quinta-feira, 6 de outubro de 2011

TESTES

O amor faz amor e rima com dor
E flor e amargor e ardor e é cantor
E tem um sabor de se eu me for
Serei um penhor ao teu dissabor.

Dor é amargor e também é sabor
De amor já perdido todo o ardor
A fazer o pintor trocar sua cor
No clamor que por ele gritou.

E a fazer o poeta poetar sua dor
Por um caminho onde continuou
O verso maldito que por cá passou

No corpo macio que ele abraçou
E onde se fez e por onde dançou
A última ninfa com que sonhou.

RECLAMAÇÃO

Já de um tempo que a história me arrasta
Na busca da verdade e no anseio e nem sei
Se existe humanidade nessa terra vasta
Atacada pelo homem desobediente à lei.

Minha vida reclama dessa árida madrasta
Benzendo a raça humana como líder da grei
E sentir essa maldição da poderosa casta
Superior a tudo aquilo que eu imaginei.

Merda de sonho! Onde o ponho nem sei mais
Esse assaz humano pensar ladrão e assassino
A fazer de seus dotes esperança tão fugaz.

Merda de escrever este soneto em desatino
Sentindo um choro longo atrapalhar a paz
Do caminho a restar no badalar de um sino.

DOS HOMENS SIMPLÓRIOS

Palavras há perdidas e loucas para ganharem vida
Homens há onde tais vozes vivem e se permitem
Encontrar um porto ou alguma guarida
Onde possam dizer o quanto vivem
Declamando as sílabas das inverdades.

Palavras ainda voam e os homens fazem-se cegos
Ajoelham-se em altares como ensandecidos
Elevam orações às miragens dos seus egos
Não se imaginam homens perdidos
Adorando tantos símbolos e deidades.

Rastejam os corpos buscando algo igual à luz
Esquecem seus contraditórios sentimentos
Nos olhares hipnotizados algo mais traduz
Em seus mais simplórios pensamentos
A ignorância e o mito de um homem na cruz.

Palavras há voando em cores de todos os matizes
E mulheres e homens mergulham nos precipícios
Das mentiras ditas e escritas e feitas cicatrizes
Nos seus equinócios e nos seus solstícios
Onde o medo inflama a busca pelos paraísos.

Rastejam as dores humanas em todas as direções
E a ópera popular supera a realidade dos fatos
Nem vêem morta a bela Inês do poeta Camões.
Nem vêem a ilusão e o acaso vindo desses atos.
E deixam-se assaltar pelos bandidos das religiões.

A VOZ DO HOMEM NO CAMINHO

Meu caminho foi desenhado como um rio de pedras
Onde águas deslizam por sobre areias subterrâneas.
Venho caminhando nas margens escondidas dessas águas
A buscar aquilo que o mundo deve a todos os poetas.
Se o ritmo trouxe minha memória até aqui tão perto
Pretendo receber o que me é devido
Antes de o rio subterrâneo despencar no mar de algum deserto.

Aos meus lábios trago vozes extraordinariamente metafóricas.
Ainda que meus ouvidos não sejam grande coisa no mundo
Venho caminhando nessas metáforas desde saber-me gente
A tentar desenhar o que tantos humanos jamais viram.
Se as tintas de minhas pinturas são tão rupestres aos olhares
Ainda assim quero receber o que me devem
Antes que as metáforas causem danos ao verso solto nos ares.

Não sei quem ou o quê me trouxe até este espaço vazio e oco
Nem sequer resolveram perguntar se eu tinha tento em vir.
Vim de um homem e de uma mulher que se amaram um dia
E também buscaram fazer no mundo uma reinação de sonhos.
Se a verdade desse amor me deu carne e osso e olhos e vida
Agora é que desejo receber essa dívida
Antes de a perdição criar uma estrada sem cor e sem saída.

Quero um passaporte novo para a ida sem precisar da volta.
Abram a fronteira para meu poema passar sem percalço algum.
Eu quis tanta coisa para mim e ganhei tão poucas glórias.
E dessas coisas poucas eu sou mais o máximo que o mínimo.
Se nesse assombro ao ler-me tantos olhos em mim pousam
Por tal fato desejo receber com juros o que me devem
Antes de os assombros tornarem-se coisas que não ousam.

Dêem-me licença para voar dentro de minha força!
Dêem-me licença para ser mais livre que tantos!
Não deixarei que forças fantasiosas molestem meu tempo.
Jamais serei fustigado por mentes imbecis e escravocratas.
Se se escandalizarem com esse poder de minha liberdade
Matem-me! Mas ainda morto irei atravessar toda a vida
Dono de meu destino. Dono de minha mais inteira verdade.

domingo, 18 de setembro de 2011

LOUCA OBSESSÃO

Pensando no teu corpo eu canto um velho fado
Levo o meu sangue a escorrer a teu lado
Invisível e esperando ameigar a paixão.
A saudade obriga a carne a elevar um brado
Ainda que me chamem de velho safado
Pretendo degustar os sabores de tua amplidão.

Mulher a habitar meus sonhos mais inteiros
Suaves espaços de suor, de pelos e de cheiros
Estás viva nos meus versos em louca obsessão.
Mulher da flor cativa odorosa aos canteiros
Dos seios, das axilas, das coxas e ligeiros
Desejos de sexo insano a criar louco tesão.

Pensando em tua boca carnuda eu derramo
A teu anseio maluco de querer saber se eu amo
Ou se apenas estou a plantar uma ilusão.
Mulher a fazer delirar tudo que eu chamo.
Dá-me o bramido retumbante que reclamo:
- Vinde a mim saciar essa fome de paixão!

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@Copyright by Rafael Rocha Neto - Recife, 17 de setembro de 2011

REPULSÃO

Tenho repulsão às vozes dos poetas incoerentes
Orando desvairados ao pé de cruzes e de imagens
No mundo e neste agora eles vivem tão-somente
Às fantasias de cristos, espíritos santos e miragens.
Não buscam ver a realidade milenar do mundo
E cantam nas entrelinhas as odes mais sacrossantas
Imenso é o medo de morrer e mergulhar no fundo
Do ódio do deus que rege seus versos de pilantras.

