Começou a contagem regressiva. Agora o mundo deve se acabar mesmo. Vamos começar a nos cuidar para isso pessoal, pois quem assim falou foi um grande cientista: o Isaac Newton. Só agora é que o mundo da ciência descobre. Isso é muito grave. Gravíssimo. E eu já comecei a ficar preocupado com meus possíveis futuros netos. Se a memória não falha eu li isso aqui mesmo pela internet. Isaac Newton deixou um recado desde aquelas priscas eras depois de estudar o Livro de Daniel no Velho Testamento. Estudos acurados para um cara que só descobriu a Lei da Gravidade depois que uma maçã caiu na cabeça dele. Naquela época a queda da maçã, além de se tornar um fato grave mostrou que se uma maçã está no chão ela não pula, mas se está no ar cai. Assim esse gravíssimo acidente que machucou ou criou um calombo na cabeça do nosso famoso cientista, ficou conhecido como a Lei da Gravidade.
Agora é fato e não há como negar. E o cara deixou até a data marcada. Será no ano 2060. Gente, o mundo vai se acabar no ano 2060. Eu nem me preocupo com isso, pois sei muito bem que não estarei mais aqui para testemunhar essa coisa tão grave. Se minhas contas não falham em 2060 (se eu viver até lá) estarei com 117 anos. O mais provável é que esteja coberto de terra mesmo. Talvez nem isso.
E tem mais: um erudito chamado Zecharia Sitchin descobriu que a Bíblia fala em linhas tortuosas e que é uma simples cópia de velhos escritos ainda mais antigos. Copiaram os escritos dos sumérios. E confirmou que nós somos descendentes de seres de outro planeta. Se desejarem conferir leia O 12º Planeta, Uma Escada Para o Céu, Encontros Divinos, O Código Cósmico. Todos os livros são dele e ele coloca a mão no fogo e valoriza o que Isaac Newton diz, pois ainda em priscas eras o nosso planeta se chocou com a lua de outro planeta o que deu origem ao dilúvio. O pior é que Zecharia adianta o cataclismo para 2012, quando o tal 12º Planeta, chamado Nibiru ou Marduck estará novamente se aproximando da Terra. E dessa vez vai ser de lascar.
Mas do jeito que anda o mundo e em particular este nosso Brasil, em vez de se acabar com uma explosão se acaba mesmo é com a ladroagem dos nossos parlamentares e governantes. Está se acabando mesmo é com ladrão roubando até ladrão nas esquinas escuras deste meu Recife da gota serena. E até nas esquinas claras. Nem falar do resto do mundo eu vou. Basta a província mesmo.
Como se vindos do nada meus pensamentos voaram sobre o Recife nas noites de solidão e de farra. Trouxeram lembranças de velhos amigos, cheiros de mangues, luzes amarrotadas das avenidas, olhares de mulheres e crianças tristes, e o grito de guerra do meu Sport. O Recife se fez gente. Trouxe até mim as mulheres, amigos de bebedeira, poesia e tudo que pudesse apaziguar a mente que não se cansa de pensar. Assim nasceu a palavra vinda de minha rocha.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
O ESPELHO DA ALMA JANELA
Debruçou-se na janela para observar melhor o dia.
Lá embaixo, as pessoas andavam apressadas como se em busca de alguma coisa perdida em confins nunca localizados. O perfil retilíneo de uma estrada deslizou nos seus olhos. Na memória navegou um poema. Na retina dos olhos do sonho, pensou numa mulher.
A hora não era tardia assim para ele ficar pensando numa mulher.
Uma mulher é um pensamento doce, mesmo sendo, às vezes, uma fruta tão ácida para os lábios da vida. Uma mulher é o tempero sempre a fazer falta à atitude do homem. É tão insubstituível como o ar a envolver o planeta, como a alma que um dia debandará para algum espaço desconhecido.
Debruçou a alma na janela e a mulher saiu dos seus olhos.
