no N.T.) e Betânia, ou o Calvário, são, assim como no caso de Nazaré, igualmente fracas e até mesmo desmentem as Escrituras.

Mentes críticas objetivas se destacam por procurar confirmação imparcial dos supostos fatos. Quando a única evidência disponível de um acontecimento ou de seus resultados é não apenas questionável e suspeita, mas também aquilo que os divulgadores do acontecimento ou resultado querem que você acredite, convém desconfiar. O fato é que os escritores judeus não-cristãos, gregos e romanos das décadas que se seguiram à suposta crucificação e ressurreição de Jesus nada dizem sobre ninguém chamado Jesus de Nazaré. Uma pessoa justa sempre estará disposta a analisar novas evidências; mas, dois mil anos depois, o cristianismo continua tendo tantas evidências imparciais sobre Jesus quanto sobre o Mágico de Oz, Zeus ou qualquer um dos muitos deuses-redentores daquela época.

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