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@Copyright by Rafael Rocha Neto - Recife, 17 de setembro de 2011

AINDA

Ainda que tarde eu acorde o mundo espera.
Ainda que eu não saiba aonde me leva a vida.
Ainda que as traças da morte vivam à espreita
Não sei o quanto do acordar virá de mim.

Ainda que o sol bata na janela e mostre a luz.
Ainda que o calor da manhã queira despertar-me.
Ainda que a preguiça domine os átomos corporais
Não sei quanto o viver de mim é assinalado.

Os chinelos esperam meus pés ao pé do leito
Numa pergunta muda: aonde hoje vais me levar?
Gosto de estradas planas e de terras molhadas
Para proteger dedos e artelhos no teu caminhar.

Ainda que o dia esteja à espera do meu corpo.
Ainda que a pele respire o mais intenso ar.
Ainda que a solidão esteja cruel, viva e presente.
Os versos não pretendem nada mais do que voar.

Ainda que o tempo traga frêmitos equivocados.
Ainda que o amor dê-se a tornar-se um ludibrio.
Ainda que precise retomar velhos pensamentos.
Não sei o quanto de mim está aqui aprisionado.

Molho o corpo nas águas mornas do chuveiro
Numa pergunta líquida: onde posso mergulhar?
Gosto da vida e de suas etapas descontroladas
Gosto de ser eu mesmo. Gosto de me amar.

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@Copyright by Rafael Rocha Neto - Recife, 17 de setembro de 2011

terça-feira, 30 de agosto de 2011

TEMPO DE SER

Se a dor de ir nos causa amargura
E devasta o interior de nosso estar
Ainda temos de acatar essa loucura:
O barco de Caronte a nos chamar.

Tendo da morte a certeza definida
Como deter essa tremenda crueldade?
Como fazer um poema à partida
Se a própria vida vai trazer saudade?

Basta ocultar-se na ilusão de ser imortal
Pois no tempo onde pomos pés na terra
Nada de crer na escuridão que ela encerra.

E ser no todo um indivíduo passional
Vivendo célere todo e qualquer instante
Sugando o néctar do prazer inebriante.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 29 de agosto de 2011.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

DESORDEIRO

Nunca diga de mim falta de ardência.
Nunca pergunte para mim o que não amo.
Saiba: o meu cantar tem excelência
No tudo verdadeiro que eu proclamo.

Nunca marque em mim as diferenças.
Nunca acentue um verso onde não rimo.
Saiba: por mais que eu não tenha crenças
Sou verdadeiro em tudo que exprimo.

Diga de mim o mais amplo movimento:
Paixão de poeta e amor constante
No espaço dos versos ontem e agora.

Diga de mim aquele louco sentimento:
No beijo, no coito e em ser bastante
Desordeiro da paixão que me devora.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

POEMA EM ÂNSIA

Verde oceano aos barcos abrindo alas às travessias
Minhas asas voejam sobre ti no sonho mais indomado
Ganhando espaço nas alfombras dos teus velhos dias
De onde em voo liberto nasce o verso do desesperado
Na pretensão de morrer no ar buscando vento seguro
A deslizar em belos seios de auroras e sóis fulgurantes
A fundir o corpo alado ao corpo da mulher onde juro
Viver eterno e pronto a cantar os poemas delirantes.
Verde oceano deixa o pássaro voejar na imensidade
Deixa o voo maduro doar o verso da sua inconstância
Até que o limiar da vida feche o ciclo da sua eternidade
E faça os humanos pensarem sobre a mais crua ressonância
Do lirismo da liberdade rubra na cor dessa perenidade
Que outra não é que a essência do poema posto em ânsia.


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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 11 de agosto de 2011.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

CASUALIDADE

Ao falarmos de amor e de solidão
O tempo fica assim de tão pequeno
E a vida faz de conta ser canção
A voejar sob algum vento ameno.

Na verdade é melhor falar paixão
No corpo, nos lençóis e nas entranhas.
Bom sentir o germinar dessa ilusão
No casual das almas mais estranhas.

Continua a vida! Essa é a natureza
Mesma de saber o curtir a beleza
Sem comprometer verão e inverno.

Pois no outono do viver a primavera
É a loucura do sentir nova quimera
E criar um tempo chamado de eterno.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 27 de julho de 2011.

DIVAGAÇÃO

Nuvem sombria na busca de um norte
O poeta divaga sobre o mundo
Na busca de entender a sua sorte
Filosofa o saber no mais profundo
Espaço aberto onde a deusa morte
Baila o lirismo no negrume do altar
Onde a vida solitária faz a corte
De tal rainha no seu sacrificar.

Nada responde a dor de quem o vê
Nada lhe diz o motivo dele ser
O hoje! O amanhã! E aquele onde!

Sendo nuvem a voejar em momento!
Sendo apenas um rápido pensamento!
Verme universal que não responde!

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 26 de julho de 2011.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

UM DIA HAVERÁ

Um dia haverá! Não sei o onde e o quando.
Irão cantar meus versos nos bares e nas ruas
E ouvidos surdos escutarão o pranto
Das solidões e dores tão cruéis e nuas

Um dia haverá! Não sei o onde e o quando.
Meus versos serão cantados noite e dia
Nos botecos e nos piores antros
De onde os poetas buscavam calmaria

Haverá um dia! Não sei o onde e o quando.
Outro poeta lerá meus versos em seu viver
E a gritante emoção trar-lhe-á o pranto
Num soneto que ele pensou em escrever

Um dia haverá! Não sei o onde e o quando.
Não estarei mais aqui para saber.
Uma mulher dos meus versos faz um manto
E nele cria novo espaço para renascer.

Um dia haverá
Não sei o onde
Não sei o quando
Um dia haverá
Irão cantar...


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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 25 de julho de 2011.

domingo, 24 de julho de 2011

SOLIDÃO CRUEL

Pelo meu agora instante intranquilo
De onde os versos nem sabem aonde vão
Meu dormir parece mais o de um felino
Tentando espantar a solidão.

O quarto escuro se enche de miragens
A tentar falar comigo ideias vãs
Nesta idade para que novas paisagens
Se já não tenho mais almas irmãs?

Meu olhar vadeia o teto insondável
E põe a viajar por ele o coração
E o corpo seminu peleja insaciável
Contra a febre e contra a paixão.