Outras mulheres andavam lá embaixo nas calçadas da avenida e em todas existia o odor e a carne úmida daquela a habitar em seu pensamento. Podia até ser um sonho, mas vivificado sempre em todos os instantes em que sua mente pudesse se acreditar viva dentro dessa confusão planetária.
Perguntou-se onde abandonou aquele prazer de possuir uma carne sem tê-la sentido parte integrante de si próprio.
Perguntou-se se suas atitudes erraram dentro de algum ilógico sentido de tentar ser tudo que nunca pôde e como conseguiria construir uma vida dinâmica assim sozinho.
Perguntou-se de suas mudanças durante todas as temporadas negativas no próprio ciclo vital.
Perguntou-se quem lhe havia ensinado a forma mais simples de viver.
Debruçado na janela, sua alma estava sentada no parapeito rindo de suas perguntas.
Não. Nunca iria conseguir habituar sua forma de observar as coisas dentro do prisma mais sintético do vulgar. O que se perguntava não era e não podia ser considerado vulgar. Ele podia ser vulgar, mas não aquilo que ele perguntava a si próprio.
Perguntou-se então, quem, o que, por qual motivo o ensinaram a viver e ele nunca aprendera a conviver? Nem com a vida, nem com a morte a vir. Ele não sabia como fazer as coisas ficarem mais simples.
Debruçado no parapeito o solo lá embaixo tentava hipnotizar sua mente.
Notou o medo da alma e viu como ela buscava se abrigar dentro do quarto. Ouviu sua voz a dizer: “Não estou preparada para receber as respostas dessa maneira. Não me deixe assim sozinha. Vou tentar fazer com que a vida se ordene de forma mais concreta”.
Agora era ele a sentar no parapeito da janela. Observou a rua cheia de seres humanos indo e vindo, numa ansiedade de busca que só nesse momento entendia um pouco.
O perfil irregular de sua vida deslizou nos seus olhos cheios de lágrimas e assim teve pena da alma que não queria partir ao desconhecido. Teve pena de si próprio e, na sua memória, retratou-se um rosto de criança, da criança que um dia fora. Na retina dos olhos viu as mãos dos seus irmãos acenando um adeus que não desejava. Sua mãe, seu pai, seus tios, seus amigos...
A hora estava ficando tardia para ele pensar nos tantos que tinha amado.
Os tantos que amara eram pensamentos grandes demais para seu cérebro tão cheio de outras misérias mais pegajosas que o amor. Os que amara foram frutas, cujas sementes não germinaram na terra do seu tempo. Partiram para outros horizontes. Aos poucos o substituíram por outras frutas, outras atmosferas, outras águas.
Voltou à posição inicial, debruçado na janela, e a alma penetrou até o fundo de suas vísceras.
De dentro da alma saíram as lembranças e um teor amargo de solidão invadiu seu corpo.
Não perguntou mais nada a si próprio. Não era mais necessário.
Lá embaixo, a rua cheia de seres humanos criava um contraste com a sua solidão.
Não sabia o que lhe fazia falta e para que tentar descobrir?
Um dia, talvez, tudo se desenrole diante de suas retinas e ele consiga observar melhor as bobagens dos seus pensamentos.
Desceu a cortina sobre o espelho da alma janela.
Lá embaixo, as pessoas andavam apressadas como se em busca de alguma coisa perdida em confins nunca localizados. O perfil retilíneo de uma estrada deslizou nos seus olhos. Na memória navegou um poema. Na retina dos olhos do sonho, pensou numa mulher.
A hora não era tardia assim para ele ficar pensando numa mulher.
Uma mulher é um pensamento doce, mesmo sendo, às vezes, uma fruta tão ácida para os lábios da vida. Uma mulher é o tempero sempre a fazer falta à atitude do homem. É tão insubstituível como o ar a envolver o planeta, como a alma que um dia debandará para algum espaço desconhecido.
Debruçou a alma na janela e a mulher saiu dos seus olhos.
Outras mulheres andavam lá embaixo nas calçadas da avenida e em todas existia o odor e a carne úmida daquela a habitar em seu pensamento. Podia até ser um sonho, mas vivificado sempre em todos os instantes em que sua mente pudesse se acreditar viva dentro dessa confusão planetária.
