sexta-feira, 9 de julho de 2010

VIDA MORTA

Nenhuma ternura para entrar na minha noite vagabunda.
Acendo meu cigarro e encho meu copo com cerveja ou rum.
Aprendo, ainda que tarde, como a vida está falida
E os homens íntegros contados nos dedos das duas mãos.
Nenhuma ternura a penetrar na noite vagabunda.

Os loucos, poetas sim, e eu, tentamos acreditar nas utopias
Tal antigos Quijotes a fantasiar grandes moinhos de vento.
Eu começo a odiar as noites transportadoras das doçuras.
Os homens maus bailam nas bandeiras das pátrias
E assassinam friamente as alegrias da vida esplêndida.

Nenhuma ternura para habitar na minha noite vagabunda.
Fumo os cigarros e sorvo com afinco meu rum e as cervejas.
Imagino, tal John Lennon, um mundo liberto das idéias
Preconcebidas dos homens paramentados e das igrejas
Nenhuma ternura para habitar a minha vagabunda noite.

Aos meus amigos falo de dentro de minha obscuridade:
Não maldigam minhas palavras antes do raiar do sol.
Não podem entrar nessa noite. O medo domina a vida.
Todas as retinas estão cegas para a travessia da luz.
Os homens maus tingem de vermelho as bandeiras das pátrias.

Os sábios, onde esconderam a verossimilhança do tempo?
Suas palavras não mais possuem centelhas do Nietzsche.
Habitam casas de ouro e prata com os homens da mídia
E escrevem filosofias baratas para comprar almas humildes.
Não temem nada com seus cofres enchendo-se de ouro.

Nenhuma ternura habita dentro de minha noite vagabunda.
Preciso de mais cervejas e de mais fumaças de cigarros.
Os cérebros dos humanos foram acorrentados com a dádiva
De paraísos fantásticos e de salvações através da morte.
As alegrias da vida mais esplêndida foram assassinadas.

Vida inverossímil.
Vida sem ternura.
Vida enrodilhada no medo.



© Copyright by Rafael Rocha Neto, Recife, 9 de julho de 2010.

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