Eis, aparecendo velhos pesadelos
Para encher de terror meus pensamentos
Abre-se o solo sobre meus joelhos
E meu grito rouco saltita seus tormentos.

Maldita! O que desejas de mim agora?
Já não basta ser fantasma pela noite?
Maldita solidão! E até mesmo na aurora?
Por que tenho de viver sob teu açoite?

As horas passam e o sono impedido
De ser sono abre alas à insônia crua.
E de repente o dia nasce entristecido
E a dor ataca o peito totalmente nua.

Ah, desde quando eu me sei a vida é essa:
Trevosa e cheia de pedras e de abismos
Até agora consentidos à minha pressa
De viver sempre a fugir de tantos sismos.

Assim, sigo a vida triste enquanto fico velho.
Coração solitário neste inquieto mundo.
Morro aos poucos à luz de meu espelho
E despeço-me assim, profundo, profundo...

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 12 de julho de 2011.

INCERTEZA

Se uma força faz o amor deixar de ser
O amor tão certo a dizer como governa
Minha alma e como pode ser eterna
A certeza deste amor nunca morrer.

Ela disse:
tal amor é ideia incerta
Não existe anseio assim de bem-querer
Mesmo pairando no teu sobreviver
Nunca deixarás uma porta aberta.

Não há amor assim! É ilusão pura!
Não há força assim! Não há ternura
Capaz de subjugar minhas tristezas.


E quando o beijo misturou as salivas
Sua ideia morreu nessas águas vivas
E nasceram nela novas incertezas.
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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 10 de julho de 2011.

DEZ POEMAS DE SOFRIMENTO OBTUSO

- I -
DOR ELEMENTAR

Dores chamam gritos roucos
Aos lábios de quem busca calar
Roucos gritos chamam cruéis dores
No poema final a torturar
Carne e ossos e pele e memória
Fica a densidade da história
Em qualquer lugar
Dores reclamam atrozes precipícios
À boca de quem busca falar
Sorrisos no meio de suplícios
Escrevendo os versos
Da dor elementar.

- II -
PUNHALADA

Dor e gritos
Entra n’alma o punhal
Nada com nada a dizer
Ou simplesmente escrever
Ou ser ave e voar
Entra n’alma o punhal
Ao se tentar reconhecer
A vida num só lugar
Isso é tão irreal!

- III -
BOLERO

O som do bolero
Perdura dentro da noite
E a nota musical
Final
Fecha o último botequim
A poesia canta
O princípio do fim.

- IV -
SER

O ser em mim dança
O ser em mim escreve
O ser em mim canta
O ser em fim pinta
Um caleidoscópio
Horizontes rubros
E se tenta poeta
Como se tenta ser deus.

- V -
LÁGRIMA

A lágrima desceu
Na solidão da noite
De olhos enrugados
E a face esforçou a pele
Do entendimento
Para absorver a dor

- Incompreensão de mim -
Resta um espaço vazio:
Buraco negro
Da ruindade
Desta terra
Desta vida

- VI -
INCERTEZA

Não sei o que fiz de mim
Em tanto tempo de caminhos
Através de ilusões
E através de corpos
E através de escuridões
Não sei o que fiz de mim
Em tanto tempo de destinos
Através destas razões
Aos outros tão bastantes
De versos inconstantes.

- VII -
PRAZER

Amor...
Assim não verás de mim
O beijar mais quente
Amada...
Assim não terás de mim
O beijo potente
Terás sonhos
Coisas irreais
Amor...
Faz com que aumente
O ser de mim
Em desejos reais
Dentro de ti.

- VIII -
SOFRIMENTO

Esta noite está perversa
Com peculiaridades
De madrasta ruim.
Quero e nada posso ter
De mim foge o grito
De sofredor
Dores a sair de dentro
Por destruição de amor.
Esta noite é perversa
Com peculiaridades
De dia tempestuoso.
Quero e não tenho nada
Habita em mim a dor
Eu sofro.

- IX -
PARTIDA

Tranco os versos na arca
Mais cerebral de minha vida
Vou partir...
Não vejo mais teu sorriso
Mulher mais querida
Eu te entristeci
Tranco os poemas na mala
Mais cerebral de mim
As ruas são grandes salas
De velórios aos mortos
Que me habitam
Vou partir...
Não vejo mais tua alegria
Eu errei em tudo enfim
As estradas são túmulos
Dos mortos
Que me habitam.

- X -
APEDREJAMENTO

Passam pensativos e calados
Ao meu lado os seres amados
E ordenam o apedrejamento
Do poeta.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 9 de julho de 2011.

DE ANTES DAS PRISCAS ERAS

Do tempo de onde não havia estrelas
Nem sóis nem luas nem planetas
Tempo de onde gases de venenos
Agarravam bactérias ainda não florais
A ideia flutuava.

Do momento de onde não havia voz
Nem bocas nem tímpanos nem olhos
Momento de onde convergia silêncio
Viviam vírus dos futuros tão gerais.
A ideia começava.

Do instante de onde o tempo alçava voo
Nas alfombras sem luz e sem ecos
Instante de onde cruzaram-se poeiras térmicas
Em busca de alimentos estratosféricos
A ideia bailava.

Um dia...
Tudo envelheceu juntando faces enrugadas
Em fogo e relâmpagos e trovões e águas
Em neve e no caldeirão dos buracos negros
Explodiu a ideia.

Uma noite...
Colisão furtiva de milhões de térmicas
Deu-se à luz ao turbilhão dos sons de pedras
Águas e trovoadas e neve e frio e calor
Enrijeceu-se a ideia.

Sol. Estrelas. Cometas. Meteoros. Luas.
Logaritmos fugazes de linhas planejadas
A trouxeram.
E o verme começou a dançar nos vácuos
Uma ilha de fogo abriu alas às galáxias.

No tempo de onde vácuos ergueram-se
Como espaços maiores e infinitos
Tempo de onde gases vivificados
Ameigaram as bactérias de seres vivos
Nasceu o logos.

Do momento assim de onde veio um som
Uma música fina aos ouvidos surdos
Momento de onde convergiu o eco
Do vírus em trâmite de ligações termais
O logos começava.