Perguntou-se onde abandonou aquele prazer de possuir uma carne sem tê-la sentido parte integrante de si próprio.
Perguntou-se se suas atitudes erraram dentro de algum ilógico sentido de tentar ser tudo que nunca pôde e como conseguiria construir uma vida dinâmica assim sozinho.
Perguntou-se de suas mudanças durante todas as temporadas negativas no próprio ciclo vital.
Perguntou-se quem lhe havia ensinado a forma mais simples de viver.
Debruçado na janela, sua alma estava sentada no parapeito rindo de suas perguntas.
Não. Nunca iria conseguir habituar sua forma de observar as coisas dentro do prisma mais sintético do vulgar. O que se perguntava não era e não podia ser considerado vulgar. Ele podia ser vulgar, mas não aquilo que ele perguntava a si próprio.
Perguntou-se então, quem, o que, por qual motivo o ensinaram a viver e ele nunca aprendera a conviver? Nem com a vida, nem com a morte a vir. Ele não sabia como fazer as coisas ficarem mais simples.
Debruçado no parapeito o solo lá embaixo tentava hipnotizar sua mente.
Notou o medo da alma e viu como ela buscava se abrigar dentro do quarto. Ouviu sua voz a dizer: “Não estou preparada para receber as respostas dessa maneira. Não me deixe assim sozinha. Vou tentar fazer com que a vida se ordene de forma mais concreta”.
Agora era ele a sentar no parapeito da janela. Observou a rua cheia de seres humanos indo e vindo, numa ansiedade de busca que só nesse momento entendia um pouco.
O perfil irregular de sua vida deslizou nos seus olhos cheios de lágrimas e assim teve pena da alma que não queria partir ao desconhecido. Teve pena de si próprio e, na sua memória, retratou-se um rosto de criança, da criança que um dia fora. Na retina dos olhos viu as mãos dos seus irmãos acenando um adeus que não desejava. Sua mãe, seu pai, seus tios, seus amigos...
A hora estava ficando tardia para ele pensar nos tantos que tinha amado.
Os tantos que amara eram pensamentos grandes demais para seu cérebro tão cheio de outras misérias mais pegajosas que o amor. Os que amara foram frutas, cujas sementes não germinaram na terra do seu tempo. Partiram para outros horizontes. Aos poucos o substituíram por outras frutas, outras atmosferas, outras águas.
Voltou à posição inicial, debruçado na janela, e a alma penetrou até o fundo de suas vísceras.
De dentro da alma saíram as lembranças e um teor amargo de solidão invadiu seu corpo.
Não perguntou mais nada a si próprio. Não era mais necessário.
Lá embaixo, a rua cheia de seres humanos criava um contraste com a sua solidão.
Não sabia o que lhe fazia falta e para que tentar descobrir?
Um dia, talvez, tudo se desenrole diante de suas retinas e ele consiga observar melhor as bobagens dos seus pensamentos.
Desceu a cortina sobre o espelho da alma janela.
SESSENTA ANOS
Agora tão perto dos meus sessenta anos
Não mais vejo as ninfas e os faunos
Nas orgíacas festas dos jovens deuses
Tenho lágrimas mansas a deslizar
Em algumas rugas da minha face
Quando a lua faz solidão com minha vida.
Será que estou vendo meu tempo pela última vez?
Ai, ai, ai mente minha, não atrapalha este anseio
Tão antigo como eu
Quero voltar às libações da juventude
E usufruir os odores das fêmeas e os dissabores dos homens.
Sinceramente não tenho hoje nada mais
Além de um sol que vai se pondo triste
Deixando de iluminar todas as luas do seu sistema
Agora tão perto dos meus sessenta anos
Descubro a necessidade de ser louco pela vida.
Não mais vejo as ninfas e os faunos
Nas orgíacas festas dos jovens deuses
Tenho lágrimas mansas a deslizar
Em algumas rugas da minha face
Quando a lua faz solidão com minha vida.
