Nos livros escolares que falam da História do Brasil muitos fatos deixam de ser relatados para o conhecimento dos nossos atuais estudantes, ou então são encobertos de tal forma para que as elites dominantes possam continuar a fazer a lavagem cerebral dos jovens. Na realidade, a História do Brasil é uma história escrita pelos poderosos de plantão e jamais será a verdadeira história-pátria. Nessa história apresentada nas escolas os autores não mostram a corrupção, os nomes dos escroques e a ladroagem que dominava e domina todo o espaço de vida brasileiro.
Por que será que livros como AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA, de Eduardo Galeano, não entram no currículo da História do Brasil? Exatamente porque eles falam a verdade que as elites governantes escondem do povo e dos jovens nas salas de aula. É uma pena que esses jovens sofram uma lavagem cerebral tão profunda e nunca, mas nunca mesmo, tentem buscar em outro livros a realidade crua e dura da vida íntima de nossa nação.
Vejamos um exemplo contido no livro AS VEIAS ABERTAS:
"Em 1952, um acordo militar assinado com os Estados Unidos da América do Norte proibia o Brasil de vender as suas matérias-primas de valor estratégico - como o ferro - aos países socialistas. Esta foi uma das causas da trágica queda do presidente Getúlio Vargas, que desobedeceu a essa imposição, vendendo ferro à Polônia e à Tchecoslováquia, em 1953 e 1954, a preços muito mais altos do que os que pagavam os EUA. Em 1957, a Hanna Minning Co. comprou, por US$ 6 milhões, a maioria das ações de uma empresa britânica, a Saint John Mining Co., que se dedicava à exploração do ouro de Minas Gerais desde os longínquos tempos do Império. A Saint John operava no vale do Paraopeba, onde há a maior concentração de ferro do mundo inteiro (...). A empresa inglesa não estava legalmente habilitada para explorar esta riqueza fabulosa, nem estaria a Hanna, de acordo com disposições claras constitucionais e legais que Osni Duarte Pereira enumera em sua obra (Ferro e Independência, Um Desafio à Dignidade Nacional, Rio de Janeiro, 1967) sobre o tema. Porém este foi, segundo se soube logo, o negócio do século.
George Humphrey, diretor-presidente da Hanna, era então membro proeminente do governo dos Estados Unidos, como secretário do Tesouro e como diretor do Eximbank, o banco oficial para o financiamento das operações de comércio exterior. A Saint John tinha solicitado um empréstimo ao Eximbank: não teve sorte até que a Hanna se apoderou da empresa. Desencadearam-se, a partir de então, as mais furiosas pressões sobre os sucessivos governos do Brasil. Os diretores, advogados ou assessores da Hanna - Lucas Lopes, José Luiz Bulhões Pedreira, Roberto Campos, Mário da Silva Pinto, Octávio Gouveia de Bulhões - eram também membros, ao nível mais alto, do Governo do Brasil, e continuaram ocupando cargos de ministros, embaixadores ou diretores de serviços nos ciclos seguintes. A Hanna não tinha escolhido mal seu estado-maior. O bombardeio se fez cada mais intenso, para que se reconhecesse à Hanna o direito de explorar o ferro, que pertencia, a rigor, ao Estado brasileiro. No dia 21 de agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros assinou uma resolução que anulava as ilegais autorizações dadas de favor à Hanna e restituía as jazidas de ferro de Minas Gerais à reserva nacional. Quatro dias depois, os ministros militares obrigaram Jânio Quadros a renunciar. O texto da renúncia dizia: "Forças ocultas terríveis se levantaram contra mim..."
O levante popular encabeçado por Leonel Brizola, em Porto Alegre, frustrou o golpe dos militares (apoiados pelos EUA e pela Hanna) e colocou no poder o vice-presidente João Goulart. Quando em julho de 1962 um ministro quis pôr em prática o decreto fatal contra a Hanna - que tinha sido mutilado no DIARIO OFICIAL -, o embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, enviou a Goulart um telegrama protestando com viva indignação pelo atentado que o governo brasileiro ameaçava cometer contra os interesses de uma empresa norte-americana. (...) Goulart vacilava em validar a resolução (nacionalista) de Jânio Quadros.
A espada de Dâmocles da resolução de Jânio permanecia em suspenso sobre a cabeça da Hanna. Por fim, o golpe militar explodiu no último dia de março de 1964, em Minas Gerais, que casualmente era o cenário das jazidas de ferro em disputa. "Para a Hanna - escreveu a revista Fortune -, a revolta que derrubou Goulart na primavera passada chegou como um desses resgates de último minuto pelo Primeiro da Cavalaria". Depois, homens da Hanna passaram a ocupar a vice-presidência do Brasil e três dos ministérios. (...)
(...) Depois que se cansaram de lançar na fogueira ou no fundo da Baía da Guanabara os livros de autores tais como Dostoievski, Tolstoi ou Gorki, e após terem condenado ao exílio, à prisão ou à morte uma quantidade incontável de brasileiros, o recém-instalado regime militar de Humberto de Alencar Castelo Branco pôs mãos à obra: entregou o ferro e todo o resto. A Hanna recebeu seu decreto no dia 24 de dezembro de 1964. Este presente de Natal não só lhe outorgava todas as seguranças para explorar em paz as jazidas de Paraopeba, mas, além disso, apoiava os planos da empresa ianque para ampliar um porto próprio a 66 quilômetros do Rio de Janeiro, e para construir uma ferrovia destinada ao transporte do ferro”. (Tudo pago com o dinheiro dos brasileiros).
A pressão para derrubar um governante passou antes pela ação dos ianques que se viram prejudicados com a nacionalização da matéria-prima brasileira. E a ladroagem avança até nos mais altos escalões da República, continuando viva até hoje. Para tudo existe uma explicação plausível. Para todo efeito há uma causa.