Do instante de onde pariu-se o mundo
Nas violências e nos choques de ondas
Crescentes tempestades magnéticas
Na busca de habitats consistentes
O logos dançava.

Um dia...
Tudo anoiteceu em faces infantis e jovens
Em luz e em verde e em azul e em neon
Enormes bolas astrais iniciaram voos
O logo explodia.

Uma noite...
A colisão de água e fogo e terra e gás
Deu-se à luz poeira de estrelas
E algo assim de ar e calor e frio
Enrijeceu o logos.

Ardeu então nas profundezas coisas de asas
E pedras e céus desmoronados e quadrúpedes
E árvores e chuva e rios e mares e cavernas
E corpos errantes e a dor de nada se saber:
De onde o logos?

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 30 de junho de 2011.

DESEJOS

Desejos loucos e luxuriosos. Por que não?
Meu sangue escorre na carne limpo e forte
Meu cérebro ainda não pensa na morte.
Anseios de viver atacam o coração.

Não desejar? Loucura! Desejo e sou paixão!
Venha a mim o corpo nu. Deite-se em meu porte.
Esmiuçando toda a beleza e o que importe
Pra saciar minha fome e este líquido tesão.

Ah, quantas vezes, mulher, lembrei de ti!
E mais louco ainda hoje fico a recordar
Sempre que dizes que eu já te esqueci.

Ah, quantas vezes, mulher, crias um por fim
Com teu cheiro, teu suor.. Só pra lembrar
O quanto andas vivaz e eterna em mim.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 29 de junho de 2011.

SENSAÇÕES DE INVERNO

As sensações de se inventar a vida
Para o agora do tempo finito
Na boca da noite ou no pensar
Como posso ficar desatento
Aos desejos da epiderme?

Bom deverá ser inventar
As músicas das ausências
E sentir a antiguidade maior
Da presença
Do corpo antigo a nos encantar.

Ah! Amada minha!
Quanto prazer pensar em ti!
No tempo de quando eras verão
De quando cantavas o amor
Fora e dentro de minha pele.

Hoje
Curto o silêncio
Hoje
Curto amargura
Hoje
Lembro o eco dos abraços
Hoje
Recordo o sabor dos beijos.

Essa harmonia desarmonizada
Onde mergulhas em inverno
Dói tanto em mim.
Nem sabes como permaneço
Atento ao teu prazer.

Deixar morrer o obscuro
Tal o galo solitário a cantar
Na última manhã
Estaremos a acenar
Cruéis adeuses.

Ah! Amada minha!
Se pensar em mim dói
No tempo em que serei inverno
Irás lembrar o verso de amor
Dentro de tua carne.

Amanhã
Terás o silêncio
Amanhã
Terás a amargura
Amanhã
Pedirás os beijos
Amanhã
Recordarás...

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 29 de junho de 2011.

SANGRAMENTO DA SOLIDÃO

É a verdade da solidão a doer no peito
Escrevendo o verso sangrento
De fora para dentro.
É a verdade do desamor mais inquieto
Querendo ser verdade áspera
De dentro para fora de mim.

Escrevo a dor da solidão em sangue.
Ainda esperando não ser preciso.
Mas a dor vem. Vem e vai. E vem
De fora para dentro
Como sendo dona de meus caminhos.

Paro para olhar o cotidiano da sala.
E a vejo no olhar parado da mulher
Sem cor e sem paixão a ver TV.
Paro para olhar o diário da manhã
E vejo a mulher sendo escrava do tempo.

Ah, nada mais tenho a perder...
A solidão tem tintas vermelhas de sangue.
Ela é uma dor a bater no ir e vir.
Ainda se eu gritar áspero e traiçoeiro
O olhar do mundo ao redor pedirá silêncio:
Fale baixo para ninguém reclamar!

Que ninguém! Que merda! Que nada!
É a realidade da solidão a habitar em mim!
E mesmo a esperar não ser preciso
Escrever e declamá-la
Ela tornou-se dona de meus caminhos
De fora para dentro.

….............
@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 13 de junho de 2011.

PERGUNTAS


Onde estarão os velhos segredos
E aqueles medos
Carregados dentro das noites?
Será que estão mortos?
Será que estão perdidos
Ao próximo fim?

Onde estará você? Onde estarei?
Onde ficarão as horas
Criadas em nossos caminhos?
Será que estão mortas?
Será que estão perdidas
Por não terem tido início?

Onde está a poesia emotiva
Ainda não recitada por mim?
Onde está o verso de todo dia?
Quem o esqueceu por aí?
Será que resolveram ser segredos
Dentro das noites de meus medos?

Vai! Pergunta a mulher adormecida
Ao lado do meu corpo:
Por que não és mais a mesma paixão?
Por que agora és tão invernal?
Pergunta! Talvez a poesia volte
E eu a possa declamar para a multidão.

Nem sei se estou vivo por aqui.
Nem sei se tenho sangue no caminho
Dos versos que pretendo escrever.
Talvez esteja esperando a resposta
Sabendo que não virá
De forma alguma.

Por isso tanto os olhos pousam
nas novíssimas mariposas.
Por tal esquecimento de mim
A carne grita e proclama:
A certeza de estar vivo
Ainda perdura por aqui!

Pergunta vai. Pergunta vem.
Mas ninguém pergunta a mim
Sobre as certezas dos medos.
Sabem o quanto estes segredos
Preferem estar mortos
E esquecidos dentro das noites...

….................
@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 13 de junho de 2011.

REJEIÇÃO

A noite bate em minha porta.
Encho de vinho o copo.
Tenho essa solidão melíflua
A bater nos meus minutos.

Sinto-me rejeitado.
Resta meu eu interior
A viver abertamente
E a sonhar por mim.

Esta madrugada é de chuva.
Dentro de mim a tempestade
Traz relâmpagos coloridos
E densidades de torturas.

Na casa toda vive o silêncio
E nem sinto ao trajeto dessa dor.
Irmanada no homem rejeitado
Por ser apenas ele mesmo.

Temo a chegada da manhã.
Todas as caras farão caretas.
Como se eu fosse um bufão
Ou simplesmente um pária.

Resta sair com minha vida
E sentar à mesa de um bar.
Se o amigo não aparecer
Conversarei comigo.