Será que estou vendo meu tempo pela última vez?
Ai, ai, ai mente minha, não atrapalha este anseio
Tão antigo como eu
Quero voltar às libações da juventude
E usufruir os odores das fêmeas e os dissabores dos homens.
Sinceramente não tenho hoje nada mais
Além de um sol que vai se pondo triste
Deixando de iluminar todas as luas do seu sistema
Agora tão perto dos meus sessenta anos
Descubro a necessidade de ser louco pela vida.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
A CRÔNICA ESCRITA NAS ARQUIBANCADAS

Artigo de Rafael Rocha publicado
no Diário de Pernambuco
no dia 13 de Maio de 2005,
nos 100 anos do Papai da Cidade
Tarde ensolarada de domingo. Em torno do estádio da Ilha do Retiro milhares de pessoas vestidas com as cores de seus times favoritos se preparam para o lazer do futebol. O sol esquenta os corpos, as gargantas secam e lá se vai dinheiro para refrigerantes, cervejas, caldo de cana, água mineral. Do lado das sociais do estádio e na maior parte das arquibancadas tremulam estandartes vermelhos e negros nas mãos de uma multidão que grita e dilacera em sonhos seus corações.
Quando adentra o gramado a equipe do Sport Club do Recife parece que o mundo vem abaixo. Espocar de fogos de artifícios. Charangas em alta poluição sonora. Gritos. Assovios. Homens e mulheres a desmaiar de emoção. O carisma das cores negras e vermelhas é emocionante. De repente, de algum ponto do estádio sai o grito: “Como é, como foi e como vai ser!” E a multidão grita em resposta: “Cazá, cazá, cazá / A turma é mesmo boa / É mesmo da fuzarca / Sport, Sport, Sport”.
Os rivais do outro lado do estádio – sejam quais forem eles – tentam, em vão, silenciar o poderoso grito que provoca uma avalanche em todos os espaços do Estádio Adelmar da Costa Carvalho, e voa nos ares pela Estrada dos Remédios até o bairro dos Afogados, penetra nas janelas das casas e dos apartamentos da Madalena, da Torre, do Derby, e vai tocar e fazer ondas espumantes nas águas do rio Capibaribe. “Pelo Sport tudo / Cazá, cazá, cazá / A turma é mesmo boa / É mesmo da fuzarca...”
E pela tarde inteira lá vai a multidão faminta de sonhos de vitória a gritar os nomes de seus ídolos, a chorar enraivecida com o gol marcado pelo adversário, a praguejar contra os juízes do jogo, a desmaiar nas arquibancadas, gerais e sociais. Um delírio total!
E, de repente, quando as redes adversárias balançam uma, duas, três vezes, a galera toda saracoteia e os alicerces do estádio tremem nas suas bases. “É gooooollll! Goooll do Sport! Gooooolllll! A partir daí tudo se torna uma só alma e um só espírito. Nas vitórias e nas derrotas o torcedor do Sport é emoção total. Entrega total. Porque o clube é o símbolo que retrata o futebol em Pernambuco. E se o jogo terminar com a vitória das cores negras e vermelhas vai correr muito mais cerveja, cachaça, refrigerantes, caldo de cana e água mineral em todos os espaços que cercam o grandioso parque poliesportivo da Ilha do Retiro. E poder-se-á escutar o grito de guerra nas buzinas dos carros, nos batuques de mesa de bar, nas gargantas humanas, no assobiar da plebe agora uma só. Acabaram-se as diferenças sociais.
“Com o Sport eternamente estarei / Pois rubro-negras foram as cores que abracei / E o abraço de tão forte não tem separação / Pra mim o meu Sport é religião / A vida a gente vive pra vencer / Sport, Sport, uma razão para viver...(...)”
Ou então:
“Chegando lá na Ilha do Retiro / Ó abre alas, o Sport vai jogar / Rubro-negro é cor de guerra / É o super-Sport que estremece a terra (...) Vivendo com o Sport essa emoção / A galera se engrandece muito mais / Quem não falar do Sport é mudo / Cazá, cazá, cazá pelo Sport tudo”.
