quinta-feira, 7 de maio de 2009

A DITADURA DA PALAVRA

O domínio da consciência humana pelos poderosos de plantão nunca saiu da ordem do dia e muito menos da cabeça deles. Assim, pensando e agindo, os proprietários das empresas de comunicação (jornais, rádios, revistas, emissoras de TV etc) lutam nos bastidores e fora dele para serem favorecidos com mais poder de manipulação das mentes. Já não basta o poder de manipulação das consciências pelos governos, pelas religiões organizadas, pelos parlamentos e pelas ações arbitrárias dos judiciários? Agora, eles pretendem ser donos absolutos e algozes das consciências dos jornalistas. Conseguindo isso, conseguirão também mandar, impor e lavar cerebralmente as consciências dos cidadãos.

O argumento maior é ingênuo e despropositado. Os poderosos dizem que para ser jornalista não se precisa ter diploma, que a exigência do diploma é antidemocrática e provoca falta de liberdade de expressão na mídia. Eles querem retroceder no tempo e em pleno Século 21 retornar aos apadrinhamentos, favores, compadrios, sem nenhum compromisso social no que eles chamam de democracia.

Já se encontra no Supremo Tribunal Federal (STF) o Recurso Extraordinário RE 511961. Tal recurso está para ser julgado neste semestre. Foi ajuizado pela Procuradoria-Geral da República com o objetivo de acabar com o registro profissional para o exercício do jornalismo. De acordo com a Procuradoria, “a atividade jornalística, em sua essência, não exige do profissional uma capacidade técnica específica, mas, sim, uma formação intelectual que o torne apto a veicular a informação de forma segura e crítica”.

Isso é conversa para boi dormir. Os interesses são outros. Todos nós sabemos que qualquer pessoa pode se expressar em jornais, rádios, TVs, revistas. Não é o registro do diploma de jornalista e a regulamentação que impedem isso. Ora, a essência mesma do Jornalismo é ouvir infinitos setores sociais, de qualquer campo de conhecimento, pensamento e ação, mediante critérios como relevância social, interesse público e outros. Na realidade, os limites são criados e impostos muitas vezes devido ao volume das informações, ao horário, tamanho, edição, ou por interesses ideológicos, de mercado e outros parentes disso.

Qualquer pessoa pode apresentar seus conhecimentos em jornais e revistas sobre sua área de atuação. Para tal, jornais e revistas, emissoras de rádio e TV disponibilizam espaços. Em qualquer grande publicação que se preza nós vemos artigos assinados por médicos, advogados, juízes, engenheiros, sociólogos, historiadores e até mesmo poderíamos ter artigos escritos por sapateiros, jogadores de futebol, prostitutas, camelôs etc se eles tivessem um poder maior de acesso à linguagem escrita. Quem sabe, um artigo escrito pelo peru que vai ser morto na véspera de Natal, criticando ritual de sacrifício de sua espécie?

Por que será que se pretende favorecer o poder dos donos de jornais, revistas, rádios e emissoras de TV? Ora, o Jornalismo não se limita à prática profissional. O Jornalismo é um vasto campo científico, uma enorme área de ensino e aprendizado e um espaço amplo para práticas profissionais. As notícias para serem elaboradas necessitam de um especialista com formação prática e teórica, para garantir a verdade objetiva dentro de uma postura ética. O jornalista que foge a isso desrespeita o leitor, e todos os demais integrantes de sua notícia.

Os ministros do Supremo Tribunal Federal não podem permitir que o exercício da profissão volte ao caos de antigamente para beneficiar os patrões e todo-poderosos da mídia. E todos os jornalistas devem ficar atentos para que tal não ocorra. Sabemos muito bem que a informação jornalística é um elemento estratégico das sociedades contemporâneas. Ter diploma de uma profissão significa que o detentor dele possui formação profissional e que recebeu tal formação em lugares chamados de escola, ou universidade, ou faculdade. Não nos deixemos cair no cinismo comprometedor de uma determinada parcela do poder constituído, o qual continua em sua luta insana de derrubar as conquistas sociais do homem e retornar à ditadura da palavra.

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