Até chegar a nova noite
Serei o único a aceitar
Quem sou e quem vivo
Livre e aberto no mundo.

.........................................
@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 21 de abril de 2011.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

PODEROSOS VIOLENTAM A DIGNIDADE HUMANA


A dignidade do ser humano continua a ser descaradamente violentada. Desde que terminou a Segunda Grande Guerra, com a vitória dos Aliados, ao contrário da verdadeira e transparente justiça ganhar força, o que se nota é um baixo comportamento ético e moral sendo incrementado cada vez mais. As pessoas pobres, as ricas, aquelas sem distinção de raça, etnia, sexo, opção sexual, gênero e culturas diversas estão a ser agredidas e desprezadas pelos que se dizem donos do dinheiro. Pelos poderosos de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial) os quais continuam a repetir os erros do século XX apoiados pelo Império ianque.

A dignidade do ser humano tem de ser respeitada. Mas isso é algo que não se encontra inserido na cartilha de tais poderosos. A Grande Mídia também tem sua parcela de culpa ao não divulgar a verdade dos fatos. Essa verdade está clara. É a dominação por parte de algumas nações ocidentais, visando perpetuar e impor ao mundo suas regras econômicas, fechando os olhos e os tímpanos aos gritos dos povos famintos e dos Estados subdesenvolvidos e endividados. As regras que recebem o apoio ianque pouco estão ligando para o social planetário. Tais regras só estão ligadas à estabilidade cambial e à resolução dos problemas monetários internacionais.

A recente crise econômica mundial empobreceu muitos países. Mas isso é algo que não foge à doutrina do capitalismo: consumo desenfreado, lavagem e corrupção das mentes através desse consumismo, fato que gera alienação e perdição do verdadeiro pensamento social. A atuação capitalista, hoje, está a levar os seres humanos à demência, quando prega uma igualdade inexistente. Só existe igualdade comprovada no seio de Bretton Woods, da Casa Branca e dos aliados ocidentais desse grupo.

Como foi exposto pela minha amiga Marisa Soveral, em texto no seu blog, no tocante à questão de Dominique Strauss-Kahn, o que está ocorrendo, na verdade, é um festival de grandeza e poder das grandes potências. Seguindo a explanação de Marisa,
Dominique Strauss-Kahn foi vítima de uma conspiração construída ao mais alto nível por ter se tornado uma ameaça crescente aos grandes grupos financeiros mundiais. Suas recentes declarações como a necessidade de regular os mercados e as taxas de transações financeiras, assim como uma distribuição mais equitativa da riqueza, assustaram os que manipulam, especulam e mandam na economia mundial. Não vale a pena pronunciar-nos sobre a culpa ou inocência pelo crime sexual de que Dominique Strauss-Kahn é acusado, os média já o lincharam. De qualquer maneira este caso criminal parece demasiado bem orquestrado para ser verdadeiro, as incongruências são muitas e é difícil acreditar nessa história.

Concordamos na íntegra com essas palavras. O que está sendo apresentado é um festival de desprezo aos setores “diferenciados” da humanidade. A existência humana está sendo cruelmente vinculada a uma instituição que determina a morte ou a vida dos Estados. Descobriu-se na derrubada de Dominique Strauss-Kahn (devido a acusações de abuso sexual) que existe toda uma estrutura organizada com o intuito de perpetuar a dominação daqueles que se acham “donos” do mundo. Criadas para salvar a Europa no pós-guerra, as instituições onde esses poderosos se abrigam pretendem estender ainda mais seus tentáculos no planeta em nome da cooperação monetária internacional. O Império ganha em termos construtivistas e propagandísticos.

Ficou provado que desde 1946 tudo está combinado, encaminhado e devidamente dominado. Havendo voz discordante afasta-se esta com alguma ação típica do conservadorismo fundamentalista ianque. Não existe igualdade jurídica na partilha do bolo. Assim é de bom tom reivindicar justiça. Devemos continuar a viver algemados dentro de um modelo econômico defasado? Ora, ora! A China tornou-se a primeira economia mundial. A seu lado vemos o fortalecimento e o crescimento econômico do Brasil, da Rússia, da Índia e da África do Sul. Está na hora de repensar o mundo. Está na hora de repensar o modelo baseado nas ideias oriundas da guerra fria, do medo do comunismo, da crise econômica de 1929 e do desmoronamento da economia européia após a Segunda Guerra Mundial.

Acreditamos firmemente que esta é uma questão ética. Temos de promover mais democracia, mais transparência e credibilidade nessas instituições dominadas pelos capitalistas europeus e ianques. Ao encarnarem Dominique Strauss-Kahn como algo egoísta e individualista ocidental, esbanjando dinheiro em sexo num hotel, vimos a perpetuação das injustiças com o único objetivo de fomentar a indústria da miséria e da pobreza extrema nos Estados periféricos do mundo. O que os capitalistas europeus, ianques e Bretton Woods pretendem é impor aos periféricos um modelo de desenvolvimento inadequado e escravagista, defendendo hipocritamente em altos brados os direitos humanos e a boa governança, enquanto agem de maneira diferente nos bastidores.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A DÚVIDA E A ESTUPIDEZ

Dúvidas existem em todos os espaços da vida e cultura humanas. Podemos nos posicionar como o filósofo Bertrand Russel e sentir de perto sua frase de que “o mal dos tempos de hoje é que os estúpidos vivem cheios de si e os inteligentes cheios de dúvidas". A estupidez, porém, é algo intrínseco até mesmo a quem possui poder de mando neste mundo. Não adianta, no entanto, explorar o fundo do poço para descobrir quem são os estúpidos a comandar as marionetes deste planeta. Sabemos com quem estão os cordéis que sustentam essas marionetes.

Vamos ao que interessa: a Terra já sofreu em toda sua existência, de acordo com os cientistas, cinco grandes extinções das espécies em um distante passado geológico. E estamos, agora, na sexta extinção. Se, nas outras, o causador de tal apocalipse foram a natureza e as suas forças, hoje quem age é o homem. A primeira extinção em massa das espécies ocorreu há 440 milhões de anos; a segunda há 365 milhões de anos; a terceira, a maior de todas - responsável pela extinção de 98% de todas as espécies existentes -, aconteceu há 250 milhões de anos; a quarta há 205 milhões de anos; e a quinta ocorreu há 65 milhões de anos.