Um torcedor mais que religioso negro e vermelho – eis o verdadeiro torcedor do Sport – disse certa vez: “Nossos rivais que se preocupem com as coisas deles. Não se metam com as nossas. Essas são para resolvermos em nosso âmbito particular. Para se meter dentro desses âmbitos têm de conhecer nossa história de desbravador de caminhos. Somos únicos nesse aspecto. Têm de acatar nosso pioneirismo. Fomos nós, do Sport, a inculcar na alma dos pernambucanos o amor pelo futebol. Sim, pioneiros em Pernambuco somos nós que fazemos, vivemos e amamos o Sport Club do Recife. Em todos os sentidos. O mundo esportivo da terra pernambucana e os amantes do futebol só têm a agradecer a Guilherme de Aquino Fonseca pela implantação do esporte bretão em Pernambuco. Pela nossa fé o Sport eternizou o futebol pernambucano. E no futebol pernambucano o Sport se eterniza como vencedor. De pai para filho. Que beleza de árvore genealógica!”
E, eu digo agora: falar de Guilherme de Aquino Fonseca é falar de um idealista. É falar de um cérebro repleto de idéias, que vivia o presente pensando no futuro. Falar de Guilherme de Aquino Fonseca é o mesmo que dissertar sobre o grandioso sonho nascido de dentro de sua alma desde quando do seu retorno da Inglaterra. O sonho/idéia se chamava Sport Club do Recife, criação esta que ele pretendia, como muitos dos seus conterrâneos da época, ver se tornar o mais poderoso e amado time de futebol do Estado de Pernambuco. Guilherme de Aquino Fonseca não errou ao pensar dessa forma. Muito menos erraram Elysio Alberto Silveira Sobrinho, Boaventura Alves Pinho, Paulino Miranda, Alberto Bandeira de Melo, Frederico Rufino d’Oliveira, Joaquim da Silva Pereira, Augusto Pereira d’Oliveira, Oscar Gonçalves Torres, Guilherme Rodrigues da Silva, Alberto Teixeira Saraiva, Análio de Mello Resende, Carlos de Mello Resende, Sílvio Nery da Fonseca, Oswaldo Nery da Fonseca, Augusto Brandão da Rocha, João da Silva Regadas, Oscar Arthur dos Santos, Carlos D. Von Sohsten, Arthur Nogueira Lima, Albino Pereira Magalhães, Delphim d’Azevedo Palmeira, Eduardo da Silva Coelho, Vicente da Silva, Carlos Menezes, Raymundo C. da Silva Cassundé, Francisco Caracciolo Mages Coelho, Joaquim Loureiro, Augusto G. Fernandes Júnior, Francisco José de Mello, Oscar Amorim, Alberto Amorim e Mário Sette.
Todos estes assinaram a ata de fundação do Sport Club do Recife no dia 13 de maio de 1905, concretizando uma parte do ideal de Guilherme de Aquino Fonseca. De lá para cá, a outra parte do ideal foi rapidamente se tornando realidade: o Sport Club do Recife se fez grande, pois grandiosas eram as idéias dos seus construtores, cujas ações em prol do futebol vermelho e negro se perpetuam na alma dos seus amantes e seguidores há mais de um século, e vão, hereditariamente, germinando paixão no espírito do povo, homens, mulheres e crianças É Deus no céu e o Sport na terra pernambucana e recifense. E haja coração!
no Diário de Pernambuco
no dia 13 de Maio de 2005,
nos 100 anos do Papai da Cidade
Tarde ensolarada de domingo. Em torno do estádio da Ilha do Retiro milhares de pessoas vestidas com as cores de seus times favoritos se preparam para o lazer do futebol. O sol esquenta os corpos, as gargantas secam e lá se vai dinheiro para refrigerantes, cervejas, caldo de cana, água mineral. Do lado das sociais do estádio e na maior parte das arquibancadas tremulam estandartes vermelhos e negros nas mãos de uma multidão que grita e dilacera em sonhos seus corações.
