Estou no meu ano sexagenário rumando ao escuro...
Eis as alegorias dos dias claros aqui.
Nas mãos dos meus amados e amadas.
Nos olhos de quem me vê
Sacralizado na loucura do mundo.
Bêbado e louco como devo ser.
Ouço as vozes dos amigos nos bares da vida
Rindo e cantando e espantando a dor invicta.
Nos meus pés de caminheiro
A cidade do Recife acorda
Dentro da noite onde tento pôr-me em pé.
Ergo-me para cantar a imensidade invernal
Onde a vida me trouxe e onde agora estaciono.
É meu aniversário!
Que bom que ainda sou!
Que bom que ainda vivo!
Meu nascer veio no mês decenal do calendário
E o pintor das madonas deu-me seu nome.
Nasci olhando o sol vermelho.
Nasci de alma e corpo estradeiros
Prontos a enfrentar os tormentos dos dias.
Levem-me agora amados e amadas de mim!
Levem-me para qualquer rincão de sonho!
Meu ano sexagenário está como o sol a se pôr.
As portas da cidade abrem-se para mim
E eu escrevo o sonho ou sonhos...
Na luz do cais do porto onde o marco é zero
Do inverno ao verão florescem vôos de gaivotas
E garças brancas olham-me benevolentes no rio.
Para além da divisa de meus amados e amadas
Os relógios marcam o tempo do fim.
Se eu me transfiguro em paisagem torno-me criança
De mãos dadas com quem me trouxe ao mundo.
No futuro outubro meu ser irmanar-se-á à poesia.
Sou um prodígio de tantos genes!
Sou um matiz de eternidade!
© Copyright by Rafael Rocha Neto, Recife, 11 de julho de 2010.
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