segunda-feira, 16 de maio de 2011

A DÚVIDA E A ESTUPIDEZ

Dúvidas existem em todos os espaços da vida e cultura humanas. Podemos nos posicionar como o filósofo Bertrand Russel e sentir de perto sua frase de que “o mal dos tempos de hoje é que os estúpidos vivem cheios de si e os inteligentes cheios de dúvidas". A estupidez, porém, é algo intrínseco até mesmo a quem possui poder de mando neste mundo. Não adianta, no entanto, explorar o fundo do poço para descobrir quem são os estúpidos a comandar as marionetes deste planeta. Sabemos com quem estão os cordéis que sustentam essas marionetes.

Vamos ao que interessa: a Terra já sofreu em toda sua existência, de acordo com os cientistas, cinco grandes extinções das espécies em um distante passado geológico. E estamos, agora, na sexta extinção. Se, nas outras, o causador de tal apocalipse foram a natureza e as suas forças, hoje quem age é o homem. A primeira extinção em massa das espécies ocorreu há 440 milhões de anos; a segunda há 365 milhões de anos; a terceira, a maior de todas - responsável pela extinção de 98% de todas as espécies existentes -, aconteceu há 250 milhões de anos; a quarta há 205 milhões de anos; e a quinta ocorreu há 65 milhões de anos.

A mais famosa extinção em massa das espécies é esta quinta e última, pois ocasionou o desaparecimento dos dinossauros, animais que dominaram o planeta durante 140 milhões de anos. Mas essa extinção, trouxe um fato novo: abriu mão para a ascensão dos mamíferos. Qual espécie sequenciará o novo mundo quando ocorrer a sexta extinção e os mamíferos e humanos desaparecerem da face do planeta futuramente?

Não queremos aqui atordoar e muito menos aterrorizar ninguém. Queremos salientar que a Lei da Evolução Natural possui uma sequência rígida e dentro dela aconteceu um fenômeno especifico, qual seja a origem do homem na Terra, mais exatamente, logo após a quinta extinção. O ser humano busca então dirimir suas dúvidas em estudos científicos aprofundados, mas ao seu lado corre outra teoria que busca contradizer tudo que diga respeito a tais fatos científicos relacionados ao evolucionismo.

O bispo anglicano Armagh Usher, no final do século XVII foi o vetor maior de um pensamento anticientifico, baseado em preceitos da teologia judaico-cristã. Tal bispo resolveu assinalar peremptoriamente, baseando-se em textos bíblicos, que o mundo tinha sido criado no ano 4004 aC, juntamente com todas as espécies que hoje existem. Isso, se pensarmos de forma lógica e cientifica, é uma teoria aberrante, pois nada prova em termos lógicos a criação de tal data e como já vimos quantos e quantos milhões de anos separam o homem de todas as criações anteriores, essa idéia criacionista não tem sentido.

Pelo evolucionismo, teoria adotada pela ciência, sabemos que o universo surgiu há mais ou menos 13 bilhões de anos, e que a vida em nosso planeta, com suas formas mais primitivas de organismos unicelulares, apareceu há 3.5 bilhões de anos, aproximadamente. E com as extinções em massa, foram sendo moldadas as espécies, através de grandes transformações. Hoje temos cerca de 30 milhões de espécies de seres vivos, mas, até o momento em que escrevo esse texto, apenas 1.5 milhão de espécies foram cientificamente descritas. Temos mesmo que ficar impressionados com isso. Pois, esses 30 milhões de espécies atualmente existentes são apenas 0.1% das espécies que existiram na Terra. Isto significa que 99.9% de todas as espécies que habitaram o globo desapareceram!

Baseada nos textos bíblicos e dando apoio ao criacionismo radical está a fé religiosa. Passa por cima da lógica e das evidências cosmológicas, geológicas, arqueológicas e antropológicas e nega a verdade científica. Essa negação por parte das mais diversas seitas e religiões envolve a recusa em aceitar o conteúdo básico de boa parte das ciências naturais, principalmente aquelas que descrevem a história do planeta e o surgimento da vida. Na realidade, e é bom trazer isso à baila, os números fixados pelos textos religiosos quanto à origem das espécies e do homem em particular, são falácias, quando cotejados com os números científicos.

O fato é que nestes tempos a estupidez humana continua presente. Muitas escolas e muitas igrejas e seitas continuam a incutir essas idéias insanas na mente de nossas crianças e dos que buscam acabar com suas dúvidas, quando o mais certo é acatar e enfatizar o quadro da evolução biológica da transformação das espécies (por geração de variedade e seleção por aptidão à sobrevivência) inaugurada por Charles Darwin. Ainda que tal idéia apresente alguns pontos obscuros ou ainda não totalmente absorvidos pela teoria da evolução, é a mais aceita em suas linhas gerais pelos cientistas.

O perigo reside quando uma falácia começa a ser divulgada como verdade insofismável sem nenhuma evidência científica. No ano de 1972 foi fundado nos EUA o Creation Research, instituição privada não lucrativa cujo objetivo é publicar literatura criacionista e fazer campanha nas escolas públicas a favor das interpretações bíblicas sobre a origem do homem. Este movimento está ligado a grupos religiosos e situa-se politicamente entre os mais conservadores. Na realidade, se pensarmos coerentemente, o criacionismo não deve merecer de nossa parte nada mais do que uma breve menção. Suas idéias não são capazes de abalar o edifício das crenças científicas e das evidências a favor do evolucionismo.

Mas ainda assim fazemos nosso alerta. É necessário ficar de olhos e ouvidos atentos para o que as escolas ensinam às crianças de nossa época. Voltar à Idade das Trevas com as obtusas idéias de um universo nascido apenas há 4004 anos aC será o mesmo que retroceder a um neolítico e a um primitivismo do qual nos afastamos ao naturalizar o homem e fazer com que ele se tornasse parte real de um processo amplo e global.

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