Quando adentra o gramado a equipe do Sport Club do Recife parece que o mundo vem abaixo. Espocar de fogos de artifícios. Charangas em alta poluição sonora. Gritos. Assovios. Homens e mulheres a desmaiar de emoção. O carisma das cores negras e vermelhas é emocionante. De repente, de algum ponto do estádio sai o grito: “Como é, como foi e como vai ser!” E a multidão grita em resposta: “Cazá, cazá, cazá / A turma é mesmo boa / É mesmo da fuzarca / Sport, Sport, Sport”.
Os rivais do outro lado do estádio – sejam quais forem eles – tentam, em vão, silenciar o poderoso grito que provoca uma avalanche em todos os espaços do Estádio Adelmar da Costa Carvalho, e voa nos ares pela Estrada dos Remédios até o bairro dos Afogados, penetra nas janelas das casas e dos apartamentos da Madalena, da Torre, do Derby, e vai tocar e fazer ondas espumantes nas águas do rio Capibaribe. “Pelo Sport tudo / Cazá, cazá, cazá / A turma é mesmo boa / É mesmo da fuzarca...”
E pela tarde inteira lá vai a multidão faminta de sonhos de vitória a gritar os nomes de seus ídolos, a chorar enraivecida com o gol marcado pelo adversário, a praguejar contra os juízes do jogo, a desmaiar nas arquibancadas, gerais e sociais. Um delírio total!
E, de repente, quando as redes adversárias balançam uma, duas, três vezes, a galera toda saracoteia e os alicerces do estádio tremem nas suas bases. “É gooooollll! Goooll do Sport! Gooooolllll! A partir daí tudo se torna uma só alma e um só espírito. Nas vitórias e nas derrotas o torcedor do Sport é emoção total. Entrega total. Porque o clube é o símbolo que retrata o futebol em Pernambuco. E se o jogo terminar com a vitória das cores negras e vermelhas vai correr muito mais cerveja, cachaça, refrigerantes, caldo de cana e água mineral em todos os espaços que cercam o grandioso parque poliesportivo da Ilha do Retiro. E poder-se-á escutar o grito de guerra nas buzinas dos carros, nos batuques de mesa de bar, nas gargantas humanas, no assobiar da plebe agora uma só. Acabaram-se as diferenças sociais.
“Com o Sport eternamente estarei / Pois rubro-negras foram as cores que abracei / E o abraço de tão forte não tem separação / Pra mim o meu Sport é religião / A vida a gente vive pra vencer / Sport, Sport, uma razão para viver...(...)”
Ou então:
“Chegando lá na Ilha do Retiro / Ó abre alas, o Sport vai jogar / Rubro-negro é cor de guerra / É o super-Sport que estremece a terra (...) Vivendo com o Sport essa emoção / A galera se engrandece muito mais / Quem não falar do Sport é mudo / Cazá, cazá, cazá pelo Sport tudo”.
Um torcedor mais que religioso negro e vermelho – eis o verdadeiro torcedor do Sport – disse certa vez: “Nossos rivais que se preocupem com as coisas deles. Não se metam com as nossas. Essas são para resolvermos em nosso âmbito particular. Para se meter dentro desses âmbitos têm de conhecer nossa história de desbravador de caminhos. Somos únicos nesse aspecto. Têm de acatar nosso pioneirismo. Fomos nós, do Sport, a inculcar na alma dos pernambucanos o amor pelo futebol. Sim, pioneiros em Pernambuco somos nós que fazemos, vivemos e amamos o Sport Club do Recife. Em todos os sentidos. O mundo esportivo da terra pernambucana e os amantes do futebol só têm a agradecer a Guilherme de Aquino Fonseca pela implantação do esporte bretão em Pernambuco. Pela nossa fé o Sport eternizou o futebol pernambucano. E no futebol pernambucano o Sport se eterniza como vencedor. De pai para filho. Que beleza de árvore genealógica!”
