Recife - Galo da Madrugada |
No Carnaval o país se transforma. As pessoas se transformam. Os pudores cotidianos são esquecidos. Os desejos obscenos alcançam a flor da pele. Tudo é permitido. Foliões entram em transe coletivo, numa catarse de seus anseios oprimidos no cotidiano em nome da alegria geral. No Carnaval ninguém precisa dissimular. Todo mundo se entrega à libertinagem, à bebedeira, à dança e aos folguedos.
A cultura popular brasileira é representada em todos os seus aspectos no Carnaval. Mistura-se tudo num caldeirão. Tradições populares e pagãs. Personagens míticos e folclóricos. Baco. Momo. Pierrôs. Colombinas. Baianas. Corpos nus e seminus saracoteiam nas ruas. E tudo exala luxúria, sensualidade, um cio animal a encher o ar das ruas liberando geral. No Recife, o Galo da Madrugada canta e libera os foliões para a loucura. A cidade se agita. O frevo volta a imperar nas ruas.
Sim, o Carnaval está já nas avenidas e ruas e becos e ladeiras do Recife e de Olinda. Mas quando chegar no seu ápice o povo sairá por essas ruas e becos e ladeiras em hipnótico desafio. Esquecerá a corrupção. Esquecerá a fome. Esquecerá o desemprego. Esquecerá a pobreza. Esquecerá os baixos salários. O que interessa é a alegria até a chegança da quinta-feira onde cabisbaixo retorna ao seu cotidiano.
No Carnaval não existe luta de classes, pois ele é a festa de todas as classes. Os corpos suados poderão ser vistos a pular ao som dos trios elétricos, dos blocos de rua, das orquestras de frevo, nos caboclinhos, nos maracatus, nos bois-bumbás e em todas as manifestações populares Brasil afora. Ainda que exista a sensação de que a nossa cultura popular está sendo canibalizada, ainda que exista a sensação de que a poesia, o lirismo, as tradições folclóricas estão sumindo, ainda que exista a sensação de que o Carnaval está se tornando um objetivo de lucro para os capitalistas, o povo estará vivaz e feliz nas ruas embriagado e delirante.
Carnaval, festa de loucos? Por que não? A loucura torna-se generalizada nesses dias. Ninguém quer ficar fora dela. A adoração de todos os deuses pagãos do mundo antigo volta à tona e se transforma na maior manifestação popular da história humana.
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