A mais famosa extinção em massa das espécies é esta quinta e última, pois ocasionou o desaparecimento dos dinossauros, animais que dominaram o planeta durante 140 milhões de anos. Mas essa extinção, trouxe um fato novo: abriu mão para a ascensão dos mamíferos. Qual espécie sequenciará o novo mundo quando ocorrer a sexta extinção e os mamíferos e humanos desaparecerem da face do planeta futuramente?

Não queremos aqui atordoar e muito menos aterrorizar ninguém. Queremos salientar que a Lei da Evolução Natural possui uma sequência rígida e dentro dela aconteceu um fenômeno especifico, qual seja a origem do homem na Terra, mais exatamente, logo após a quinta extinção. O ser humano busca então dirimir suas dúvidas em estudos científicos aprofundados, mas ao seu lado corre outra teoria que busca contradizer tudo que diga respeito a tais fatos científicos relacionados ao evolucionismo.

O bispo anglicano Armagh Usher, no final do século XVII foi o vetor maior de um pensamento anticientifico, baseado em preceitos da teologia judaico-cristã. Tal bispo resolveu assinalar peremptoriamente, baseando-se em textos bíblicos, que o mundo tinha sido criado no ano 4004 aC, juntamente com todas as espécies que hoje existem. Isso, se pensarmos de forma lógica e cientifica, é uma teoria aberrante, pois nada prova em termos lógicos a criação de tal data e como já vimos quantos e quantos milhões de anos separam o homem de todas as criações anteriores, essa idéia criacionista não tem sentido.

Pelo evolucionismo, teoria adotada pela ciência, sabemos que o universo surgiu há mais ou menos 13 bilhões de anos, e que a vida em nosso planeta, com suas formas mais primitivas de organismos unicelulares, apareceu há 3.5 bilhões de anos, aproximadamente. E com as extinções em massa, foram sendo moldadas as espécies, através de grandes transformações. Hoje temos cerca de 30 milhões de espécies de seres vivos, mas, até o momento em que escrevo esse texto, apenas 1.5 milhão de espécies foram cientificamente descritas. Temos mesmo que ficar impressionados com isso. Pois, esses 30 milhões de espécies atualmente existentes são apenas 0.1% das espécies que existiram na Terra. Isto significa que 99.9% de todas as espécies que habitaram o globo desapareceram!

Baseada nos textos bíblicos e dando apoio ao criacionismo radical está a fé religiosa. Passa por cima da lógica e das evidências cosmológicas, geológicas, arqueológicas e antropológicas e nega a verdade científica. Essa negação por parte das mais diversas seitas e religiões envolve a recusa em aceitar o conteúdo básico de boa parte das ciências naturais, principalmente aquelas que descrevem a história do planeta e o surgimento da vida. Na realidade, e é bom trazer isso à baila, os números fixados pelos textos religiosos quanto à origem das espécies e do homem em particular, são falácias, quando cotejados com os números científicos.

O fato é que nestes tempos a estupidez humana continua presente. Muitas escolas e muitas igrejas e seitas continuam a incutir essas idéias insanas na mente de nossas crianças e dos que buscam acabar com suas dúvidas, quando o mais certo é acatar e enfatizar o quadro da evolução biológica da transformação das espécies (por geração de variedade e seleção por aptidão à sobrevivência) inaugurada por Charles Darwin. Ainda que tal idéia apresente alguns pontos obscuros ou ainda não totalmente absorvidos pela teoria da evolução, é a mais aceita em suas linhas gerais pelos cientistas.

O perigo reside quando uma falácia começa a ser divulgada como verdade insofismável sem nenhuma evidência científica. No ano de 1972 foi fundado nos EUA o Creation Research, instituição privada não lucrativa cujo objetivo é publicar literatura criacionista e fazer campanha nas escolas públicas a favor das interpretações bíblicas sobre a origem do homem. Este movimento está ligado a grupos religiosos e situa-se politicamente entre os mais conservadores. Na realidade, se pensarmos coerentemente, o criacionismo não deve merecer de nossa parte nada mais do que uma breve menção. Suas idéias não são capazes de abalar o edifício das crenças científicas e das evidências a favor do evolucionismo.

Mas ainda assim fazemos nosso alerta. É necessário ficar de olhos e ouvidos atentos para o que as escolas ensinam às crianças de nossa época. Voltar à Idade das Trevas com as obtusas idéias de um universo nascido apenas há 4004 anos aC será o mesmo que retroceder a um neolítico e a um primitivismo do qual nos afastamos ao naturalizar o homem e fazer com que ele se tornasse parte real de um processo amplo e global.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

SOLIDÃO

Está deitada ao meu lado
Sorridente
Vestida de nada
Minha solidão.

Decifrá-la é a charada
Anda nua na estrada
No meio da multidão
Ela é demente.

Descubro o imanente
Ser solitário é doer
Mas é estar presente
No viver.

E a solidão vive
E abalroa minha história
E nem existe glória
De ausência.

Fecho a porta do quarto.
E ela grita: - Não tardo!
Irei no sonho comentar
O nosso fardo.

Loucura!
Não posso nem fugir!
Basta sentir
O só que não tem cura.

Minha solidão
Habita a solidão
Criada na razão
Desta canção.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 15 de abril de 2011.

REPAROS

Mergulhado no mais recôndito da memória
Sinto a minha largura toda neste mundo
E o espelho da parede conta uma história
Sem rumo e sem fundo.

E sem futuro
Pois nesse reparo de ver a humanidade
Do tanto que já tive de ver em cima do muro
Detesto alarde.

O mundo anda pelo avesso?
Ou será que são as cruzes
Criadas para dar-nos um peso
De fé no deus da morte e nos obuses?

Nessa finitude de estar e ser
Minha largura no mundo é a vida.
E nos olhos da amada posso ver
A ilusão perdida.

E sem outra lida
Sentar-me-ei numa mesa de bar.
Nada melhor que um chope gelado e uma batida
Antes de me deteriorar.