E, eu digo agora: falar de Guilherme de Aquino Fonseca é falar de um idealista. É falar de um cérebro repleto de idéias, que vivia o presente pensando no futuro. Falar de Guilherme de Aquino Fonseca é o mesmo que dissertar sobre o grandioso sonho nascido de dentro de sua alma desde quando do seu retorno da Inglaterra. O sonho/idéia se chamava Sport Club do Recife, criação esta que ele pretendia, como muitos dos seus conterrâneos da época, ver se tornar o mais poderoso e amado time de futebol do Estado de Pernambuco. Guilherme de Aquino Fonseca não errou ao pensar dessa forma. Muito menos erraram Elysio Alberto Silveira Sobrinho, Boaventura Alves Pinho, Paulino Miranda, Alberto Bandeira de Melo, Frederico Rufino d’Oliveira, Joaquim da Silva Pereira, Augusto Pereira d’Oliveira, Oscar Gonçalves Torres, Guilherme Rodrigues da Silva, Alberto Teixeira Saraiva, Análio de Mello Resende, Carlos de Mello Resende, Sílvio Nery da Fonseca, Oswaldo Nery da Fonseca, Augusto Brandão da Rocha, João da Silva Regadas, Oscar Arthur dos Santos, Carlos D. Von Sohsten, Arthur Nogueira Lima, Albino Pereira Magalhães, Delphim d’Azevedo Palmeira, Eduardo da Silva Coelho, Vicente da Silva, Carlos Menezes, Raymundo C. da Silva Cassundé, Francisco Caracciolo Mages Coelho, Joaquim Loureiro, Augusto G. Fernandes Júnior, Francisco José de Mello, Oscar Amorim, Alberto Amorim e Mário Sette.
Todos estes assinaram a ata de fundação do Sport Club do Recife no dia 13 de maio de 1905, concretizando uma parte do ideal de Guilherme de Aquino Fonseca. De lá para cá, a outra parte do ideal foi rapidamente se tornando realidade: o Sport Club do Recife se fez grande, pois grandiosas eram as idéias dos seus construtores, cujas ações em prol do futebol vermelho e negro se perpetuam na alma dos seus amantes e seguidores há mais de um século, e vão, hereditariamente, germinando paixão no espírito do povo, homens, mulheres e crianças É Deus no céu e o Sport na terra pernambucana e recifense. E haja coração!
RECIFE PLANTADO
O Recife se planta nas águas
Nos olhos dos homens
Nas mãos de crianças maduras
No seio da fome
O Recife se planta nas ruas
De raízes sedentas
Em mulheres famintas de sonhos
Regados a luzes mortiças
Ruas paralelas à morte
E desiguais à vida
A cidade dorme e acorda
Faminta de ilusão
Águas, areais, mangues
Do alto da Sé de Olinda
Vicejam catacumbas
O Recife nascemos nas noites
Mais cruéis que os dias
Nascemos o Recife nas entranhas
Do buraco no mar
O Recife vivemos nos ares
Sombrios feiticeiros
Dos velhos fidalgos
Nassovianos ou portucales
Os homens fazem fria a cidade
Quente a fazem as mulheres
Mornas as mãos infantis
Dão a fé e a esperança
Nos olhos dos homens
Nas mãos de crianças maduras
No seio da fome
O Recife se planta nas ruas
De raízes sedentas
Em mulheres famintas de sonhos
Regados a luzes mortiças
Ruas paralelas à morte
E desiguais à vida
A cidade dorme e acorda
Faminta de ilusão
Águas, areais, mangues
Do alto da Sé de Olinda
Vicejam catacumbas
O Recife nascemos nas noites
Mais cruéis que os dias
Nascemos o Recife nas entranhas
Do buraco no mar
O Recife vivemos nos ares
Sombrios feiticeiros
Dos velhos fidalgos
Nassovianos ou portucales
Os homens fazem fria a cidade
Quente a fazem as mulheres
Mornas as mãos infantis
Dão a fé e a esperança
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