quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A EUROPA FALIDA E A ASCENSÃO ECONÔMICA DA CHINA

 A Velha Europa está falida! Sim! Falida! Com raras exceções, onde podemos incluir a rica e poderosa Alemanha, todos os governos do continente europeu estão às voltas com déficits explosivos e dívidas impossíveis de serem pagas. Tais dívidas são consequência das medidas tomadas por esses governos de intervirem para socorrer bancos europeus em crise.
Os líderes da Zona do Euro após reunião em Cannes, no dia 27 de outubro de 2011, decidiram cortar pela metade o valor da impagável dívida grega.  Enquanto isso, Nicolas Sarkozy, presidente da França, telefonou ao chefe de Estado chinês, Hu Jintao, pedindo socorro urgente. Tal pedido foi devidamente reforçado nos dias subsequentes pelo alemão Klaus Regling, chefe do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), que viajou a Pequim com o pires na mão.
De acordo com as últimas tomadas de posições na Europa, a China parece estar nadando em dinheiro. As reservas chinesas, que no final de setembro deste ano subiram a US$ 3,2 trilhões, constituem, atualmente, um invejável excedente econômico. Ou seja, uma poupança externa que em maior ou menor medida, seguindo os desejos dos líderes da EU, pode ser usada para atenuar a crise da dívida europeia. A falida Europa põe olhos grande no ouro de Pequim. 
Tal pedido de esmola dos “pobres” europeus despertou paixões nacionalistas na França e ainda causou constrangimento em diversos políticos conservadores do Velho Continente. No entanto, a grande necessidade de dinheiro solapou orgulhos patrióticos e falou mais alto.  Este é um fato extraordinário e emblemático no que tange às mudanças objetivas em curso na economia mundial. O poder econômico desloca-se do Ocidente para o Oriente. Sai das mãos das potências capitalistas lideradas pelos ianques para a China Comunista. Por que aconteceu isso? Simples! Tudo é decorrente de duas leis básicas que o capitalismo reproduz imperialmente: o desenvolvimento desigual das nações e o parasitismo econômico do Primeiro Mundo. O que surpreende, porém, é a rapidez da mudança. 
A China cresceu ao ritmo médio de 10% ao ano nas três últimas décadas, e hoje, seu poder econômico está ligado ao superávit obtido no comércio exterior, principalmente no intercâmbio com os EUA, e aos investimentos externos realizados pelas transnacionais na economia chinesa, atraídas pelo crescimento e a perspectiva de maximização dos lucros. Enquanto isso, as potências capitalistas avançaram, no mesmo período entre 2 a 3% ao ano, em meio a diversas crises. O interessante é saber que os recursos financeiros em poder do governo chinês, dirigido pelo Partido Comunista existem na forma de investimentos externos, principalmente em títulos. 
Tais recursos não estão entesourados. Os EUA são o principal destino dessas aplicações. Portanto, Pequim é o maior credor da Casa Branca, com mais de US$ 1 trilhão em títulos públicos do Tesouro estadunidense. Não se pode também esquecer a Europa, que também possui alta dívida com Pequim. Mais de US$ 500 bilhões foram investidos pelos chineses no Velho Continente. Atualmente, os europeus ainda esperam ampliar mais essa participação. A Europa é o maior mercado para os produtos chineses, absorvendo um quinto das suas vendas. A seguir vem os EUA, com 18%. Portanto, hoje, a China é a maior exportadora mundial.
A atual conjuntura anárquica da crise européia serviu de aprendizado para os chineses. Ela mostrou os riscos embutidos nos investimentos em títulos, mas eles estavam atentos, pois aprenderam através de Karl Marx, que computava esses investimentos como capital fictício, cujo valor pode se depreciar, como ocorre com os ativos em dólar, ou mesmo derreter. Exatamente por esse motivo, os chineses preferiram investir suas reservas em ativos reais, através de investimentos diretos, adquirindo empresas (como acaba de ocorrer com a Swedish Automobile NV – Swan –, proprietária da Saab) ou instalando novas unidades produtivas.
Hoje, as reservas da China são um poderoso instrumento que projeta seu poder econômico pelo mundo inteiro. Definindo em termos amplos, a força da riqueza nasce do trabalho do povo chinês e se reproduz principalmente na indústria, disseminada no comércio exterior. Isso transformou a China numa potência financeira, revolucionando a geografia econômica e política. Estamos vendo, portanto, uma nova ordem econômica em ascensão.

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