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@ Copyright by Rafael Rocha Neto – Recife, 15 de abril de 2011.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

IMPERIALISMO DESTRÓI SONHO REVOLUCIONÁRIO

Neste século 21 será que as pessoas ainda sonham? Os mais velhos ainda têm lembranças boas de quando eram jovens das décadas de 50, 60 e 70 do século passado e lutavam para transformar o mundo. A época era da Revolução de Fidel e de Che Guevara, época dos festivais de música, do tropicalismo, do cinema de Glauber Rocha. Época dos Beatles, do John Lennon e sua Imagine.

E hoje? Com o que os jovens de hoje sonham? A geração dessas décadas acima discriminadas tinha muita coisa pela qual lutar. Lutou! Conseguiu mudanças. Se ela perdeu ou venceu, não importa. Possuía ideais amplos e convergentes. Conseguiu em sua luta transformar os arcaicos costumes sociais. Liberar a mulher para exercer vida própria. Disse não a uma ditadura cruel e desumana. Alimentou a cultura mundial com novos ícones, novas leituras, novos rumos.

Não existia celular. Não existiam shopping centers. Não existiam seitas religiosas universais que fanatizassem a mente do homem e comercializassem o nome do divino para encher de dinheiro os bolsos dos pregadores. Mas o neoliberalismo e a globalização chegaram e imediatamente acabaram com os sonhos. Os jovens de hoje sonham, é claro. Mas sonham com riqueza, beleza, poder. Sonham consumir produtos caros. A palavra solidariedade desapareceu da linguagem da juventude atual.

Esses jovens de hoje são filhos de pais de uma época revolucionária, muitos deles filhos e netos de revolucionários. Mas seus sonhos foram roubados. Como eles irão sentir nostalgia no futuro? Seus pais sentem saudades das lutas ideológicas, dos filmes e das músicas legendárias. Os filhos irão sentir saudades daquele primeiro celular comprado numa lojinha de esquina! Os filhos, hoje, estão vivendo de uma forma tão liberal que os pais não mais conseguem acompanhá-los. Mas essa onda liberal não vem da luta, mas da mercantilização da vida.

O maior sonho de luta da geração dos anos 60 foi o socialismo. Nós, cinqüentões e sessentões de hoje sonhávamos uma sociedade livre da fome, da guerra, da exploração, da discriminação e da marginalização. Era nosso sonho de consumo. Queríamos transformar o mundo e não fazer como os fundamentalistas das religiões de hoje que só pretendem impor suas crenças a ferro e fogo. A geração dos anos 60 tinha como premissa criar uma sociedade nova. A derrubada e destruição dos governos capitalistas opressores. Jamais pensava na hegemonização religiosa ou na morte para se tornar mártir.

O capitalismo continua a ser um sistema perverso. Abusa do homem e da raça humana. Desencultura o homem ao globalizá-lo e escravizá-lo como um bicho qualquer, com o objetivo de trazer benesses a uns 100 ou pouco mais homens que se dizem donos (ou pensam que são) do planeta. Nossos sonhos transformaram-se em pó. O socialismo esperado transformou-se em ditadura de partido único e os crimes contra a raça se multiplicaram. Como bem disse o humanista Hesíodo, poeta do século IX a.C., em seu famoso texto “Os Trabalhos e os Dias”:
“Os contraventores saquearão as cidades uns dos outros e o poder fará a lei e o pudor desaparecer.”

Os sonhos continuam sendo roubados? Infelizmente não existem mais sonhos. Existem mercadorias nas prateleiras. Uma mercantilização da vida que leva a violência para as ruas e para a instituição familiar. Existe o imperialismo político das grandes nações. O mundo hoje é um grande Big Brother. O Grande Irmão de George Orwell abre os braços para acolher os antissonhos, e prega a guerra e a destruição célere do planeta Terra. E propaga aos quatro cantos do mundo o dogma capitalista de que “fora do mercado não há salvação”.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A MENTIRA VESTIU FARDA EM 1º DE ABRIL DE 1964

O Dia da Mentira surgiu na França em razão da mudança na data da festa de Ano Novo, que antes era comemorada no dia 25 de março e, tendo a duração de uma semana, terminava no dia 1º de abril. Após a implantação do calendário gregoriano, o rei Carlos IX escolheu o dia 1º de janeiro para ser o início do ano. Porém, muitas pessoas não gostaram da mudança e continuaram fazendo suas festas na data antiga. Naquela época, as notícias demoravam muito para chegar às pessoas, fato que atrapalhou demais a mudança. Portanto, elas passaram a fazer brincadeiras e gozações com aquelas consideradas conservadoras, enviando-lhes presentes estranhos ou convites para festas que não ocorreriam.

Assim, a data passou a ser duvidosa, pois os resistentes nunca sabiam se tais convites eram verdadeiros ou não. Duzentos anos mais tarde essas brincadeiras se espalharam por todo o mundo, ficando a data mais conhecida como o Dia da Mentira. Na França seu nome é
"poisson d'avril" e na Itália esse dia é conhecido como "pesce d'aprile", ambos significando peixe de abril. Pernambuco foi o primeiro Estado do Brasil a adotar a brincadeira, quando da circulação de um jornal chamado "A Mentira", em 1º de abril de 1848, tendo como notícia o falecimento de D. Pedro II. A notícia, como se sabe, foi desmentida no dia seguinte.

É assim que vemos o quanto a mentira é uma coisa bastante velha na política nacional. No fim de tudo, ela foi definitivamente incorporada ao nosso calendário, não devido à brincadeira feita pelo jornal
"A Mentira" em 1848, mas em época muito mais recente. O Dia da Mentira sempre foi seguido no país como algo para se brincar uns com outros tal e qual se fazia em todas as partes do mundo, até que no dia 1º de abril de 1964 homens fardados unidos a determinados setores civis e a corporações capitalistas estrangeiras institucionalizaram a data.

E é este dia que pretendemos lembrar aqui. A data negra da história brasileira forjada nos quartéis e por civis locupletados com o capitalismo internacional e com o imperialismo ianque. Esta é uma data que jamais deve ser esquecida. É uma data verdadeira onde aconteceu algo horrendamente verdadeiro, criado por pessoas verdadeiras que levaram a nação brasileira durante mais de 20 anos a ver seus patriotas, jovens e velhos, homens e mulheres, serem perseguidos, assassinados, torturados e vigiados pelos usurpadores do poder democrático. A mentira era o que eles pregavam. Mentiam quando diziam defender os ideais democráticos. Falsearam até a data do golpe, repuxando-a para o 31 de Março no intuito de iludir a população.

O Primeiro de Abril de 1964 não pode ser lembrado como uma data para ser devidamente esquecida. Os problemas que estamos a sofrer na pele, hoje, tais como a violência, saúde sucateada, educação estrangulada e outros, têm ligação direta com o golpe militar que extinguiu a nossa engatinhante democracia da época, e com os 21 anos da ditadura dos homens fardados que prenderam, arrebentaram, mataram e torturaram. E enquanto torturavam e assassinavam os idealistas, apenas porque estes sonhavam com um país democrático, os títeres civis e os castrenses buscavam agradar às corporações estrangeiras, estas sim as grandes beneficiadas com o golpe.

A sociedade brasileira foi enganada durante anos pelos militares e civis golpistas. Eles falseavam tudo, fingiam e divulgavam que nada estava acontecendo de ruim no país e para isso tiveram a mídia como cúmplice. Tal mídia, quando não se calava por conta própria ou ficava ao lado dos títeres, era calada pela censura. Se hoje vivemos em um país mais democrático, o mérito todo é daqueles que lutaram pela legalidade, muitos sendo assassinados, torturados e perseguidos nos anos de chumbo iniciados em 1º de abril de 1964. Portanto, essa história nunca deve ser esquecida. Temos de repassá-la para nossos filhos e estes para nossos netos. Eles devem saber de tudo para que tal fato não mais se repita e para que possamos construir nossa história futura conhecendo bem o nosso passado.

Não custa nada, para finalizar, citar aqui a frase dita por Hannah Arendt:
"Não há esperança de sobrevivência humana sem homens dispostos a dizer o que acontece..."

segunda-feira, 28 de março de 2011

ZOMBARIA

Um deus ameaçador e assassino
Cria um destino para a criatura:
Se a raça humana tiver o desatino
De nele descrer é uma raça impura.

Ele diz: “Sou uno, sou o verdadeiro!
Dos mil deuses do mundo sou o real”.
Mata o filho na cruz como o primeiro
Torturado à verdade de seu mal.

Para o homem cria paraíso e inferno
Diz: “As ruindades da vida são tua culpa!”
Tal grande deus sempre tem desculpa.

Mata inocentes! Proclama sua bondade!
Cria castigos e decreta a insanidade
E ri e zomba! Este é nosso pai eterno!

segunda-feira, 21 de março de 2011

IMPERIALISMO ENTRA EM AÇÃO NA LÍBIA

Transparente como água os últimos acontecimentos do Oriente Médio. Não há necessidade de ficarmos estupefatos. O monstro do imperialismo continua a agir. Os media faltam com a verdade. O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas atua como era de se esperar, com a defesa máxima do império ianque e de seus apaniguados. Ao aprovar a criação de uma zona de exclusão aérea e medidas outras de força, a ONU mostra sua verdadeira cara. Ela apóia o ataque dos imperialistas para derrotar a revolução dos povos árabes. Simplesmente isso!

Jamais, em tempo algum, a ONU foi um exemplo de organismo neutro. Jamais, em tempo algum, a ONU defendeu os direitos humanos no mundo. A ONU, na realidade, representa os interesses imperialistas dos ianques e da Europa. Para mexer com as nossas lembranças não custa nada que recordemos as intervenções ocorridas no Afeganistão, no Iraque, no Haiti, na Iugoslávia etc.

A bola da vez agora é a Líbia. Exatamente quando a revolução popular dos povos árabes entra em erupção, os imperialistas ianques e europeus entram em ação para enterrá-la de uma vez por todas. Tudo com a desculpa de que o povo líbio deve ser protegido do massacre que o ditador Muammar Khadafi pretende realizar. Tudo mentira. Sim, mentira, porque Khadafi era até há pouco tempo aliado do imperialismo, bem como outros ditadores do mundo árabe. Que tal incluir nesse compêndio os da Arábia Saudita, Bahrein ou Emirados Árabes Unidos, sem esquecer os recentemente derrubados Mubarak, do Egito, e Ben Ali, da Tunísia?

O interesse do imperialismo na Líbia não é difícil de descobrir. Ora, a Líbia é somente o terceiro maior produtor de petróleo da África, dirão os especialistas em História. Mas eles esquecem que a Líbia possui as maiores reservas do continente em matéria de petróleo. Assinalemos: 44,3 bilhões de barris. A Líbia é um país com potencial para dar enormes lucros às gigantescas companhias petrolíferas. É assim que os imperialistas encaram este país. É o petróleo que está por trás da apregoada preocupação com os direitos democráticos do povo líbio.

Os barões do petróleo - ligado aos ianques - não pretendem obter concessões de Khadafi. Isso é pouco para eles. Eles querem apenas e apenas e apenas um governo sob a dominação total deles. O baronato do petróleo jamais esqueceu que Khadafi derrubou a monarquia e nacionalizou o petróleo líbio. Vale lembrar, também, a reflexão do camarada Fidel, quando salientou em sua coluna
Reflexõeso apetite do imperialismo por petróleo e advertiu que os ianques estavam a lançar as bases para a intervenção militar na Líbia.

A revolução árabe é uma coisa. A intervenção imperialista é outra. Antes da data de hoje os métodos policiais utilizados pelos regimes ditatoriais do Oriente Médio, entre os quais o chefiado por Khadafi, nunca despertaram qualquer reparo por parte dos governos imperialistas. Pelo contrário, eram úteis no sentido de defenderem os seus interesses na região. Esta é a mesma lógica que permite ao imperialismo ianque apoiar o estado fascista de Israel, inclusive o bombardeamento de Gaza em 2009, quando morreram centenas de civis.

Os humanistas e os progressistas têm simpatia com a revolução árabe. Todos desejam que os povos árabes alcancem suas liberdades e enterrem para sempre as ditaduras em que viveram, junto com seus títeres. Mas rejeitam a intervenção imperialista, seja qual for a forma que ela assuma. A intervenção imperialista na Líbia é inaceitável. O povo da Líbia e o povo árabe é quem deve decidir seus futuros.